51239 - ABORTO UM EVENTO QUE CONTECE - LINGUAGENS OUTRAS PARA PENSAR AS INTERFACES ENTRE JUSTIÇA REPRODUTIVA E POPULAÇÕES VULNERABILIZADAS PRISCILA CARDIA PETRA - FIOCRUZ, KARINA DE CÁSSIA CAETANO - FIOCRUZ, SAMANTHA VITENA BARBOSA - UFBA
Contextualização A proposta do trabalho artístico visa abordar a justiça reprodutiva, por meio da linguagem audiovisual, em animações e infográficos, a fim de problematizar múltiplas práticas e reflexões em profissionais da saúde sobre os direitos sexuais e reprodutivos.
A produção partiu da compreensão de que, no Brasil, o controle da reprodução humana foi e é uma forma de coerção colonial, utilizada para invisibilizar saberes populares e subalternizar, sobretudo, mulheres e pessoas afroindígenas. A abordagem a partir da justiça reprodutiva decorre do fato do conceito incluir a pauta da aborto para além de um maniqueísmo a favor ou contra e articulá-lo com o tema do direito à maternidade, do genocídio de jovens negros, da autonomia reprodutiva e alimentar, entre outros aspectos.
Nesse sentido, os vídeos, que trazem histórias de três personagens fictícias, apresentam o tema do aborto circundado por outros questões igualmente relevantes, com atenção as interseccionalidades e iniquidades em saúde, com propostas de como podem ser implementadas práticas de atenção ao abortamento humanizadas, provocando o observador a pensar em outras realidades possíveis.
Processo de escolha do tema e de produção da obra Temas correlatos à justiça reprodutiva estão em constante disputa no Brasil e são objetos de pesquisa e incidência política das roteiristas, que são pesquisadoras integrantes de programas de pós-graduação em bioética e saúde coletiva. A partir dessa conexão, as roteiristas iniciaram pesquisa sobre interseccionalidades e justiça reprodutiva, criando a Coletiva de Bioética Flor de Jacarandá.
A produção, ilustração e animação dos três curtas metragem foram possíveis em função do projeto sobre aborto financiado pelo Futuro do Cuidado, desenvolvido para mobilizar a opinião pública em favor da pauta da descriminalização do aborto no Brasil no Supremo Tribunal Federal (STF).
A produção dos três curtas metragens escolheu os seguintes recortes: aborto (atenção e boas práticas), direito ao luto, gravidez na adolescência, ética do cuidado e reprodução assistida. Após, a ilustradora Sabrina Iovine desenhou cada frame de acordo com a direção artística das proponentes. A empresa DoCorpo foi responsável pelo designer e também colaborou na montagem da animação. Por fim, empresa Traduz Libras realizou a tradução do roteiro em libras, no intuito de deixarmos o material acessível. A tradução foi inserida no vídeo pela designer.
Objetivo e período de Realização Os vídeos objetivam abordar temas relacionados à justiça reprodutiva a partir de populações vulnerabilizadas, focando na atenção humanizada à pessoa em situação de abortamento. Assim, pretendemos provocar o espectador a pensar nas possibilidades de praticar a saúde como direito. O material busca contribuir com o debate sobre justiça reprodutiva e aborto entre profissionais da saúde e foi realizado de julho a setembro de 2023, quando a Ministra Rosa Weber votou sobre a pauta no STF.
Descrição da Produção Sinopse dos 3 curtas-metragens:
1 - Aborto, Justiça reprodutiva e direito ao luto
Bianca engravidou no ensino médio e se assustou com as dificuldades de criar um filho preto favelado enquanto estudava e trabalhava. Sofreu um aborto, lamentou a perda, mas pessoas não compreenderam seu luto. Ela entendeu que a justiça reprodutiva é o direito de gestar, parir e sofrer perdas com dignidade e suporte.
2 - Atenção ao aborto e Ética do cuidado
Paula, mulher negra e mãe, engravidou sem planejar. Sem condições de prosseguir com a gestação, buscou o aborto medicamentoso e conseguiu uma rede de apoio com misoprostol seguro. Realizou o procedimento como recomendado, auxiliada por pessoa da rede de apoio. Porém, durante o processo, decidiu ir ao hospital, a história aborda ética do cuidado.
3 - Boas práticas de atenção ao aborto: mulheres que escolhem seus caminhos
Laura e Aline passaram pelo processo de reprodução assistida pelo SUS, porém, descobriram o diagnóstico de anencefalia no feto. Buscaram o SUS para a realização do aborto legal e, durante toda a assistência, se sentiram acolhidas por profissionais.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=f0_9FCrZpKs&list=PLEwqzRn2zhhji0q8_N9MgWvxKEHLMUx6j
Análise crítica da obra A obra de animação, com linguagem lúdica e acessível, visa sensibilizar profissionais da saúde de diferentes níveis de formação. Cada vídeo, com até 3 minutos, é pensado para comunicação eficaz em redes sociais e para abordar justiça reprodutiva e bioética, especialmente entre os mais resistentes ao tema da atenção humanizada ao aborto.
O roteiro e a linguagem visual foram desenvolvidos para explorar as complexidades das histórias de vida das pessoas que abortam, focando nas emoções e contradições vividas.. A identidade visual jovial e vibrante é utilizada como um recurso para manter a atenção do espectador nos enredos e causar uma sensação de profusão de sentimentos, como ocorrem em casos de aborto.
Como o tempo dos vídeos não permite o aprofundamento em algumas questões como, por exemplo, ir além da identidade do gênero mulher e abordar sobre as sexualidades (o que pretendemos fazer na continuidade das ações da Coletiva), elaboramos três infográfico, um para cada vídeo, com dados mais consistentes sobre o tema e de livre e fácil acesso. A circulação das criações ocorreu, principalmente, pelas redes sociais, mas o material também é disseminado em instituições e espaços de formação da saúde.
Referências Amada Helena. Cartilha de orientação ao luto parental.
ANIS - INSTITUTO DE BIOÉTICA. Aborto: por que precisamos descriminalizar? Argumentos apresentados ao Supremo Tribunal Federal na Audiência Pública da ADPF 442. Brasília. LetrasLivres. 2019.
ANIS – INSTITUTO DE BIOÉTICA. Gravidez indesejada na Atenção Primária à Saúde (APS): as dúvidas que você sempre teve, mas nunca pôde perguntar. Brasília: Letras Livres, 2021.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA. Associação Brasileira de Reprodução Assistida.
DINIZ, D. et al. A magnitude do aborto por anencefalia: um estudo com médicos. Ciência e Saúde Coletiva, v. 14, n. 1, p. 1619–1624, 2009.
Lopes, F. Justiça reprodutiva: um caminho para justiça social e equidade racial e de gênero. São Paulo: Organicom, 2022.
NEM PRESA NEM MORTA. Mapa de argumentos ADPF 442.
FLOR DE JACARANDÁ. Disponível em: Link: https://www.youtube.com/watch?v=f0_9FCrZpKs&list=PLEwqzRn2zhhji0q8_N9MgWvxKEHLMUx6j
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