Produção Artística

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
PA2 - Poética e Imagens: Saúde Coletiva em ação

53338 - CONCURSO DE FOTOGRAFIA EU QUE HABITO O MAR: UMA ESTRATÉGIA ARTÍSTICA PARA DENÚNCIA EM TERRITÓRIOS PESQUEIROS VULNERABILIZADOS EM PERNAMBUCO.
THAYNÃ KAREN DOS SANTOS LIRA - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES/FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (IAM/FIOCRUZ), NATHALIE ALVES AGRIPINO - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES/FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (IAM/FIOCRUZ), RAFAELLA MIRANDA MACHADO - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES/FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (IAM/FIOCRUZ), ROSELY FABRÍCIA DE MELO ARANTES - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES/FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (IAM/FIOCRUZ), MARIANA MACIEL NEPOMUCENO - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES/FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (IAM/FIOCRUZ), MARIANA OLÍVIA SANTANA DOS SANTOS - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES/FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (IAM/FIOCRUZ), IDÊ GOMES DANTAS GURGEL - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES/FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (IAM/FIOCRUZ)


Contextualização
Em 2019, manchas de petróleo surgiram por toda a faixa litorânea da região Nordeste, atingindo 130 municípios e 1009 localidades. Em Pernambuco, as primeiras aparições se deram no dia 2 de setembro, nos municípios da Ilha de Itamaracá, Ipojuca, Olinda e Paulista, atingindo em seguida outros 16 municípios do estado (Santos et al.,2022).
As comunidades pesqueiras, ainda fragilizadas pelo desastre ambiental decorrente do vazamento de petróleo, foram impactadas pela pandemia de COVID-19, a qual exacerbou os processos de vulnerabilidade e silenciamento historicamente enraizados em seus territórios.
Cabe ressaltar que a resposta a situações de desastres devem considerar a participação ativa dos sujeitos dos territórios, considerando a diversidade de saberes para a compreensão dos problemas reais e para o desenvolvimento de estratégias territorializadas.
Nesse sentido, foi realizado um concurso de fotografia com o intuito de valorizar a captação de imagens reais como expressão artística e de criatividade, de forma profissional ou amadora, além de estimular o olhar crítico sobre os impactos socioambientais vivenciados pelas comunidades pesqueiras. Essas estratégias visam não apenas contribuir para fortalecer novas representações, mas também consolidar as iniciativas de resistência, resiliência e ações coletivas de solidariedade.


Processo de escolha do tema e de produção da obra
As comunidades pesqueiras têm sofrido inúmeras vulnerabilizações socioambientais, raciais e na saúde decorrentes das consequências do modelo de desenvolvimento, como o desastre-crime do petróleo em 2019, as monoculturas, avanços da indústria petroquímica, do turismo, entre outros.
A escolha do tema do concurso “Eu que habito o Mar” surgiu a partir da identificação da ausência do discurso dos pescadores artesanais, e a falta de representatividade nos meios de comunicação sobre as consequências dos desastres socioambientais, onde a prioridade midiática é destinada para vozes institucionais em detrimento das vozes dos territórios (Silva, et al., 2022).
Compreendendo que as populações das águas são reconhecidas por terem seus modos de vida, produção e reprodução social, desenvolvidos em ambiente aquático, o tema faz menção a mutualidade do mar na vida daqueles que os pertencem e que findam suas identidades numa ligação direta com as águas (Santos et al., 2022).


Objetivo e período de Realização
O concurso de fotografia teve como objetivo resgatar a memória coletiva do desastre-crime do petróleo. O período de realização ocorreu de 14 de julho a 30 de novembro de 2023, incluindo etapas de inscrição, seleção, divulgação do resultado e premiação. A premiação ocorreu durante o "Seminário Desastre-Crime do Petróleo no Litoral Pernambucano e a Saúde dos Povos das Águas". Mais informações estão disponíveis no link: campusvirtual.fiocruz.br.


