Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC2.1 - Em busca de uma equidade em saúde perdida - o racismo em perspectiva

49647 - RACISMO, COLONIALIDADE E INIQUIDADES EM SAÚDE MENTAL: ATRAVESSAMENTOS E IMPLICAÇÕES NO SOFRIMENTO DE JUVENTUDES PERIFÉRICAS DE FORTALEZA
LEVI DE FREITAS COSTA ARAUJO - UFC, ANA THAIS DE ALBUQUERQUE NORÕES BOUTALA - UFC, MAYARA RUTH NISHIYAMA SOARES - UFC, JOÃO PAULO PEREIRA BARROS - UFC, LUCIANA LOBO MIRANDA - UFC, RAIMUNDO CIRILO DE SOUSA NETO - UFC, CECÍLIA OLIVEIRA CUNHA - UFC, ANTÔNIO CAIO RENAN SILVA PENHA - UFC, ARTHUR FÉLIX OLIVEIRA COELHO - UFC, MARIA BEATRIZ GONÇALVES LEITE - UFC


Apresentação/Introdução
As modificações da violência nas periferias brasileiras configuram um grande desafio para a reparação em saúde e a promoção do direito à cidadania. Sendo decorrentes da articulação entre fatores históricos ligados ao passado colonial, reformulações nas dinâmicas criminais (SILVA PAIVA, 2019) e recrudescimento das políticas de guerra às drogas e punitivismo penal, o fenômeno da violência acarreta em impactos significativos para a garantia da saúde mental entre as juventudes periféricas (BARROS; et. al, 2019). Destaca-se que os impactos da violência são racialmente e socialmente distribuídos, afetando sobretudo corpos negros e periféricos. O que deságua na pertinência da discussão dos impactos psicossociais do racismo e da colonialidade enquanto dispositivos de distribuição e acirramento do fenômeno da violência. Salienta-se a importância da violência para os estudos em políticas públicas e saúde coletiva. Neste trabalho, tomaremos como campo de análise os impactos desse fenômeno nas juventudes racializadas do Grande Bom Jardim (GBJ), território periférico em Fortaleza-CE com baixos índices de desenvolvimento humano e acentuadas taxas de homicídios em relação às áreas nobres da cidade, mais assistidas por políticas públicas de, cultura e segurança, o descaso necrolítico nas periferias, mantenedor e acirrado de desigualdades, não pode ser portanto, desconsiderado nessa análise.

Objetivos
Este trabalho visa refletir sobre os efeitos negativos do racismo e da colonialidade na produção de iniquidades em saúde mental nas juventudes periféricas, criando modos de subjetivação atrelados ao medo, a insegurança e ao fatalismo, na medida em que estabelecem, dentro das zonas determinadas de morte, a demarcação de certas vidas como vidas supérfluas. Os efeitos do racismo nas periferias de Fortaleza não devem, portanto, ser negligenciados para promoção do direito à cidadania plena.

Metodologia
Enquanto proposta metodológica utilizamos de uma inserção no campo orientada pela pesquisa-intervenção de inspiração cartográfica. As metodologias cartográficas partem de um pressuposto imanente das relações entre pesquisador e campo, borrando as delimitações modernas de sujeito e objeto e visando o estabelecimento de um plano coletivo comum que potencialize os percursos e fluxos previamente existentes no campo, produzindo ressonâncias que potencializam certos modos de enunciação diante de uma postura política, estética e ética (PASSOS, KASTRUP, & ESCÓSSIA, 2020).
Esse resumo deriva de uma pesquisa de iniciação científica CNPq, vinculada a pesquisa guarda-chuva de nome “Aspectos Psicossociais da Violência e Práticas de Re-Existência Juvenis em Periferias de Fortaleza-CE”. Portanto, tem-se realizado, em apoio com instituições locais, atividades diversas no território periférico do Grande Bom Jardim (Fortaleza-CE) como ações em escolas, viabilização de eventos culturais, apoio e incentivo a constituição de coletivos juvenis, viabilização de espaços para a experimentação artística e formação política. Foi utilizado também questionários em uma etapa quantitativa da pesquisa.
Metodologicamente, nos inspiramos na pesquisa-intervenção de inspiração cartográfica. As metodologias cartográficas partem de um pressuposto imanente das relações entre pesquisador e campo, borrando as delimitações modernas de sujeito e objeto e visando o estabelecimento de um plano coletivo comum que potencialize os percursos e fluxos previamente existentes no campo, produzindo ressonâncias que potencializam certos modos de enunciação diante de uma postura política, estética e ética (PASSOS, KASTRUP, & ESCÓSSIA, 2020).

