50810 - INVESTIGANDO OS SABERES E PRÁTICAS DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA E LGBTQIAPN+ E SUA RELAÇÃO COM OS SERVIÇOS DE SAÚDE E ASSISTÊNCIA SOCIAL ALZIRA DE OLIVEIRA JORGE - UFMG, MÔNICA GARCIA PONTES - UFMG, CARLOS INÁCIO ANDRADE - SMS DE BELO HORIZONTE, ROSELI DA COSTA OLIVEIRA - UFRJ, LEONARDO TORRES VASCONCELOS - HOSPITAL RISOLETA NEVES/UFMG, MARIA DA AJUDA LUIZ DOS SANTOS - FUNDACENTRO MG, KENIA LARA DA SILVA - UFMG
Apresentação/Introdução O Observatório de Políticas e Cuidado em Saúde da UFMG está inserido em uma rede nacional de observatórios. Fundado em 2015, o Observatório MG realiza pesquisas sobre os efeitos das políticas de saúde tanto nos seus aspectos macro como micropolíticos e como o cuidado em saúde impacta a vida das pessoas, sejam usuários, trabalhadores ou gestores. O coletivo é composto por estudantes, professores, trabalhadores, gestores e usuários do SUS. Um dos desafios no Observatório é produzir formação e educação permanente considerando que todos podem se constituir em pesquisadores, inclusive os usuários, na medida em que são desenhados os percursos metodológicos dos estudos nos quais estão inseridos. As investigações atuais envolvem saberes e práticas de cuidado produzidos por grupos em situações de vulnerabilidade, como em situação de rua e LGBTQIAPN+. As equipes de saúde e os usuários são guias neste processo investigativo. Parte-se da premissa de que populações marginalizadas, com acesso restrito aos serviços, possuem saberes próprios e exercitam o cuidado nos territórios de vida, para além do SUS. É importante para os serviços entender as complexidades quanto às subjetividades dos atores envolvidos no processo. A pesquisa, ao produzir interferências nos territórios de vida e nas instituições e coletivos, coloca em perspectiva saberes e conhecimentos férteis acerca do cuidado em saúde.
Objetivos Geral
Experimentar novas estratégias metodológicas para análise de políticas de saúde e outras políticas a partir dos encontros no campo da pesquisa com pessoas em situação de vulnerabilidade.
Específicos:
- Analisar o acesso e barreiras de cuidado no SUS e assistência social para pessoas em situação de rua e LGBTQIAPN+;
- Mapear, por meio de usuários-guia, redes formais e informais de cuidado em saúde;
- Analisar os saberes e práticas em saúde destes grupos nas instituições e para além delas.
Metodologia Trata-se de uma abordagem qualitativa do tipo interferência que possibilita a criação de práticas e saberes como efeito dos encontros ao longo da pesquisa (MOEBUS, 2016). Nesse percurso, todos são considerados pesquisadores, pois exercitam a produção de um conhecimento implicado e que se mistura com a própria vida. Usuários, trabalhadores, e pesquisadores formais são, por isso, denominados “pesquisadores in mundo” (ABRAHÃO et al, 2016). Nessa trilha, os saberes contemporâneos são colocados em perspectiva e são acionadas ferramentas que propiciam a produção de novos olhares diante das práticas sociais. Os usuários são considerados guias, os quais orientam os percursos da pesquisa e colocam em questão, a partir de suas trajetórias e redes de relações, as formas de cuidado e de produção de saúde. Importa a construção do percurso vivenciado durante a pesquisa, acompanhado dos efeitos produzidos nos pesquisadores. A escrita cartográfica com registro em diário de campo das afetações proporcionadas pela pesquisa, constitui, além das trajetórias de vida dos usuários-guia e das suas redes de conexões existenciais, fontes importantes para análise.
