Produção Artística

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
PA2 - Poética e Imagens: Saúde Coletiva em ação

51043 - ANTES QUE SE APAGUE: RECORTES DA MULHER POMERANA DO CAMPO
CAMILA LAMPIER LUTZKE - UFES, LORRAYNE CESARIO MARIA - UFES, MARIA ANGELICA CARVALHO ANDRADE - UFES, MARIA HELENA MONTEIRO DE BARROS MIOTTO - UFES


Contextualização
Em meados do século XIX, pessoas pobres, sem terras, diaristas e trabalhadores braçais seguiram da Pomerânia rumo ao Brasil, atendendo à política imigrantista do governo imperial que visava o branqueamento da raça, a criação de uma classe média, a abertura de estradas, e a criação de colônias (ULRICH, KOELER, FOERSTE, 2019). Hoje a terra mãe já deixou de existir, e seus descendentes fazem parte dos Povos e Comunidades Tradicionais brasileiros. Mesmo após séculos no Brasil, o cotidiano desse povo continua marcado por tradições ancestrais, que se adaptam e se transformam com as mudanças culturais (ROMIG, PITANO, NOAL, 2020). A mulher pomerana exerce papel fundamental em diferentes organizações sociais: na religião, na economia, nos cuidados, no gerenciamento doméstico. São as maiores responsáveis por conservar e transmitir sua cultura, mas ainda pouco retratadas, e precariamente consideradas nos processos formais de construção do conhecimento. A identidade do Povo Tradicional Pomerano abarca a terra em que está sua casa, as plantações, hortas e pomares, as criações de animais, além do trabalho, família, vida em comunidade, a tradição evangélica luterana e a língua pomerana (ULRICH, 2021). Considerando os atravessamentos entre cultura e saúde, compreender a população dessa comunidade é avançar rumo a uma prática de cuidados mais eficaz, humana e exitosa.

Processo de escolha do tema e de produção da obra
De um baú de memórias familiares, surgiram fotos, escritas e relicários do povo pomerano. As cores desbotadas em tons de sépia sinalizam o apagamento, o distanciamento, o esquecimento, e ostracismo ao qual muitas vezes se condena a cultura e memória de uma comunidade. Embora a troca entre culturas seja esperada, os pomeranos do Espírito Santo ainda mantêm suas raízes fortes, tanto quanto aquelas que plantam na terra. A colagem digital foi realizada com recortes desses achados familiares, no ano de 2024, como parte do processo de construção de uma pesquisa de doutorado sobre a cultura pomerana e o desmame precoce. Ao se apresentar visualmente tantas mulheres, suas letras, o mato entre seus pés, seus vestidos de noiva e o rosto de seus filhos, podemos trazê-las para perto, para a luz, podemos dar voz a todo povo pomerano, porque as mulheres carregam consigo toda a comunidade. É um passo além das pesquisas acadêmicas, com a humanização de seus personagens, a aproximação entre pesquisadores, leitores, territórios e histórias. Um recurso visual para criação de vínculo, apego e conhecimento, visando tratar a saúde dessa população em toda sua complexidade. Cada uma das cinco colagens foi realizada com objetivo de mostrar um traço forte da cultura pomerana, que forja a identidade de seus descendentes.

Objetivo e período de Realização
Analisar o papel das mulheres pomeranas na preservação das tradições culturais, levando a reflexões sobre suas vivências e desafios dentro da comunidade, bem como as opressões da cultura globalizada. Assim é possível pensar nos impactos sobre a saúde da comunidade e gerir políticas públicas eficientes e inclusivas. Realizado no primeiro semestre de 2024.

Descrição da Produção
As colagens partiram de fotos do acervo pessoal da autora. A primeira traz a mulher pomerana em sua pluralidade de papéis sociais: criança, trabalhadora, noiva, mãe, mulher com seus desejos. Traz a receita, herança de gerações, os bordados coloridos, com a natureza do cotidiano, a arquitetura das casas construídas em mutirões. A segunda retrata o casamento, forte rito que une crença religiosa e expectativa social. Casam-se muito jovens, alguns ainda na adolescência. A festa dura vários dias, toda a comunidade é convidada. A terceira imagem é uma ode às mães, que equilibram a vida entre a lavoura e o berço, muitas vezes em uma fusão destes, onde o bebê permanece no campo em uma caixa de madeira durante o trabalho. A imagem 4 mostra a agricultora. Em uma sociedade onde os indivíduos são valorizados pela capacidade de produção, é difícil cumprir tantos encargos e permanecer produtiva. Esse esforço não raramente é invisibilizado e desvalorizado. Finalmente, aborda-se a língua pomerana. Wij reere Pomerisch! Nós falamos pomerano, e queremos o reconhecimento dessa brasilidade peculiar, e parte da formação da sociedade desse país. Acesse em: https://issuu.com/camilalampier/docs/colagens.

Análise crítica da obra
Quando discutimos a saúde coletiva, é essencial considerar políticas de saúde inclusivas e culturalmente competentes. A obra destaca a importância das mulheres pomeranas na preservação cultural, cuidados interpessoais, religiosidade e utilização e preservação do ambiente rural, propondo reflexões para melhorar a saúde nessa comunidade. Isso fortalece o Sistema Único de Saúde (SUS), assegurando que todos os brasileiros, independentemente de suas origens e práticas culturais, tenham acesso a cuidados de saúde personalizados e adequados. O SUS visa proporcionar cuidado integral, contemplando todas as dimensões da saúde, incluindo culturais e sociais. Reconhecer e integrar a cultura pomerana nas práticas de saúde resulta em um atendimento mais completo. Comunidades tradicionais muitas vezes enfrentam desigualdades e marginalização. Políticas de saúde que consideram a diversidade cultural ajudam a combater essas disparidades, promovendo justiça social e equidade no acesso aos cuidados. Entender o Povo Tradicional Pomerano é crucial para desenvolver práticas de cuidado mais eficazes e acolhedoras. As mulheres são centrais nesse processo, desempenhando um papel decisivo na transmissão cultural e nos cuidados familiares e comunitários. Enaltecer a mulher pomerana é valorizar toda a sua comunidade e preservar tradições que também compõem a identidade brasileira.

Referências
ROMIG, K. L. K.; PITANO, S. C.; NOAL, R. E. Aspectos geográficos e culturais de uma região cultural pomerana no Rio Grande do Sul. Geosul, v. 35, n. 75, p. 300-324, 2020. DOI: http://doi.org/10.5007/1982-5153.2020v35n75p300.

ULRICH, C. B. Mulheres pomeranas: guardiãs da cultura e do cuidado amoroso da terra. In: 1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 12. Anais Eletrônicos. Florianópolis, 2021. ISSN 2179-510X.

ULRICH, C. B.; KOELER, E.; FOERSTE, E. Mulheres pomeranas em movimento. Revista Movimentação, Dourados, MS, v. 6, n. 10, p. 75-90, jan./jun. 2019. ISSN 2358-9205.

Fonte(s) de financiamento: Financiamento próprio


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