06/11/2024 - 08:30 - 10:00 PA3 - Cordel, Poetica e Performances: Saúde Coletiva em ação |
53628 - TOQUE: ARTE PARA SENSIBILIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO EM PROL DA HANSENÍASE PEDDRO HENRIQUE WERNECK VIEIRA DE SOUZA - UFPI, LYANA LEAL ROCHA - SMS FORTALEZA, FABIO SOLON TAJRA - UFPI, CIATEN, RENASF E PROFSAUDE
Contextualização A Hanseníase é uma doença infecciosa, transmissível e crônica causada pelo Mycobacterium
leprae, bacilo que afeta nervos periféricos, olhos e pele (BRASIL, 2022). É classificada como uma das
doenças tropicais negligenciadas, perpetuando ciclos de resultados educacionais e oportunidades
profissionais limitadas (WHO, 2023).
A arte, como forma de comunicação, pode transmitir conhecimentos e sentimentos profundos,
sendo útil para abordar questões de saúde. A Versão de Sentido, uma fala autêntica baseada em
experiências imediatas, permite a criação de significados relacionados a encontros vividos, expressos
por meio de várias formas artísticas (AMATUZZI, 2010).
Atividades de diálogo entre pesquisadores e pessoas atingidas pela hanseníase visam
sensibilizar e traduzir sentimentos e experiências em produções artísticas, como poesia. Isso associa
o desenvolvimento artístico do aluno ao projeto inicial do orientador e ao contato com a comunidade,
estimulando empatia e sensibilização.
Esse contato com a população atingida amplia as perspectivas para a produção e disseminação do conhecimento,
aumentando a visibilidade da hanseníase e promovendo reflexão e possíveis intervenções nas áreas de gestão em saúde.
Processo de escolha do tema e de produção da obra O Brasil ocupa a 2ª posição mundial em casos novos de hanseníase, com maior prevalência
nas regiões Norte e Nordeste. No Piauí, a hanseníase ainda é um grande desafio, representando a 5ª
maior taxa de detecção de novos casos por 100.000 habitantes no Nordeste (Ministério da Saúde,
2022). Além das consequências fisiológicas, a hanseníase carrega um estigma milenar, marcado por
isolamento compulsório em leprosários ou colônias (JESUS et al., 2023). Esse estigma ainda afeta os
acometidos, levando à desinformação e preconceito.
Dessa forma, a escolha do tema relaciona-se diretamente com a necessidade de se criar um
olhar mais atento acerca da hanseníase no Piauí. Tal produção artística, busca, portanto, sensibilizar
a população em geral e, em especial, gestores da área da saúde. Sendo assim, a arte atuará como
instrumento de conscientização e, possivelmente, como instigadora para a atuação dos órgãos
capacitados no combate da mazela no estado.
O processo de produção da obra se deu a partir da atuação do graduando em campo como
observador da realidade vivenciada por pessoas acometidas pela hanseníase em um dos centros de
referência para esse agravo no município de Teresina. Essa aproximação com a pessoa acometida
pela hanseníase esteve relacionada com uma série de expectativas, anseios e medos. Tais
sentimentos e afetações foram convertidos em produção poética.
Objetivo e período de Realização O objetivo principal da produção é sensibilizar gestores em saúde acerca da problemática da
Hanseníase.
A realização da produção foi feita em duas etapas. Na primeira, que durou de Setembro a
Outubro de 2023, foram realizadas entrevistas com pessoas acometidas pela hanseníase. Já a
segunda fase inclui a produção do texto propriamente dito, durante os meses de Novembro de 2023 a
Janeiro de 2024.
Descrição da Produção O texto poético a seguir denominado "Toque" é uma produção de versos livres construída com
base em afetações e no contato do autor com pessoas acometidas pela Hanseníase. A obra aborda
aspectos recorrentes associados ao estigma que acompanha a doença. O isolamento e a exclusão
são pontos relatados frequentemente e que devem ser levados em conta na complexidade do diagnóstico.
Toque
Toc toc,
Há quanto tempo não vejo alguém bater à porta?
As lesões não me causam dor
Mas essa solidão me corta
Sinto falta do seu toque, do seu abraço
O que mudou? Já não sei mais o que faço
Minha condição não fez de mim impuro
Mas a chaga do preconceito entre nós ergueu um muro
Recentemente só as palavras me acompanham
Os poemas foram amigos que me acolheram de verdade
A hanseníase pode muito ter me levado
Mas não tirou de mim a sensibilidade
Dia e noite me transmuto
A manhã vem de forma incerta
O mundo fechou as portas para mim
Mas a minha continua aberta
Ansiosamente aguardo o dia
De “ re-tocar" as nossas vidas
Mantendo sempre a esperança
De ouvir de novo suas batidas
Toc toc...
Será que dessa vez é você quem bate à porta?
Análise crítica da obra Nas estrofes 1 e 2, foi reunida uma série de afetações atribuídas a sentimentos vivenciados e
relatados em muitas das entrevistas. O isolamento e a perda do contato social refletem diretamente na
qualidade de vida das pessoas atingidas pela hanseníase, sendo muitas vezes mais dolorosas
que as próprias lesões. Além disso, também é evidenciado o estigma associado ao diagnóstico que
ergue muros, literais e figurativos, entre o acometido e as pessoas ao seu redor.
A estrofe 3 reflete a entrevista realizada com uma das pessoas atingidas pela hanseníase que
após o diagnóstico começou a escrever poemas como forma de expressão de suas experiências.
Reforçando a sensibilidade mesmo em vista de uma situação desfavorável.
As estrofes finais do poema expressam a resiliência mostrada por muitos das pessoas
entrevistadas, os quais buscam " retocar" e reconectar suas vivências pré e pós diagnóstico.
A disseminação dessa Poesia é uma estratégia de sensibilizar e mobilizar os gestores em
saúde, instigando reflexões e ações que melhorem o panorama epidemiológico da Hanseníase em
nosso Estado.
Assim como, a utilização de outras linguagens artísticas como a Poesia, pode se comunicar
mais facilmente e se tornar mais acessível às populações vulnerabilizadas e invisibilizadas, na
abordagem de doenças negligenciadas.
Referências AMATUZZI, Mauro Martins. Uso da versão de sentido na formação e pesquisa em psicologia.
Repensando a Formacao do Psicologo: da Informacao a Descoberta. Tradução . Campinas: Alinea,
1996. Disponível em: https://www.anpepp.org.br/acervo/Colets/v1n09a01.pdf .
WHO. World Health Organization. Neglected tropical diseases. 16 jan. 2023. Disponível em:
02019>
JESUS, Isabela Luísa Rodrigues de et al. Hanseníase e vulnerabilidade: uma revisão de escopo.
Ciência & Saúde Coletiva, v. 28, p. 143-154, 2023.
ALEMU Belachew, W., & Naafs, B. (2019). Position statement: LEPROSY: Diagnosis, treatment and
follow-up. Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology : JEADV, 33(7), 1205–
1213. Disponível em: https://doi.org/10.1111/jdv.15569 .
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