04/11/2024 - 13:30 - 15:00 RC2.2 - Povos Indígenas, Quilombolas e Comunidades Tradicionais |
51587 - PERCEPÇÕES DE TRABALHADORES DA SAÚDE SOBRE AS CONDIÇÕES DE SAÚDE DE COMUNIDADE QUILOMBOLA ARIANE GOMES DA SILVA - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA/UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, MARILUCE KARLA BOMFIM DE SOUZA - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA/UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, YARA OYRAM RAMOS LIMA - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA/UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Apresentação/Introdução
O surgimento das comunidades quilombolas remonta ao século XVI, quando grupos majoritariamente compostos por pessoas negras se reuniam em locais conhecidos como "quilombos", comunidades com cultura própria e forte vínculo com a terra (Pereira e Magalhães, 2023). Esforços legais, como programas e portarias, a fim de garantir a melhoria da saúde nas comunidades foram elaborados, e em 2009, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) consolidou ações para garantir e ampliar o acesso aos serviços de saúde para essas comunidades. Apesar dos esforços, as comunidades quilombolas ainda enfrentam desafios significativos. A maioria das famílias quilombolas vive em extrema pobreza e depende de programas de assistência social, segundo pesquisa da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SNPIR) em 2012 (Araújo et. al, 2020). Essas desigualdades sociais impactam nas condições de vida e acesso à saúde, destacando a necessidade de efetivação de políticas que considerem os determinantes sociais da saúde. Assim, diante da relevância de compreender as condições de saúde da comunidade quilombola, este estudo foi concebido com o intuito de destacar a importância de discutir essa temática.
Objetivos
Identificar as percepções de trabalhadores de saúde a respeito das condições de saúde de comunidade quilombola.
Metodologia
Este estudo faz parte do projeto “Condições de vida e saúde de comunidades quilombolas da Bahia e de Sergipe”, CAAE: 53730021.1.0000.5030. Caracterizado como estudo descritivo, exploratório e de abordagem qualitativa, a aproximação com o campo se deu em fevereiro/2023, juntamente com a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, através de visita à comunidade quilombola localizada na região metropolitana de Salvador, na Bahia. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com trabalhadores das áreas técnicas da saúde da gestão estadual, municipal e profissionais da unidade de saúde referência para a comunidade em questão. As entrevistas ocorreram de forma presencial nos espaços da gestão e na unidade, previamente agendadas através de email e/ou contato telefônico. O estudo obedeceu ao critério de saturação (Minayo, 2017) e atendeu aos critérios éticos para sua realização, inclusive com codificação aos participantes (G-gestor(a) e P-profissional) para preservar seu anonimato.
Resultados e Discussão
Na categoria sobre as percepções dos trabalhadores de saúde a respeito das condições de saúde da comunidade quilombola, foi identificado que as doenças prevalentes, conforme referido pelas participantes, são hipertensão arterial sistêmica (HAS) (G1, G2, G3, G4, P1, G5, P4, P5) e diabetes (G1, G2), com destaque para o "não controle da diabetes" (G3), sendo ambas destacadas como doenças crônicas (P4). O estudo de Queiroz et al (2021) confirma essa observação, mostrando prevalência dessas doenças nas comunidades, com HAS sendo prevalente entre os quilombolas, quando comparado com a população geral. Duas participantes (G1, G2) destacaram a saúde mental como um problema relevante, enfatizando a necessidade de "pensar sobre como o racismo gera ou repercute no sofrimento psíquico" (G2). Uma das participantes (G1) também ressaltou o alcoolismo e a dependência química como questões de saúde importantes. Corroborando, estudo de Queiroz et al (2023) indica que pessoas, principalmente negras, com menores rendimentos, sem acesso à educação, vivendo em condições de moradia precárias e sem acesso a serviços básicos, estão mais expostas aos desafios relacionados à saúde mental. Outrossim, Batista e Rocha (2020) destacam que o consumo abusivo de álcool é observado com mais frequência entre adolescentes e homens nas comunidades quilombolas. Participantes (G3, P2, P4, P5) associaram o déficit de saneamento básico às condições de saúde, corroborado pela alta incidência de infecções parasitárias (Souza et al., 2023). Essas infecções são exacerbadas por moradias precárias e falta de saneamento, aumentando a vulnerabilidade das comunidades (Rangel et al., 2014).
Conclusões/Considerações finais
O estudo evidencia a complexidade das condições de saúde da comunidade quilombola, em que as condições precárias de moradia e saneamento básico são fatores críticos que exacerbam a prevalência de várias condições de saúde, com impacto na saúde mental. Diante dessas constatações, ressalta-se a necessidade de intervenções que compreendam a saúde dentro do contexto dos determinantes sociais, conforme preconizado pela Saúde Coletiva, para subsidiar políticas públicas direcionadas à melhoria das condições de vida, saúde e acesso aos serviços de saúde. Ademais, ressalta-se que as percepções registradas não abrangem todos os atores sociais, e as perspectivas dos(as) moradores das comunidades também devem ser conhecidas.
Referências
Araújo, R. L. M. DE S. et al. Condições De Vida, Saúde E Morbidade De Comunidades Quilombolas Do Semiárido Baiano. Revista Baiana de Saúde Pública, v.43, n.1, 2020
Batista, E. C.; Rocha, K. B. Saúde mental em comunidades quilombolas do Brasil: uma revisão sistemática da literatura. Interações, 2020
Pereira, A, A. D. S.; Magalhães, L. Life in the quilombo: work, affection and care in the words and images of quilombola women. Interface: Communication, Health, Education, v. 27, 2023
Queiroz, P. DE S. F. et al. Common Mental Disorders in rural “quilombolas” in the North of MG, Brazil. Ciencia e Saude Coletiva, v.28, n.6, 2023
Queiroz, P. D. S. F. et al. Abdominal obesity and associated factors in quilombola communities in Northern Minas Gerais, Brazil, 2019. Epidemiologia e Servicos de Saude, v. 30, n. 3, 2021
Souza, L. N. DE et al. Práticas de cuidado em saúde com crianças quilombolas: percepção dos cuidadores. Escola Anna Nery, v.27, 2023
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