51685 - PROJETO NEGROMURO JOAQUIM VENÂNCIO E OS TÉCNICOS NEGROS: MEMÓRIA INSTITUCIONAL DA FIOCRUZ RENATA REIS CORNELIO BATISTELLA - EPSJV/FIOCRUZ, FERNANDO JOSÉ SAWAYA BRITTO - PROJETO NEGROMURO, PEDRO GOMES RAJÃO - PROJETO NEGROMURO
Contextualização Esta iniciativa se situa no âmbito dos estudos e pesquisas de Memória Institucional desenvolvidos pela pesquisadora Renata Reis, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), sobre o trabalho, os trabalhadores e as relações de trabalho dos antigos técnicos de laboratório da Fiocruz. Trata-se de um desdobramento da pesquisa intitulada A “grande família” do Instituto Oswaldo Cruz: a contribuição dos trabalhadores auxiliares dos cientistas no início do século XX (REIS, 2018), que descreveu e analisou os processos, a divisão do trabalho e as relações sociais, buscando apreender a participação dos auxiliares de laboratório dos cientistas do Instituto Oswaldo Cruz na construção da ciência e da saúde pública brasileira entre os anos de 1900 a 1930. Personagens igualmente importantes para a história da Instituição, os auxiliares de laboratório da Fiocruz (que nos dias atuais seriam chamados de técnicos de laboratório), participaram da construção e desenvolvimento da ciência e da saúde pública no Brasil, atuando lado a lado com os cientistas nas pesquisas experimentais, na produção de medicamentos, vacinas, soros e outros insumos, no trabalho de campo das expedições científicas, no ensino, e tiveram uma participação fundamental no desenvolvimento da ciência e da saúde pública brasileira, mas são praticamente desconhecidos pela comunidade da Fiocruz.
Processo de escolha do tema e de produção da obra O conjunto de murais artísticos homenageou Joaquim Venâncio, patrono da EPSJV/Fiocruz e alguns dos antigos auxiliares de laboratório da Fiocruz que atuaram nos primeiros 30 anos da Instituição: Franciso Gomes (Chico Trombone), Antonio Nobre (Lino), Altino Rodrigues Benfica, José Barbosa da Cunha, Antonio Maria Filho (Nico), José de Vasconcellos, Eloy Inácio Rosas, Venâncio Bonfim e Sebastião Patrocínio. Os murais foram pintados nas paredes laterais externas do prédio anexo e do prédio principal da EPSJV/Fiocruz, localizados no Campus Fiocruz Manguinhos. Para conceber e executar o conjunto de murais artísticos, a EPSJV convidou o Negro Muro, um projeto de arte urbana independente que vem erguendo monumentos de memória negra em forma de pinturas em muros públicos. Composto por um artista visual e um pesquisador, cineasta e produtor cultural, o projeto NegroMuro vem contribuindo com a construção de uma memória social que enalteça lutas, conquistas e referências de pretas e pretos na cultura brasileira, fazendo da arte urbana uma política de patrimônio público e memória. Em ambos os murais a arte foi elaborada por Cazé com pesquisa e produção de Pedro Rajão, com base no trabalho da pesquisadora Renata Reis. Os murais compõem a construção, em curso, de um circuito de arte a céu aberto, com 58 pinturas em diversos locais da cidade do Rio de Janeiro e São Paulo.
Objetivo e período de Realização O objetivo mais geral do trabalho artístico é contribuir para a preservação da memória institucional do trabalho e dos trabalhadores técnicos em saúde da Fiocruz. O período de realização compreendeu um mês de planejamento, pesquisa e concepção dos murais e um mês de execução da obra, respectivamente abril e maio de 2024.
Descrição da Produção O primeiro mural, em homenagem ao Patrono da EPSJV/Fiocruz, Joaquim Venâncio, mede 3m X 5m e buscou retratar parte da trajetória de vida e trabalho do personagem: o laboratório de Adolpho Lutz, com quem trabalhou por mais de 20 anos pesquisando e colecionando diversas espécies de anfíbios, répteis, insetos e plantas; os trabalhos de campo que participou em diversas regiões do Brasil e no exterior, nesta imagem representado pela expedição à Venezuela em 1929; a relação com sua família, incluindo seu sobrinho Sebastião Patrocínio e seu gosto pela música. O segundo mural, homenageando os técnicos negros, mede 14m X 32m, e procurou representar a participação destes trabalhadores nas expedições científicas e nos laboratórios da Fiocruz em seus primeiros 30 primeiros anos de existência. Os técnicos são retratados lado a lado, em um mesmo plano da imagem, representando o companheirismo e a solidariedade que mantinham uns com os outros no trabalho e na vida pessoal.
Link para acesso: https://issuu.com/epsjv_fiocruz/docs/trabalho_de_artes_visuais_negromuro_d32d383dd09af1
Análise crítica da obra O intuito desta obra é estabelecer um lugar de materialidade para que a esses trabalhadores sejam conhecidos e reconhecidos por toda comunidade Fiocruz, atuando como alicerces de uma memória coletiva que pode revelar e expressar o compartilhamento de identidades comuns. Os personagens retratados atuaram na origem da Instituição e participaram ativamente da construção da ciência e da saúde pública brasileiras, no entanto, eram praticamente desconhecidos. O projeto vem ao encontro do princípio de uma Educação Politécnica Antirracista, adotada pela EPSJV em seu Projeto Político Pedagógico, firmando o compromisso de promover cada vez mais discussões sobre o tema, dando mais visibilidade ao combate ao racismo estrutural em todas as esferas, transformando assim o conjunto de edifícios da EPSJV em um monumento de preservação da memória desses trabalhadores. Além disso, a obra pode contribuir para ampliar a representatividade negra nos lugares de memória do Campus Manguinhos da Fiocruz, conectando com a história de Joaquim Venâncio e de outros técnicos negros, através da arte, fortalecendo um sentimento de pertencimento entre seus estudantes, funcionários, docentes e pesquisadores.
Referências EPSJV/Fiocruz. Manguinhos de Muitas Memórias: histórias dos trabalhadores técnicos da Fiocruz. Rio de Janeiro. 2021. Disponível em: https://www.expomemorias.epsjv.fiocruz.br/
NegroMuro. Projeto NegroMuro. Rio de Janeiro. 2018. Disponível em: https://negromuro.com.br/
REIS, Renata. A “grande família” do Instituto Oswaldo Cruz: a contribuição dos trabalhadores auxiliares dos cientistas no início do século XX. 2xxf. Tese de Doutorado em Educação – Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal Fluminense, 2018.
Fonte(s) de financiamento: Financiamento Fiocruz
|