Resultados e Discussão Os encontros produzidos entre os pesquisadores do Observatório/MG e desses com vários pesquisadores da rede nacional, demarcam um convite a um deslocamento de si e da realidade percebida. As trajetórias de investigação e análise são compartilhadas entre os coletivos e, inclusive, há apoio matricial entre eles. São consideradas as experiências singulares - como as vivenciadas no Observatório MG com situações de mães com trajetória de vida nas ruas que perderam seus filhos para o Estado - e as transversalidades das temáticas que perpassam os sistemas de opressão e movimentos de resistência. No Observatório MG, as vivências dos pesquisadores, inclusive como trabalhadores nos próprios campos de investigação, têm valorizado as redes de cuidado com produção de práticas mais acolhedoras e cuidadoras. Cada encontro compõe um estímulo a uma nova inscrição no percurso da pesquisa e do trabalho. Nessa trilha, são pensadas as caixas de ferramentas que guiam os pesquisadores durante os processos investigativos. Há uma busca por transformações dos próprios pesquisadores que, então, transbordam, nas análises produzidas. No que tange às investigações relativas à produção de saberes, práticas de cuidado, acessos e barreiras de/sobre pessoas em situação de rua e LGBTQIAPN+ e suas relações com serviços de atenção básica, saúde mental, assistência social e instituições formadoras, foram reconhecidas como categorias que dialogam com a pesquisa: a vinculação ético-política da não-violência como uma crítica à narrativa individualista neoliberal (BUTLER, 2021), o feminismo negro como modo de desarticulação do colonialismo e a interseccionalidade como uma leitura da intercessão dos sistemas de opressão (AKOTIRENE, 2019). Os resultados dessa pesquisa têm previsão de serem publicados a partir de 2025.
Conclusões/Considerações finais Compartilhar experiências diversas de pesquisa, de trabalho no SUS e de vida mobilizam nossas subjetividades e forças coletivas que impulsionam nosso trabalho. O Observatório MG tem contribuído para a formação de pesquisadores implicados com as vidas nas suas mais diversas manifestações. Concepções hegemônicas, fragmentadas, vão sendo desarticuladas e o comum em nós, enquanto humanos, vai ganhando espaço de criação, transformando o cotidiano do SUS, da assistência social, das vidas nos territórios. As interações em campo possibilitam entender o contexto dos sujeitos nas suas trajetórias e, a partir das conexões estabelecidas, nos permite compreender melhor suas necessidades de cuidado em saúde. Os pesquisadores in mundo, “encardidos de mundo", se afetam com o campo, com os movimentos que ampliam seu olhar, com o olhar do outro e, mobilizados, conduzem mudanças de si que permitem a produção de uma pesquisa implicada que modifica existências num processo de educação permanente cotidiana.
Referências ABRAHÃO, A.L.; MERHY, E.E.; GOMES, M.P.C.; TALLEMBERG, C.; CHAGAS, M.S.; ROCHA, M.; SANTOS, N.L.P.; SILVA, E.; VIANNA, L. O pesquisador in mundo e o processo de produção de outras formas de investigação em saúde. In: Merhy E.E.; Baduy R.S.; Seixas C.T.; Almeida D.E.S.; Slomp Junior H. Avaliação compartilhada do cuidado em saúde: surpreendendo o instituído nas redes. Políticas e Cuidados em Saúde, livro 1, p.22-30. 2016.
AKOTIRENE, K. Interseccionalidade. São Paulo: Polén, 2019.
BUTLER, J. A Força da não violência. São Paulo: Boitempo, 2021, 166 pp.
MOEBUS, R. A pesquisa interferência desde Heisenberg. In: Merhy E.E.; Baduy R.S.; Seixas C.T.; Almeida D.E.S.; Slomp Junior H. Avaliação compartilhada do cuidado em saúde: surpreendendo o instituído nas redes. Políticas e Cuidados em Saúde, livro 1, p.420-422. 2016.
Fonte(s) de financiamento: CNPQ
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