04/11/2024 - 13:30 - 15:00 RC1.1 - Modelo de desenvolvimento, clima e emergências sanitárias |
50044 - ANÁLISE DA OCORRÊNCIA DE CASOS DE ESCORPIONISMO NAS REGIONAIS DE FORTALEZA, CEARÁ. GABRIELLA BRANDÃO TEIXEIRA - UFC, ANYELLE BARROSO SALDANHA - UFC, MARIA AUGUSTA DRAGO FERREIRA - UFC
Apresentação/Introdução Os escorpiões são artrópodes com plasticidade ecológica e distribuição irregular, o que favorece sua ocupação em ambientes modificados pelo homem, como em áreas urbanas. No Brasil, 160 espécies de escorpião já foram descritas, no entanto, somente as do gênero Tityus possuem importância médica. Dentre elas, a Tityus stigmurus é a principal responsável pelos casos de escorpionismo no Ceará, no qual o quadro clínico apresentado varia entre dor local até manifestações respiratórias e cardiocirculatórias, principalmente em crianças e idosos, sendo necessária a administração do soro antiescorpiônico. Segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), entre 2010 e 2023 foram notificados 61.886 casos de escorpionismo no Ceará, sendo 34.956 desses casos registrados somente em Fortaleza. Devido à elevada incidência e potencial de letalidade, os acidentes envolvendo escorpiões são considerados um problema de saúde pública. O município de Fortaleza possui 121 bairros, os quais, desde 2021, são divididos em 12 regionais. Essa divisão regional foi realizada considerando as afinidades socioeconômicas e culturais entre os bairros. Dessa maneira, este estudo tem por propósito analisar a ocorrência de casos de escorpionismo nas regionais de Fortaleza, visando subsidiar a produção de políticas públicas para redução desses casos de escorpionismo no município.
Objetivos Caracterizar os casos de escorpionismo atendidos no Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) no ano de 2023 e analisar a ocorrência desses nas diferentes regionais do município de Fortaleza, Ceará.
Metodologia Trata-se de um estudo transversal, no qual as unidades de análise foram os bairros do município de Fortaleza, localizado no estado do Ceará. O presente estudo foi realizado com dados secundários dos casos de escorpionismo ocorridos em Fortaleza no ano de 2023 e registrados pelo CIATox, localizado em hospital de nível terciário. Os dados relacionados ao escorpionismo foram coletados a partir do Sistema Brasileiro de Dados de Intoxicações (DATATOX), um sistema de acesso online, que realiza o registro, acompanhamento, armazenamento e recuperação dos dados de toxicologia clínica. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a densidade populacional dos bairros de Fortaleza foram obtidos a partir do Censo Demográfico de 2010 e 2022, respectivamente, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para a análise descritiva dos dados, foi utilizado o Google Sheets, no qual foi criado um banco de dados e a ele adicionados os dados coletados. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará (CEP/UFC), sob CAAE n° 67210323.90000.5054 e parecer n° 5.936.031.
Resultados e Discussão No ano de 2023, no CIATox, foram registrados 3.254 casos de acidente com escorpiões, dentre eles, 2.789 casos ocorreram em Fortaleza, dos quais o gênero feminino foi o mais acometido, com 1.838 casos (65,90%). Em relação à faixa etária, a mais afetada foi a de 50 a 59 anos, com 415 casos (14,88%). Entre os casos registrados, 1.753 casos (62.85%) ocorreram pela picada do escorpião T. stigmurus, a espécie predominante no Ceará. Observou-se diferenças com respeito à ocorrência dos casos de escorpionismo nas regionais de Fortaleza. Considerando o número de casos de escorpionismo nos bairros foi possível organizar as regionais em ordem decrescente, quanto ao total de casos por região. A partir disso, destacaram-se a regional I com 352 casos (12,62%), a regional III com 290 casos (10,40%) e a regional XI com 257 casos (9,21%). Essas regionais apresentam um elevado número de bairros classificados com baixo IDH, segundo o IBGE. Tal situação está relacionada a áreas periféricas, que possuem saneamento e infraestrutura precários, além de coleta de lixo ineficiente, o que expõe a população à vulnerabilidade socioambiental. Esses fatores predispõem os grupos que vivem nesses locais a serem afetados pela proliferação de animais peçonhentos, como os escorpiões. Além disso, essas regiões possuem alta densidade populacional, e o escorpião T. stigmurus tem a tendência de habitar em áreas densamente povoadas, o que contribui para a maior ocorrência de casos de escorpionismo. A relação entre o IDH e o escorpionismo revela que diferenças socioeconômicas e estruturais presentes no município de Fortaleza levam a uma distribuição desigual desses casos, apontando causas estruturais para a perpetuação desse problema de saúde pública.
Conclusões/Considerações finais Os resultados evidenciam a importância de uma compreensão multicausal para combater o escorpionismo em Fortaleza. A alta incidência de acidentes com escorpiões, especialmente entre mulheres e indivíduos na faixa etária de 50 a 59 anos, a predominância do escorpião T. stigmurus em áreas com estrutura precária, baixo IDH e alta densidade populacional, reforçam a relação entre condições socioeconômicas desfavoráveis e a vulnerabilidade da população a acidentes com animais peçonhentos. Portanto, o enfrentamento dessa problemática deve ir além da educação em saúde. Para garantir a saúde da população é necessário combater causas estruturais subjacentes, que estão associadas ao IDH, como a baixa renda, o acúmulo de matéria orgânica e entulho nos bairros, bem como questões sanitárias e de infraestrutura precárias. Desse modo, a implementação de políticas públicas voltadas para melhoria da qualidade de vida é essencial, pois poderá resultar na redução significativa dos casos de escorpionismo.
Referências ALMEIDA, A. C. C. et al. Associação ecológica entre fatores socioeconômicos, ocupacionais e de saneamento e a ocorrência de escorpionismo no Brasil, 2007-2019. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 30, p. e2021009, 2021.
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PIRES, A. T. T. et al. Panorama dos acidentes por animais peçonhentos no estado do Ceará. Interfaces Científicas-Saúde e Ambiente, v. 9, n. 2, p. 319-334, 2023.
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