51189 - A SAÚDE MENTAL NAS DELEGACIAS POR OUTRO ÂNGULO VITÓRIA DE CONTI LOPES - UFPR, ANA MARIA MACHADO DE ANDRADE - UFPR, SABRINA STEFANELLO - UFPR, GUSTAVO HENRIQUE NICOLETTI DALLE CORT - UFPR, DEIVISSON VIANNA DANTAS DOS SANTOS - UFPR
Apresentação/Introdução A prevalência de transtornos mentais entre os profissionais de delegacias é significativa. Atualmente, existem alguns serviços de saúde oferecidos aos policiais do Paraná: CPJAM, PRUMOS, CAP e SAP. O CPJAM é uma iniciativa da Polícia Civil que oferece atendimento psicológico aos policiais de Curitiba e região metropolitana. Já o PRUMOS é um programa da Diretoria Estrutural da Secretaria da Segurança Pública do Paraná, que oferece atendimento em saúde mental para servidores da Polícia Militar, Civil, Científica, Penal e Corpo de Bombeiros Militar e seus dependentes. O programa foi instituído pelo Decreto 6.297, que criou, além do PRUMOS, os Centros de Atenção Psicossocial (CAP) e as Secções de Atendimento Psicossocial (SAP). O CAP é vinculado à Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná e o SAP ao Departamento de Recursos Humanos das forças atendidas. Existem diversos SAPs e CAPs no estado do Paraná, sendo a maioria ao lado ou dentro de delegacias. Vale salientar que todos estes serviços são contratualizados, não fazendo parte do SUS. Apesar da multiplicidade de serviços, estes espaços são pouco utilizados, seja por dificuldade do entendimento de fluxo de atendimento, seja por estigma da profissão. Assim, é necessário identificar as fragilidades deste sistema a fim de estimular políticas públicas que, de fato, dêem suporte à saúde do trabalho.
Objetivos Compreender como se dá o acesso à saúde pelos profissionais de delegacias em Curitiba (PR), com foco na saúde mental, e buscar compreender quais os instrumentos institucionais que facilitam e possibilitam o cuidado destes policiais e os que se apresentam como barreira ao seu atendimento em saúde.
Metodologia Esta é uma pesquisa qualitativa de cunho fenomenológico-hermenêutico. Foram entrevistados profissionais de duas delegacias de Curitiba (PR). As entrevistas foram semi-estruturadas, com questões disparadoras, visando compreender como se dá o arranjo dos serviços e políticas públicas de acesso à saúde deste grupo, assim como a experiência destes profissionais diante de transtornos mentais próprios ou dos colegas. As conversas ocorreram por meio de uma plataforma virtual e duraram entre 40 a 60 minutos. As entrevistas foram transcritas e organizadas em categorias a partir dos núcleos argumentais. A partir dos núcleos, foram delimitadas categorias de análise, as quais foram interpretadas usando como referencial teórico elementos e conceitos da Clínica Ampliada de Gastão e da Psicodinâmica do Trabalho de Dejours.
Resultados e Discussão Foram entrevistados 7 policiais, todos os que concordaram em participar da pesquisa, dos 30 contatados. Eles comentaram sobre a relação de seu trabalho e sua saúde mental, citando temas como a carga de trabalho, a falta de infraestrutura das delegacias, salário insuficiente, múltiplas funções, atendimento ao público, e falta de reconhecimento. Os policiais relataram que isso afeta sua saúde mental, física e seu trabalho, mas que a maioria não busca auxílio psicológico. Um dos motivos mais citados é que a procura por atendimento pode resultar na perda da arma e distintivo - símbolos de sua honra e masculinidade como policial. Esse cenário punitivo reafirma como problemas de saúde mental são vistos como incapacitantes, desencorajando a busca por tratamento e contrariando a clínica centrada na pessoa. Para Campos, a clínica tradicional reduz o indivíduo a uma enfermidade, focando na cura e correção dos sintomas - no caso dos policiais, para manter a capacidade de trabalho. Como um segundo motivo citado, existe a dificuldade de vínculo entre os profissionais de saúde mental e os policiais, uma vez que estes não conseguem compreender a vida do policial e valorizar suas demandas. Por fim, embora haja vários serviços disponíveis, o conhecimento sobre eles é limitado. Os entrevistados destoavam ao responder sobre as funções dos serviços - como o PRUMOS e o CPJAM - assim como sobre quem oferece o atendimento. Nesse sentido, é evidente a falta de informações explícitas, o que transparece nos canais oficiais e no decreto nº 6.297, que não diferencia abertamente os serviços, dificultando o acesso. Ainda sobre os serviços, a sua localização, muitas vezes dentro ou próximos às delegacias, compromete o sigilo e desestimula a busca por ajuda, devido ao estigma associado à saúde mental.
Conclusões/Considerações finais Tais pontos revelam uma política em saúde pouco eficaz, que desconsidera o ambiente em que o profissional está inserido, manejando os problemas de saúde mental como específicos do indivíduo e não como consequências do seu processo de trabalho. A implementação de uma política que considere o ambiente de trabalho e promova uma abordagem mais integrada e compreensiva pode fomentar um apoio mais efetivo e acessível. É necessário que a política em saúde aborde os determinantes em saúde demonstrados pela pesquisa, para extrapolar uma função assistencialista e incluir a prevenção e promoção da saúde. Além disso, a desestigmatização da saúde mental e a criação de canais claros e confidenciais de atendimento são passos essenciais para garantir que os policiais tenham o suporte necessário para manter sua saúde mental e, consequentemente, seu desempenho profissional.
Referências BUENO, Marcos; MACÊDO, Kátia Barbosa. A Clínica psicodinâmica do trabalho: de Dejours às pesquisas brasileiras. ECOS - Estudos Contemporâneos da Subjetividade, v. 2, n. 2, p. 306–318, 21 dez. 2012.
CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa. A clínica do sujeito: por uma clínica reformulada e ampliada. Saúde Paideia. [S.l.]: Editora Hucitec, 2002. .
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.
MINAYO, Maria Cecília de Souza; ASSIS, Simone Gonçalves de; OLIVEIRA, Raquel Vasconcellos Carvalhaes de. Impacto das atividades profissionais na saúde física e mental dos policiais civis e militares do Rio de Janeiro (RJ, Brasil). Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. 4, p. 2199–2209, abr. 2011.
Fonte(s) de financiamento: Não se aplica
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