Descrição da Produção
O Concurso de fotografia "Eu que Habito o Mar” teve como tema: O desastre-crime do petróleo e o mar, nesse sentido, as fotografias buscaram retratar as vivências das comunidades pesqueiras afetadas pelo desastre-crime (ano de 2019) e as estratégias de resistência, resiliência e ações coletivas para o enfrentamento desse problema sócio-ambiental.
Ao todo, 19 fotografias foram submetidas, sendo 12 na categoria amadora e 7 na categoria profissional. Complementando a narrativa visual, o poema “Mar de Lágrimas", do fotógrafo Ulisses Lima (2023) trouxe reflexões críticas sobre o cenário da pesca:

“Bata palmas para eles e elas, que sofreram e sofrem, não só com o desastre, mas com a pesca predatória, com as especulações imobiliárias e invasões de seus territórios com a não existência de uma política justa e real para a preservação do seus direitos e de seu maior patrimônio, o mar." (Ulisses Lima, 2023).

O fotógrafo abordou, em sua construção criativa, registrada tanto em sua fotografia, quanto em seu texto, os marcadores sociais, raciais e econômicos que descrevem as injustiças sociais, os quais mantêm pescadores(as) à margem de direitos sociais e com acessos limitados à políticas públicas.


Análise crítica da obra
As comunidades pesqueiras têm sido historicamente sujeitas a um largo processo de vulnerabilização que comprometem tanto seus territórios quanto seus modos de vida. O desastre-crime do petróleo, por exemplo, reflete a exploração desenfreada e da busca incessante pelo lucro que caracteriza o modelo de acumulação de capital. Esse modelo não só provoca exclusão social e sofrimento humano, mas também intensifica injustiças e devastação ambiental.
Para além disso, suas vozes e seus sujeitos sofrem constantemente com a invisibilização midiática, sendo colocados como meros figurantes em cenários de injustiças, na desconsideração dos saberes locais e ausência do exercício da participação no processo de decisões sobre seus territórios. Essa invisibilização ocorreu no contexto em que os mais prejudicados, foram também as pessoas que se envolveram na recuperação das áreas afetadas, sinalizando o apoio insuficiente dos órgãos competentes.
Dessa forma, a fotografia incide em um lugar da memória que transforma infinito o momento vivenciado, transmitindo uma imagem do passado, presente e futuro daqueles que se veem através da arte. O concurso fotográfico possibilitou a denúncia das vulnerabilidades sofridas pelas comunidades da pesca artesanal, ao mesmo tempo em que fortalecia a identidade dos sujeitos ao irem de encontro com sua territorialidade expressada através da produção artística.



Referências
SANTOS, Mariana Olívia Santana dos, et al. Oil Spill in Brazil—Analysis of Vulnerabilities and Socio-Environmental Conflicts. BioChem, Basel, v. 2, n. 4, p. 260–68, dez. 2022. DOI: https://doi.org/10.3390/biochem2040018. Disponível: https://www.mdpi.com/2673-6411/2/4/18. Acesso em: 07 jun. 2024.


SILVA, Lucas Iago Moura da; ANTUNES, Maria Bernadete de Cerqueira; ALBUQUERQUE, Maria do Socorro Veloso de; GURGEL, Idê Gomes Dantas; SANTOS, Mariana Olívia Santana dos. O derramamento de petróleo no litoral pernambucano a partir das narrativas do Jornal do Commercio. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde, [S. l.], v. 16, n. 4, p. 913–925, 2022. DOI: 10.29397/reciis.v16i4.3279. Disponível em: https://www.reciis.icict.fiocruz.br/index.php/reciis/article/view/3279. Acesso em: 07 jun. 2024.

Fonte(s) de financiamento: Programa pesquisa para o SUS: gestão compartilhada em saúde PPSUS/PE(CNPq/Decit/SCTIE/MS/SES/Facepe); Programa Inova Fiocruz; Programa Institucional de Territórios Sustentáveis e Saudáveis (PITSS); edital para projetos e ações estratégicas territorializadas visando a implementação da agenda 2030 da presidência da Fiocruz e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES).


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