50440 - COMPARATIVO DA GESTÃO DO HIV ENTRE ESPANHA E BRASIL: RELATO DE EXPERIÊNCIA A PARTIR DE UM INTERCÂMBIO ACADÊMICO ÍGOR GIORDAN DUARTE JORGE - UFC - FORTALEZA, NAÃ SOUSA ROCHA - UFC - FORTALEZA, ARTHUR HENRIQUE DE ALENCAR QUIRINO - UFC - FORTALEZA, JULIA DA SILVA RIBEIRO - UFC - FORTALEZA, LARISSE HOLANDA MARTINS - UFC - FORTALEZA, KELEN GOMES RIBEIRO - UFC - FORTALEZA
Contextualização Em um intercâmbio clínico conduzido pela IFMSA Brazil (Federação Internacional de Associações de Estudantes de Medicina), em abril de 2024, acompanhou-se o serviço de doenças infecciosas no Hospital Rio Hortega, em Valladolid, Espanha. A escolha do serviço se deu pela formação prévia no Brasil sobre o HIV (Vírus da imunodeficiência humana), na disciplina de doenças infecciosas. No contexto espanhol, observaram-se as práticas adotadas pelo Sistema de Saúde de Castilla y León (Sacyl) no tratamento de pacientes com HIV. Isso permitiu comparar os sistemas de saúde do Brasil e da Espanha e identificar desafios únicos de cada país.
O HIV desencadeia uma disfunção que resulta na destruição dos linfócitos e comprometimento imunológico, evoluindo para a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). Os primeiros casos de AIDS foram relatados em 1981 nos Estados Unidos, no no mesmo ano surgiram casos em Barcelona, já o Brasil enfrentou seu primeiro caso em 1982. Conforme a doença tornou-se epidêmica, Espanha e Brasil implementaram políticas públicas, como a distribuição gratuita de antirretrovirais.
Ao refletir sobre as disparidades entre os países na gestão do HIV, foram identificadas oportunidades de aprendizado e adoção de possíveis estratégias de melhoria. Em ambos os contextos, destaca-se a importância do trabalho em equipe na promoção da saúde e qualidade de vida dos pacientes.
Descrição da Experiência O intercâmbio profissional da IFMSA proporciona estágios clínicos para estudantes de medicina. Um desses intercâmbios foi realizado por um aluno do 7º semestre de Medicina da Universidade Federal do Ceará, no Hospital Rio Hortega, em Valladolid, Espanha, em abril de 2024. Durante o período, o estudante teve a oportunidade de acompanhar a clínica de doenças infecciosas, participando de consultas que abordavam diversas afecções, com um foco especial em pacientes com HIV e AIDS. A maioria dos pacientes eram idosos, que tratavam sua doença há bastante tempo e muitos apresentavam sequelas dos tratamentos iniciais do HIV, que eram mais tóxicos.
Além disso, havia um número significativo de imigrantes latinos soropositivos, que davam continuidade ao tratamento após se mudarem para a Espanha. O serviço também atendia uma alta incidência de profissionais do sexo e pessoas transgênero. A minoria dos pacientes eram aqueles pós-exposição ou com diagnóstico recente. Adicionalmente, eram atendidos também pacientes com sífilis.
Ainda acompanhou-se internações para quadros graves, como imunodeficiência severa e condições oncológicas relacionadas ao HIV, como linfoma primário do sistema nervoso central. Tal experiência proporcionou uma visão abrangente do manejo de doenças infecciosas em diferentes contextos, enriquecendo significativamente a formação médica e a compreensão da saúde global.
Objetivo e período de Realização Descrever a realização de um intercâmbio em um hospital espanhol, com enfoque em HIV e AIDS. Com isso, busca-se comparar a epidemiologia e a gestão em saúde no enfrentamento dessa epidemia, no Brasil e na Espanha, identificando estratégias e aprendizados que possam orientar em como a gestão do tema pode ser aperfeiçoada. O intercâmbio relatado foi realizado no período de 01 a 30 de abril de 2024.
