Roda de Conversa

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
RC2.4 - Acesso à saúde das pessoas idosas

51110 - ATENÇÃO AO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO NA POPULAÇÃO IDOSA NA CIDADE DE FORTALEZA- CE: O CUIDADO INFORMAL EM CENA
GABRIELA HOLANDA VIEIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, FRANCISCO DANIEL COELHO VIANA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, ELIZANDRA PEREIRA PINHEIRO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, MARCO TÚLIO AGUIAR MOURÃO RIBEIRO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ


Apresentação/Introdução
O envelhecimento populacional assistido no Brasil é heterogêneo e atravessado por diversos marcadores sociais. Dentre as comorbidades que acometem a população idosa, o câncer destaca-se como uma importante questão de saúde pública em razão dos seus impactos multidimensionais. Compreendendo que as fragilidades decorrentes do processo de envelhecimento e do adoecimento conduzem à necessidade da pessoa idosa em depender de cuidados prestados por terceiros, especialmente os cuidadores informais, torna-se imperativo a construção de pesquisas que considerem as especificidades destes grupos.


Objetivos
O presente trabalho tem como objetivo descrever a organização do cuidado informal realizado por familiares e cuidadores a mulheres idosas com câncer de colo de útero a partir da pesquisa que subsidiou o Trabalho de Conclusão de Residência em Cancerologia pela Escola de Saúde Pública do Ceará. Dessa forma, buscaremos elucidar a organização do cuidado informal realizado por familiares e cuidadores a mulheres idosas com câncer de colo de útero.


Metodologia
Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, ancorado no método hermenêutico dialético proposto por Minayo (1992), desenvolvido no âmbito da Residência em Cancerologia da Escola de Saúde Pública do Ceará no Centro Regional Integrado de Oncologia (CRIO), no período de maio à agosto de 2023. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com seis mulheres idosas, destas, quatro estavam acompanhadas por familiares e/ou cuidadores no momento da entrevista. Foram incluídas no estudo mulheres a partir de 60 anos de idade em tratamento de Braquiterapia no período supracitado. Foram excluídas mulheres que não tinham ciência do diagnóstico e/ou que não desejassem participar da pesquisa. Sinalizamos que a presente pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola de Saúde Pública, sendo aprovada sob o número de parecer (CAAE: 68253423.90000.5037). Recorremos à utilização de nomes fictícios a fim de garantir o anonimato das participantes.

Resultados e Discussão
No Brasil, paralelo ao processo de feminização da velhice, decorrente da alta taxa de mortalidade masculina em todas as faixas etárias (Ceccon et al, 2021), observa-se a reestruturação do cuidado no âmbito das estruturas familiares. O trabalho das mulheres fora do domicílio, a queda na taxa de natalidade e fecundidade, dentre outros, corroboram para a transição da estruturação do cuidado e das relações familiares para com a pessoa idosa (Minayo, 2019).
É fato que, historicamente, o ato de cuidar é essencialmente feminino. Observamos que, embora em processos de adoecimento, incube as mulheres idosas os cuidados com os filhos, com os cônjuges e com os netos (Camarano, 2010). Sinaliza Lélia (61) “eu sou do lar, o tempo todo cuidando dos meus filhos, do meu esposo… quando eu operei eles me ajudaram, mas você sabe como é né, todo mundo trabalha.” Complementa Carolina (65) “eu moro só com meu esposo e meu neto que ainda é criança, mesmo doente eu preciso cuidar deles. Minha filha trabalha fora.”
Nesse ínterim, observamos ainda a existência de pessoas idosas que cuidam de outras pessoas idosas, onde a família nuclear cede espaço para as familiares intergeracionais, aumentando a sobrecarga especialmente das mulheres (Minayo, 2019). Djamila (67) sinaliza “é ela, a minha irmã, que cuida de mim. Ela vai fazer 68 anos, quando descobri que estava com essa doença, fui morar com ela.”
Por fim, destacamos que o papel do Estado no que toca aos cuidados da pessoa idosa é residual, onde a família se torna a principal provedora de cuidado (Camarano, 2010), conforme pontua Chimamanda (77) “às vezes a mulher do meu sobrinho ajuda ela (minha filha...)Estamos tendo muitos gastos, é 30 reais de onde a gente mora até aqui. Todo dia.”

Conclusões/Considerações finais
O cuidado informal realizado por familiares e cuidadores de idosas com câncer de colo de útero apresenta diversas facetas permeadas pelo contexto socioeconômico e de determinantes sociais em saúde. Destaca-se que o papel de cuidado tem fortes impressões dos papéis de gênero, onde a intersecção de gênero, classe e raça revela vulnerabilidades diversas.
Este trabalho possibilitou compreender que a maior parte das cuidadoras formais são mulheres, que se encontram sobrecarregadas em suas funções, do lar ou trabalho, e acabam acumulando outras atribuições. Desta forma, é necessário que as equipes de saúde tenham um olhar específico para estas, que muitas vezes são negligenciadas do ponto de vista de atenção à saúde e que precisam ser cuidadas. Ainda é importante destacar que é necessário a implementação de políticas públicas específicas para pacientes oncológicos, bem como para os seus cuidadores.


Referências
CAMARANO, Ana Amélia. Cuidados de longa duração para a população idosa: um novo risco social a ser assumido?. Rio de Janeiro: Ipea, 2010.
CECCON, Roger Flores et al. Envelhecimento e dependência no Brasil: características sociodemográficas e assistenciais de idosos e cuidadores. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17-26, 2021.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O imperativo de cuidar da pessoa idosa dependente. Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, p. 247-252, 2019.

Fonte(s) de financiamento: Não possui financiamento.


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