Resultados e Discussão
O racismo e a colonialidade produzem iniquidades em saúde mental na medida que estabelecem demarcações nas zonas de inteligibilidade da identidade, estabelecendo à alteridade um lugar de incômodo que deve ser suprimido e apagado. No mundo colonial a diversidade só existe tendo em vista a afirmação egóica do padrão universal estabelecido, a saber branco, europeu, masculino, cisgenero e heterosexual. Por consequência, só é dada a possibilidade de existência para estas na medida que elas se adaptem a condições de subalternidade e violação de direitos. No caso da raça em particular, a literatura já atesta o racismo como um motor da violência nas periferias e responsável por significativa experiência de sofrimento, a partir da epidermização da condição de “não ser” do negro e da reatualização do trauma colonial (FANON, 2008; KILOMBA, 2019).
Vale ressaltar a importância da inserção da psicologia e dos sistema único de saúde neste contexto, tendo em vista a promoção de espaços seguros no qual a experiência de desumanização e violência possa encontrar espaço para ser elaborada e ressignificada. Sendo fundamental a consideração do racismo como fator importante para a cronificação do sofrimento psíquico entre as juventudes periféricas e racializadas. Na etapa quantitativa, foi constatado que 70,82% dos estudantes de ensino médio do GBJ eram negros, e 62% dos jovens relataram já ter visto pessoas armadas em seus territórios, que reitera o convivio cotidiano dessas juventudes com a violência, com significativas reverberações subjetivas, para as quais se faz necessário atentar enquanto políticas públicas em saúde coletiva e atenção psicossocial.

Conclusões/Considerações finais
Esse resumo reflete os efeitos do racismo e da colonialidade na saúde mental de jovens da periferia. Nesse sentido, os modos de produção de cuidado em território se estabelecem em estruturas com bases necropolíticas, que agenciam vidas como supérfluas e passíveis de morte, impondo existências que são marcadas pela insegurança, reforçando a desumanização e o descuprimento de direitos humanos indispensáveis.
Além disso, o ambiente da saúde pública brasileira deve contemplar rupturas relacionadas aos modos de garantir a cidadania plena aos jovens da periferia, visto que é impossível trazer o debate da saúde mental, e da saúde integralizada como um todo, sem traçar referenciais antirracistas.
É necessário, logo, que as transformações estruturais de direitos sejam avaliadas na projeção do cuidado em saúde, destacando a potência das atuações de coletivos territorializados e ONGs enquanto tecnologias de enfrentamento aos efeitos deletérios da violência patriarcal, colonial e capitalista.

Referências
BARROS, J. P. P.; NUNES, L. F.; SOUSA, I. S. ; CAVALCANTE, C. O. B. . Criminalização, extermínio e encarceramento: Expressões necropolíticas no Ceará. Revista de Psicologia Política, v. 19, p. 475-488, 2019.

FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

KILOMBA, G. Memórias da plantação: Episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro; Cobogó, 2019.

PASSOS, E.; KASTRUP, V.; ESCÓSSIA, L. Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2020.

SILVA PAIVA, L. F. “Aqui não tem gangue, tem facção”: As transformações sociais do crime em Fortaleza. Caderno CRH, [S. l.], v. 32, n. 85, p. 165–184, 2019.

Fonte(s) de financiamento: o bolsista de iniciação cientifica recebe uma bolsa de iniciação científica CNPq, não havendo outros tipos de financiamento


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