48927 - RESPOSTA DE CUBA E URUGUAI NO ENFRENTAMENTO À PANDEMIA DE COVID-19 MELSEQUISETE DANIEL VASCO - UFBA, CAMILLA ANDRADE SILVA RIBEIRO - UFBA, MONIQUE AZEVEDO ESPERIDIÃO - UFBA, ALCIONE BRASILEIRO OLIVEIRA - UFBA
Apresentação/Introdução A América latina, ao longo das sucessivas ondas, mostrou-se bastante afetada pela COVID-19 e a crise sanitária por ela instalada, considerando distintos desfechos, entre casos e mortes, assim como impactos socioeconômicos na população. No entanto, Cuba e Uruguai foram identificados como países que obtiveram respostas exitosas no enfrentamento inicial da pandemia. No caso de Cuba, destacou-se a importância das reformas no sistema de saúde após a revolução de 1959, com estruturação da atenção primária e fortalecimento na oferta de médicos por habitantes. No Uruguai, destacaram-se o papel da reforma na saúde de 2007, as políticas de proteção social1, boa governança da resposta e a adesão da população às medidas2. Contudo, em 2021, verificou-se uma perda de controle da situação nos dois países e com um impacto maior na população, pelo aumento expressivo de contágio e mortes3,4. O presente estudo analisa as características do Governo, sistema de saúde e vigilância em saúde de Cuba e Uruguai, sistematizando os pontos fortes e fracos das duas respostas no enfrentamento à pandemia da COVID-19.
Objetivos Analisar as respostas de Cuba e Uruguai no enfrentamento à pandemia da COVID-19, sistematizando os pontos fortes e fracos das duas respostas, no contexto dos países latino-americanos.
Metodologia Trata-se de uma análise comparada envolvendo uma revisão integrativa, análise documental e levantamento de dados secundários. A busca de publicações foi executada entre janeiro de 2020 e maio de 2022, nas bases PubMed, Web of Science, Science Direct e Scopus, através dos termos de busca: “Cuba”/”Uruguai”; “COVID-19”; “health system”; “surveillance”; “national response”. Os documentos foram identificados nas páginas web oficiais dos Governos desses países, e a busca de dados sobre indicadores socioeconômicos foi efetuada nas bases das principais agências internacionais.
Seguintes referenciais foram mobilizados, os estudos de Marmor e Wendt e da OCDE para caraterísticas dos sistemas de saúde; de Silva e Vieira-da- para a vigilância em saúde; e Esping-Andersen para a tipologia de Estado/Governo. A análise foi sistematizada considerando as categorias características do país e do sistema de saúde; preparação, coordenação da resposta e estratégia principal; preparação da resposta e experiência com epidemias anteriores; estruturação do sistema de saúde; vigilância e medidas adotadas.
Resultados e Discussão Cuba e Uruguai são Estados unitários com Repúblicas presidencialistas, sendo Cuba socialista e com um sistema de saúde universal-estatal e o Uruguai baseado em seguro social de modelo integrado7. O enfrentamento a COVID-19, nos dois países, se inicia em janeiro de 2020, antes do registro dos primeiros casos, com a constituição de corpos técnicos e Grupos Assessores Científicos, elaboração de planos nacionais em conformidade com o Regulamento Sanitário Internacional da OMS, a mobilização tempestiva de recursos para a vigilância epidemiológica e em saúde, e a readequação de serviços assistenciais para casos graves. Houve maior protagonismo dos Presidentes da República, como coordenadores-chefe da resposta nacional.
Em Cuba, observou-se um distanciamento físico de maneira maciça com o fechamento de serviços não essenciais Galbán-García et al.6. Por sua vez, no Uruguai não foram relatadas medidas rígidas de obrigatoriedade, tendo se adotado a estratégia de “liberdade responsável” e conscientização para a solidariedade coletiva na adesão das medidas, e as ações de vigilância foram ampliadas para a genômica8; já a APS, nos dois países, notabilizou-se através de ações de identificação de casos suspeitos, educação em saúde, apoio psicológico por meio de teleconsultas desde antes, durante e após a contaminação do indivíduo2,6.
A assistência hospitalar foi reforçada, principalmente em leitos e equipes de profissionais de UTI1, assim como a produção local de insumos com destaque os testes4,5. Igualmente, destaca-se a organização bem-sucedida3 da vacinação em ambos os países, apesar do início tardio da imunização, com Cuba optando pelo uso exclusivo da vacina de produção nacional e tendo sido o primeiro país das Américas a atingir 70% de vacinados6.
Conclusões/Considerações finais A análise das respostas de Cuba e do Uruguai no enfrentamento da COVID-19, permitiu identificar a experiência desses países como exitosa, durante o ano de 2020, sendo apontados como potenciais fatores o empenho dos governos para uma resposta rápida, coordenada nacionalmente e alinhada ao discurso científico; a confiança da população nos seus governantes na adesão às medidas; o fortalecimento das instituições de saúde pública e o protagonismo exercido pela atenção primária, em colaboração com a vigilância em saúde, resultados das reformas ocorridos nos sistemas de saúde desses países. O caso cubano enfatiza ainda a soberania nacional na produção e no provimento de vacinas em todo o país. A virada observada em 2021, pode ser explicada pelo afrouxamento das medidas com o retorno do turismo, a propagação de novas variantes, bem como o excesso de otimismo do governo uruguaio pelos resultados positivos alcançados em 2020, refletindo-se na elevação abrupta dos principais indicadores.
Referências 1. Moreno P, et al. An effective COVID-19 response in South America: the Uruguayan Conundrum. medrxiv 2020
2. Burian CL, Nilson DH. COVID-19, políticas em Uruguay: del desempeño excepcional al escenario crítico. 2021
3. Mas Bermejo P, et al. Equidad y respuesta del Sistema Nacional de Salud de Cuba ante la COVID-19. 2020
4. Nishioka S de A. O controle da pandemia de COVID-19 no Uruguai: sucesso inicial, tropeço no caminho, vacinação efetiva [Internet]. 2021.
5. Linares EP, Posada CAL. Comportamento epidemiológico de COVID-19 na fase inicial da pandemia em Cuba. 2021
6. Galbán-García E, Más-Bermejo P. COVID-19 in Cuba: assessing the national response. 2020
7. Lauriola P, et al. On the importance of primary and community healthcare in relation to global health and environmental threats: lessons from the COVID-19 crisis. 2021
8. Panzera Y, et al. Genome Sequences of SARSCoV-2 P.1 and P.2 Identified in Uruguay. Microbiol Resour Announc 2021
Fonte(s) de financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ401744/2020-5.
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