Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC2.2 - Povos Indígenas, Quilombolas e Comunidades Tradicionais

50543 - PRÁTICAS TRADICIONAIS PITAGUARY E CUIDADOS EM MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE – APS
ANTONIA VANDERLI ALVES DO NASCIMENTO - FIOCRUZ/CE, JOSÉ ALEX DA COSTA SILVA, FRANCILENE DA COSTA SILVA, NÁDIA LUZIA DA COSTA SILVA, ROSA DA SILVA SOUSA, RAIMUNDO ADRIANO DA COSTA SILVA, MARIA FABRICIA ANDRADE DOS SANTOS, FRANCISCA CRISTINA QUEIROZ GONÇALVES, ANA MARCELA SOUSA BITTENCOURT, VANIRA MATOS PESSOA


Apresentação/Introdução
O tema da saúde mental dos povos indígenas brasileiros parece ser negligenciado e de preocupação tardia, tanto pelas políticas, como pelas investigações acadêmicas. A Portaria nº 2759 do MS estabelece as Diretrizes Gerais para a Política de Atenção Integral à Saúde Mental das Populações Indígenas. (Bonfim, 2011).
Já é conhecido que há uma estreita associação entre cenários de vida marcados por intensas desigualdades, injustiças, racismos e violência de gênero e a produção de sofrimento psíquico. O uso de medicações quando bem indicadas é parte importante do plano terapêutico de pessoas em sofrimento psíquico, juntamente com outras estratégias de tratamentos, além de métodos mais amplos que possam diminuir a vulnerabilidade dos sujeitos em sofrimento, buscando ajudá-los individual e coletivamente a enfrentar os desafios da vida (Quemel et al 2021).
Assim, o processo histórico de violências e exclusão dificultam o alcance do estado de saúde. É sabida que há a demanda dos movimentos indígenas para detecção de agravos e proteção da saúde mental dos indígenas como uma reivindicação reincidente. O fortalecimento do cuidado, a partir das práticas tradicionais dos Pitaguary, num diálogo com a Rede de Atenção Psicossocial, inserindo o paciente com transtorno mental nesse contexto valorizando as práticas tradicionais e contribuindo para a melhoria de qualidade de vida.

Objetivos
Compreender as percepções dos povos Pitaguary acerca das dinâmicas que envolvem a relação entre sofrimento mental, adoecimento e práticas de saúde adotadas pelo serviço de saúde e pelos praticantes das práticas tradicionais indígena no contexto do território da Aldeia Monguba.


Metodologia
Trata-se de uma pesquisa-ação realizada em território indígena Pitaguary no município de Pacatuba, estado do Ceará. Foram desenvolvidos círculos de cultura com 20 Participantes entre eles lideranças comunitárias, religiosas e da juventude, os profissionais de saúdee a coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial.
Buscamos elaborar um plano coletivo de cuidados ampliados, de invenção de novas possibilidades terapêuticas e também de aproveitar os recursos disponíveis no Território, aumentando a capacidade de análise e intervenção dos participantes, na identificação dos determinantes envolvidos nos seus processos de adoecer O estudo foi realizado no período 12//12//2023 a 12/01/2024 e todos os aspectos éticos foram cumpridos. Como se trata de uma pesquisa-ação é previsto a equipe de saúde participar, acompanhar e monitorar as atividades com intuito de criar uma cultura de valorização das práticas tradicionais indígenas, junto com as lideranças e pajé, comunidade no contexto APS

Resultados e Discussão
Os resultados indicam que as práticas tradicionais Pitaguary são essenciais para a saúde mental dos indígenas. As práticas incluem rituais de cura, uso de plantas medicinais e pintura corporal, que promovem a conexão espiritual e a saúde mental. A inserção das práticas tradicionais na APS e na RAPS foi vista como necessidade de implantação imediata para melhoria da saúde mental da população indígena. Com relação aos costumes, todos se mantêm até hoje, principalmente entre os mais velhos. Nesse sentido, o grande desafio para o povo Pitaguary se concentra em manter sua cultura viva, principalmente entre os mais jovens. Por esta razão, as lideranças também trabalham no sentido de fortalecer a cultura e as tradições, através das manifestações culturais que ocorrem dentro e fora da aldeia, transformadora da prática amparada na reflexão. Compreendemos o sentido subjetivo das práticas indígenas, os significados envolvidos e as dimensões alcançadas. De modo geral, as práticas não estão relacionadas apenas ao seu sentido objetivo (a busca pela subsistência), mas envolvem necessidades mais profundas em diferentes dimensões. Na dimensão social percebemos o quanto fortalecem a ideia de grupo, de comunidade, de participação e de colaboração. Na dimensão cultural representam a reafirmação e a preservação da tradição e dos conhecimentos ancestrais. Nessa dimensão, observamos um significado também coletivo, principalmente quando expressavam a tristeza dos mais velhos ao perceberem a falta de interesse dos mais jovens pelas práticas e usos dos chás e lambedores e que hoje a procura só aumenta pela medicina convencional. Já na dimensão dos pacientes com transtorno mental é perceptível a necessidade de um cuidado diferenciado dentro da RAPS para a população indígena com transtorno mental


Conclusões/Considerações finais
Conhecemos a história do povo Indígena Pitaguary, sua cultura, suas tradições, seus saberes, sua relação com a natureza, compreender quais os costumes estão preservados e quais foram aculturados. Procurou-se conhecer, a partir dos relatos orais, a história das práticas tradicionais e se continua presente, as dificuldades enfrentadas para sobreviver, a luta pelo resgate cultural e reconhecimento de suas terras. Este Povo é conhecedor de sua trajetória e de suas origens e procura fortalecer o conhecimento tradicional através da oralidade e das práticas tradicionais. Ao conhecer a história e importância das práticas tradicionais evidenciou-se a necessidade para cura do corpo , alma e espírito como citado pelo Pajé. Concluímos que a melhoria dos cuidados em saúde mental na APS, precisa integrar-se ao profundo conhecimento que o povo Pitaguary possui a respeito de suas plantas e seus rituais sagrados no processo de cura como citados por eles: cura do corpo, alma e espirito.

Referências
BONFIM, Tânia Elena. Avaliação psicológica e saúde mental: aplicações da psicologia clínica em comunidades indígenas. Psicólogo inFormação, São Paulo, v. 15, n.15, p. 155-168, dez., 2011
BATISTA, Marianna Queiróz; ZANELLO, Valeska. Saúde mental em contextos indígenas: escassez de pesquisas brasileiras, invisibilidade das diferenças. Estudos de Psicologia, Natal RN, v. 21, n.4, p.403-414, out/dez., 2016
GAMA, Carlos Alberto Pegolo; CAMPOS; Rosana Teresa Onocko; FERRER, Ana Luiza. Saúde mental e vulnerabilidade social: a direção do tratamento. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 17, n.1, p. 69-84, mar, 2014

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