Resultados No intercâmbio, com informações da Sacyl, pôde-se estabelecer um comparativo numérico entre Brasil e Espanha, que têm tratamento antirretroviral gratuito desde a década de 1990.
Na Espanha, estima-se que 150.000 pessoas vivam com HIV, com uma prevalência de 0,31%. Entre 2022 e 2023, ocorreram 99 novas infecções em Castilla y León. Os casos de AIDS têm diminuído desde 1996, com 331 casos notificados em 2022, sendo 46,5% em estrangeiros.
No Brasil, cerca de um milhão de pessoas vivem com HIV, com queda de 25,5% na mortalidade por AIDS em uma década. Contudo, houve aumento de 17,2% nas infecções entre 2020 e 2022.
A ONU estabeleceu metas para acabar com a AIDS: diagnóstico para 95% das pessoas vivendo com HIV, tratamento para 95% delas e carga viral controlada em 95% dos tratados. No Brasil, os índices são 90%, 81% e 95%, respectivamente, enquanto na Espanha são 92,5%, 96,6% e 90,4%.
Ambas as nações avançam na profilaxia pré-exposição (PREP), com a aprovação, em 2023, da injeção de cabotegravir como opção de ação prolongada. Na Espanha, o Truvada foi aprovado em 2016, com cerca de 18.000 pessoas em PREP oral. No Brasil, 167.213 pessoas utilizam PREP oral e 650, injetável.
Aprendizado e Análise Crítica Comparar realidades é uma ferramenta útil para entender como as idiossincrasias influenciam o planejamento em saúde de cada país, embora o Brasil tenha uma população 4,5x maior que a Espanha.
Na Espanha, 96,6% dos diagnosticados com HIV estão em tratamento, e a introdução do cabotegravir como PrEP injetável reflete a agilidade na adoção de tecnologias. A integração de imigrantes no sistema de saúde, com 46,5% dos casos de AIDS notificados, evidencia esforços para atender populações vulneráveis.
No Brasil, a redução de 25,5% na mortalidade por AIDS na última década destaca o impacto positivo das políticas pública. Já o elevado número de usuários de PrEP, com 167.213 pessoas utilizando a forma oral, sinaliza um avanço significativo na prevenção, e 95% dos pacientes tratados têm carga viral controlada. No entanto, o aumento de 17,2% nas infecções com apenas 81% dos diagnosticados em tratamento revelam falhas nas estratégias para que os pacientes tenham uma boa adesão ao tratamento, fator que suscita mudanças na gestão em saúde pelo Poder Público, vide o impacto crônico do não tratamento para o indivíduo.
Dessa maneira, evidencia-se que a Espanha pode aprender com o Brasil sobre a redução da mortalidade e a expansão da PrEP, enquanto esse pode se beneficiar das estratégias espanholas para aumentar a proporção de pessoas diagnosticadas em tratamento.
Referências Dirección General de Salud Pública. Vigilancia Epidemiológica del VIH y SIDA en España 2022. Actualización 30 de junio de 2023. Sistema de Información sobre Nuevos Diagnósticos de VIH, Registro Nacional de Casos de SIDA. Noviembre 2023. Disponível em: https://www.sanidad.gob.es/ciudadanos/enfLesiones/enfTransmisibles/sida/vigilancia/docs/Informe_VIH_SIDA_2023.pdf. Acesso em: 23 maio 2024.
Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Boletim Epidemiológico - HIV e Aids 2023. Número Especial | Dezembro 2023. Brasília: Ministério da Saúde, SRTV, quadra 701, via W5 Norte, lote D, Edifício PO 700, 5º andar, CEP: 70719-040. ISSN 2358-9450.
PREPWatch. Country Overview: Brazil. Disponível em: https://www.prepwatch.org/countries/brazil/. Acesso em: 23 maio 2024.
Fonte(s) de financiamento: Não há fonte de financiamento.
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