52510 - O CAPITAL SOCIAL IMPULSIONA A FELICIDADE SUBJETIVA EM PACIENTES DE SAÚDE MENTAL? UM ESTUDO DE CAMPO EM FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL ALESSANDRO TOSO - UNIVERSITÀ DEGLI STUDI DI SIENA
Apresentação/Introdução A felicidade subjetiva é uma componente da saúde individual e social que não depende apenas do acesso aos recursos econômicos e materiais, mas da possibilidade de construir e beneficiar das redes sociais presentes numa comunidade. O conceito de felicidade refere-se ao estado emocional de longo prazo de um indivíduo e ao bem-estar subjetivo moldado pela satisfação com a vida, frequência e grau de afeto positivo e relativa ausência de afeto negativo.1 Assim, a felicidade não é resultado apenas de motivações extrínsecas (dinheiro, sucesso e consumo), mas também motivações intrínsecas (amizade, solidariedade e sentido cívico).2 Estas são definidas pelo conceito de capital social relacionado a uma esfera individual como relações sociais diárias ou como redes socais estabelecidas entre os membros de uma comunidade.3 Desta forma, o capital social reúne as características da organização social, como redes, normas, relações e confiança das quais os indivíduos e a comunidade podem se beneficiar.4 Um outro componente do bem-estar subjetivo é a saúde mental que influencia escolhas, comportamentos e resultados individuais e coletivos que, para além das doenças ou enfermidades especificas, relacionam-se com fatores individuais, psicológicos, biológicos, socioeconômicos e ambientais, influenciados pelo bem-estar físico, mental e social.5
Objetivos O objetivo geral é explorar a associação entre capital social e felicidade subjetiva entre pacientes de saúde mental para definir propostas de políticas públicas de inclusão social. Tem-se como objetivo específico compreender se e de que forma o capital social definido como inclusão social, amizades, participação social, voluntariado e confiança nas instituições afeta a felicidade subjetiva, entendida qualidade de vida, de indivíduos atendidos como pacientes pelas unidades brasileiras de saúde mental.
Metodologia Trata-se de um estudo de campo foi realizado entre janeiro e abril de 2023 no bairro Bom Jardim, em Fortaleza. Foram coletados 501 questionários padronizados válidos graças à colaboração do Movimento de Saúde Mental (MSM) e do CAPS Geral – Regional V. Foram entrevistados aleatoriamente 207 pacientes do CAPS, 134 pacientes do MSM e 160 não pacientes como grupo de controle (SEM) cuja classificação baseou-se no tipo de tratamento terapêutico, a saber: 1) Grupo CAPS: indivíduos em tratamento farmacológico para doenças mentais; 2) Grupo MSM: indivíduos com apenas tratamento psicológico, sem tratamento farmacológico; 3) Grupo SEM: sem tratamento psicológico, nem tratamento farmacológico. Como variáveis independentes foram utilizadas variáveis categóricas (inclusão social, amizades, participação social e atividades voluntárias) e variáveis contínuas (autoavaliação de saúde mental e confiança nas instruções). Como variável dependente foi usada uma variável categórica binária e ordinal (felicidade subjetiva). Para estudar o impacto do capital social, foi utilizado o modelo de regressão logística (Logit) e de regressão logística ordenada para resultados mais robustos.
Resultados e Discussão Vários resultados significativos emergiram dos dois modelos logísticos para as variáveis relativas à saúde mental e ao capital social. A saúde mental é o indicador que mais influencia negativamente a felicidade subjetiva nos três grupos, especialmente para grupos MSM e CAPS. Para as pessoas que se sentem socialmente incluídas, a probabilidade de serem mais felizes é de 1.68 vezes para os CAPS e de 2.95 vezes para os MSM do que as pessoas que não se sentem socialmente incluídas. A sensação de se sentir socialmente aceitados e integrados numa comunidade tem um efeito positivo na satisfação de vida dos indivíduos com transtornos mentais, mesmo em contextos socialmente estigmatizados na qual pessoas com sofrimento mental grave ou leve podem ser um fator de exclusão e marginalização. Os indivíduos do grupo MSM que participam de atividades voluntárias são 3.99 vezes mais felizes do que aqueles que não participam. A presença e a possibilidade de participar de atividades voluntárias no próprio bairro podem tornar os indivíduos atores diretos ou indiretos valorizados nos processos de melhoria e mudança do bairro onde moram. No caso da confiança nas instituições, a regressão logística dá resultados positivos para CAPS e MSM. Para o aumento da unidade na confiança nas instituições, as chances de ser feliz aumentam 2.46 vezes para os CAPS e 3.91 vezes para os MSM. Ter confiança nas instituições pode explicar um nível aceitável de proximidade do sistema institucional às necessidades e interesses dos indivíduos. A confiança pode influenciar a credibilidade em tais instituições, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade. No grupo SEM destaca-se apenas o impacto positivo das relações de amizade, aliás, quem tem amigos é 2.5 vezes mais feliz do que quem não tem amigos.
Conclusões/Considerações finais A qualidade de vida, medida através da felicidade, também dos indivíduos com transtornos mentais é influenciada por fatores como a inclusão e aceitação social, a valorização das competências e experiências pessoais e a relação de confiança entre órgãos de poder e comunidades. Por isso, é possível propor projetos sociais que visem o fortalecimento de atividades dedicadas à sociedade civil, promovendo valores que objetivem o encontro entre os doentes/pacientes e a comunidade/sociedade, potencializando as capacidades dos indivíduos com transtornos mentais de modo a torná-los cidadãos ativos e mais independentes. A criação de políticas públicas de assistência para estas categorias não pode limitar-se à distribuição de subsídios, terapias farmacológicas ou a criação de unidades de saúde, que, embora fundamentais para garantir uma cobertura de saúde ótima a curto prazo, podem não ser suficientes para garantir condições de vida satisfatórias a longo prazo.
Referências 1. Argyle, M., Martin, M., & Crossland, J. (1989). Happiness as a Function of Personality and Social Encounters. In J. P. Forgas, & J. M. Innes (Eds.), Recent Advances in Social Psychology: An International Perspective (pp. 189-247). North-Holland: Elsevier Science Publishers B.V.
2. Bartolini S., (2011), “Manifesto for Happiness. Shifting Society from Money to Well-Being. ”, in LES CAHIERS DU CEPS/INSTEAD, N° 2011-04.
3. Claridge T., (2018), “Explanation of the different levels of social capital: individual or collective”, in Social Capital Research.
4. Putnam R., (1994), “Social Capital and Public Affairs”, in Bulletin of the American Academy of Arts and Sciences, vol. 47, n. 8.
5. WHO, 2022, World mental health report: Transforming mental health for all, Geneva, Swizerland.
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