Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC2.2 - Povos Indígenas, Quilombolas e Comunidades Tradicionais

49777 - “O SUS MUITAS VEZES NÃO CONSEGUE ATENDER AS DEMANDAS”: OLHARES SOBRE AS NECESSIDADES SOCIAIS DE USUÁRIOS DO CAMPO, FLORESTA E ÁGUAS NA SAÚDE DA FAMÍLIA
CARLOS ANDRÉ MOURA ARRUDA - UECE, KEILA FORMIGA CASTRO - SMS/CRATO, ERIVAN CAMELO DA SILVA - MAM, BRENO VERÍSSIMO DO NASCIMENTO - ASSAFAM, ROJANE ALVES DOS SANTOS - MMTR-NE, IAGO ALMEIDA DA PONTE - UECE, ANA CLÁUDIA DE ARAÚJO TEIXEIRA - FIOCRUZ-CE, MARIA DAS GRAÇAS VIANA BEZERRA - FIOCRUZ-CE, FERNANDO FERREIRA CARNEIRO - FIOCRUZ-CE, VANIRA MATOS PESSOA - FIOCRUZ-CE


Apresentação/Introdução
A garantia do direito à saúde após mais de 34 anos da Constituição Cidadã que estabeleceu o Sistema Único de Saúde (SUS), ainda é um desafio nos mais diferentes territórios do Brasil.
Dentre estes territórios, os denominados rurais, onde vivem as populações do campo, da floresta e das águas (PCFA) é onde se evidenciam: dificuldades com a acessibilidade aos serviços de saúde em relação ao tempo, à acessibilidade geográfica e à acessibilidade psicossocial. Essas populações reivindicam um modelo de atenção que atenda as suas necessidades de saúde, que priorize a saúde relacionada com o seu modo de viver e produzir, dialogando com os seus saberes e práticas tradicionais (Pessoa; Almeida; Carneiro, 2018).
A Política Nacional de Atenção Básica estabelece que uma das formas para se garantir a coordenação do cuidado, a ampliação do acesso e o potencial resolutivo da AB, é adotar estratégias que ampliem o escopo de serviços e que dialoguem com as necessidades e demandas das pessoas através da Estratégia Saúde da Família (ESF) (Brasil, 2017).
Assim sendo, as necessidades sociais de saúde são necessidades de reprodução social que, por não serem naturais nem gerais, são necessidades de classes, definidos pela sua inserção na divisão social do trabalho que determina os diferentes modos de viver (Campos; Mishima, 2005), aqui, tais modos de viver se referem às PCFA.


Objetivos
Objetiva-se identificar as estratégias realizadas pela equipe de saúde da família para amenizar as necessidades sociais de saúde de usuários do campo, da floresta e das águas na Estratégia Saúde da Família em quatro municípios cearenses.

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa-ação realizada em quatro territórios rurais dos municípios: Crato, Trairi, Itapipoca e Quiterianópolis, estado do Ceará.
A pesquisa-ação, é “[...] um tipo de pesquisa social [...] que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo [...]” (Thiollent, 2011, p. 20).
Foram desenvolvidas Oficinas participativas e colaborativas que contaram com a participação de 68 pessoas. Participaram profissionais da saúde, lideranças comunitárias de distintos equipamentos sociais e sujeitos da comunidade.
As oficinas foram planejadas e desenvolvidas utilizando-se o referencial de Paulo Freire, contemplando e tendo como foco principal o envolvimento dos sujeitos, a participação, a colaboração mútua, o diálogo e a problematização que possibilitaram, por meio de rodas de conversas, produzir um conhecimento que fosse significativo para as pessoas e que encontrassem as necessidades delas.
Transversalizamos cenários heterogêneos do Ceará, na busca de evidenciar as necessidades em saúde nos territórios rurais em que há presença do trabalho de equipes de saúde da família com vistas a avançar na reorientação do modelo de atenção.


Resultados e Discussão
Observou-se que o SUS é o fio condutor desse processo de diálogo com a comunidade para solucionar/amenizar as necessidades sociais das famílias: “O SUS é o fio condutor dessas relações e dessas estratégias”.
Percebeu-se, ainda, que uma forma de ter as necessidades sociais atendidas tem relação com a articulação intersetorial: “[...] e a gente buscando sempre trazer a família para essas problemáticas, acionando uma rede intersetorial, da ação social, de segurança de educação”.
Além disso, os usuários afirmaram que valorizar os saberes locais, identificar e valorizar as potencialidades da comunidade, implantar conselho local de saúde e desenvolver projetos colaborativos e integrativos, também são estratégias para o alcance e respostas às necessidades.
Não obstante, os usuários também trouxeram alguns desafios com relação ao alcance às necessidades, quais sejam: é insuficiente e existe pouca ação, falta estrutura para a equipe atender as necessidades e demandas adequadamente e pouca eficiência, visto as condições de trabalho das equipes.
O sucateamento do SUS no governo anterior piorou os atendimentos, principalmente nas populações do campo, da floresta e das águas que tiveram o direito à saúde prejudicados.
A busca pela resolubilidade dos seus problemas enseja expectativa e satisfação, no que tange ao encontro do usuário com o profissional de saúde. Ter suas necessidades satisfeitas é motivo para volta do usuário ao serviço de saúde (Traverso-Yépez; Morais, 2004), e, logo, produz satisfação e contribui para que o usuário estabeleça vínculo com os profissionais.
Por fim, a satisfação de uma necessidade encontra-se potencialmente no produto de um processo de trabalho – sequência de operações que transforma um objeto de trabalho em um produto (Campos; Bataiero, 2007).


Conclusões/Considerações finais
Este estudo possibilitou conhecer alguns elementos relacionados às estratégias realizadas pelas equipes de saúde da família ante as necessidades sociais dos usuários do campo, da floresta e das águas em alguns territórios cearenses.
Os olhares permitiram criar possibilidades para retroalimentar processos de organização dos serviços, planejamento em saúde, processos decisórios no nível da gestão municipal, e ressignificar as proposições de políticas públicas de saúde para essas populações.
Desvelamos o quanto é profícuo para a elaboração de estratégias que visam a amenizar e dar respostas efetivas às necessidades sociais de saúde. Esses olhares contribuem para a gestão e planejamento em saúde, a fim de aperfeiçoar o processo as respostas do SUS as demandas concretas da sociedade.


Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2016. 496 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html Acesso em: 19 maio 2024.

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.

Pessoa, V. M., Almeida, M. M., & Carneiro, F. F.. (2018). Como garantir o direito à saúde para as populações do campo, da floresta e das águas no Brasil?. Saúde Em Debate, 42(spe1), 302–314. https://doi.org/10.1590/0103-11042018S120

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 18. ed. 7ª reimpressão. São Paulo: Cortez, 2011.

TRAVERSO-YÉPEZ, M.; MORAIS, N. A. de. Reivindicando a subjetividade dos usuários da rede básica de saúde: para uma humanização do atendimento. Cad. Saúde Pública, v. 20, n. 1, p. 80-88, 2004.

Fonte(s) de financiamento: Programa INOVA FIOCRUZ.


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