Comunicação Coordenada

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
CC10.2 - Novos saberes e desafios da ciência e da tecnologia na atualidade e seus aportes para a saúde coletiva

53163 - MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE AS EXPERIÊNCIAS DE “VIVER COM HIV/AIDS”: A PRODUÇÃO DE UMA ESTRATEGIA DE COMUNICAÇÃO PARA AMPLIAR AS MIRADAS SOBRE O HIV/AIDS
ERNESTINA TECU - ISC-UFBA, CRISTIAN DAVID OSORIO FIGUEROA - ISC-UFBA


Introdução e Contextualização
A transmissão do hiv tem aumentado nos anos de 2018-2024 na Guatemala. A política de prevenção da transmissão do vírus tem demonstrado a sua ineficiência no alcance das metas globais. Na atualidade, a transmissão tem se incrementado em comunidades indígenas. A extrema focalização das políticas preventivas exclui algumas experiências de viver com o vírus, gerando iniquidades na prevenção da transmissão do hiv.
Uma comunidade indígena solicitou conhecer mais sobre a vivência com o hiv e as estratégias e tecnologias para a prevenção da transmissão. Mas, o material de comunicação produzido pelo Ministério da Saúde, e as agências internacionais que trabalham na temática se situa numa compreensão ocidental da vida e das práticas sexuais e afetivas. Reproduzindo cânones colonialistas dos corpos, as sexualidades e, os afetos.
Os vídeos disponíveis se situam no Norte Global e privilegiam experiências homoafetivas e homonormativas, deixando de fora experiências flutuantes das sexualidades e os afetos. Além disso, posicionam a vivência do hiv como uma problemática eminentemente sexual, não considerando abordagens integrais do cuidado das vidas.
Nesse contexto, foi necessário iniciar uma estratégia de comunicação sobre a vivência com o HIV, situando o olhar desde a saúde coletiva em articulação com os saberes ancestrais indígenas e os saberes populares de pessoas que vivem com o hiv.

Objetivo para confecção do produto
Formular os roteiros e produzir materiais audiovisuais situados desde o olhar da saúde coletiva, se afastando das lógicas hegemônicas preventivistas e higienistas da saúde pública tradicional institucionalizadas no Ministério da Saúde e nas agências de cooperação internacional. De modo que possam ser comunicadas as vivências de pessoas situadas nas comunidades indígenas da Guatemala, respeitando as lógicas comunitárias do cuidado dos corpos, os afetos e as sexualidades.

Metodologia e processo de produção
Foi definida uma estratégia de comunicação sobre as vivências com o HIV partindo do marco teórico da vulnerabilidade ao HIV (AYRES; PAIVA; BUCHALLA, 2012; AYRES; PAIVA; FRANÇA, 2010), e os métodos de pesquisa indígena pós-colonial (CHILISA, 2020; SMITH, 2016). O desenho contemplou a vulnerabilidade programática, social e individual para viver com o vírus e, o impacto do vírus nas vidas das pessoas, famílias e comunidades.
Como parte do planejamento da estratégia de comunicação foi consultada uma pessoa como informante chave, quem indicou que o material audiovisual seria fundamental para o entendimento do grupo selecionado de uma comunidade indígena da Guatemala. Consequentemente, realizaram-se uma amostra fotográfica e uma projeção videográfica.
Para a realização dos vídeos foram criados roteiros com o intuito de produzir vídeos sobre um tópico específico transmitindo uma mensagem por vez, de forma coerente e sucinta. Foram identificadas/os profissionais de distintos campos do conhecimento na saúde ocidental, conhecimento ancestral e conhecimento popular.
A amostra fotográfica consistiu na elaboração de três posters pendurados nas paredes para a sua observação e discussão.

Resultados
A atividade foi realizada em uma sala comunitária da capital do município. A primeira etapa da estratégia contemplou a amostra fotográfica que incluiu informação sobre o que é o hiv/aids, os mecanismos de transmissão, os sintomas e os estádios da doença. Foram discutidos os impactos sociais da vivência com o vírus e a importância do cuidado familiar, comunitário e integral.
Considerando os tópicos pré-definidos e aqueles que emergiram no momento das entrevistas foi necessária a edição de cinco vídeos de 3 a 5 minutos de duração. Dois desses vídeos incluíam uma tradução ao idioma indígena da região na qual foram projetados. Os vídeos consideraram a opinião de profissionais da saúde, de comunitárias/os e de pessoas que vivem com o vírus, de modo que sejam apresentados olhares múltiplos sobre os tópicos o que foi bem recebido pelas pessoas participantes.
A estratégia de comunicação contemplou uma metodologia participativa estruturada em três momentos: observar-julgar-aplicar. As pessoas comentavam o conteúdo dos vídeos depois da projeção, construindo ideais coletivas sobre o observado. Logo, essas ideias eram ressignificadas aos contextos próprios de atuação das pessoas, fazendo vínculos entre os conhecimentos próprios e os conhecimentos comunicados nos vídeos. As pessoas condutoras funcionaram como facilitadoras do processo e não como expertas do conhecimento.

Análise crítica e impactos sociais do produto
O processo de produção da estratégia de comunicação demonstrou a necessidade de escutar outras vozes sobre as vivências com o hiv. Posto que, as estratégias de comunicação mais acessíveis e difundidas não representam de forma justa todas as experiências com o vírus. Ideias coloniais e higienistas sobre as sexualidades, os afetos e os corpos são reproduzidos. Portanto existe uma injustiça hermenêutica ao momento de comunicar o que é o hiv, o modo em que se transmite, e os impactos da vivência com o vírus.
No momento da projeção dos vídeos, foi percebida uma mobilização de sentimentos nas pessoas. Revelou-se que ainda existem ideias preconcebidas sobre a vivência com o vírus e desconhecimento sobre os impactos sociais desta vivência. Deste modo, quando as pessoas são expostas às realidades mais próximas com hiv, mobilizam-se sentimentos empáticos nas pessoas. Portanto, a inclusão de vozes múltiplas nos materiais de comunicação possui o potencial de criar pontes entre distintos espaços das sociedades, particularmente pluriepistêmicas.
Experiências similares podem ser replicadas. Contudo, destaca-se a necessidade de situar as estratégias de comunicação considerando os contextos territoriais e epistêmicos de intervenção. Podendo existir múltiplas correntes epistémicas que influenciam os processos de significação das experiências de saúde, doença e cuidado num mesmo contexto.

Referências
AYRES, J. R.; PAIVA, V.; BUCHALLA, C. M. Direitos humanos e vulnerabilidade na prevenção e promoção da saúde: uma introdução. Paiva V, Ayres JRCM, Buchalla CM, organizadores. Vulnerabilidade e direitos humanos: prevenção e promoção da saúde. Livro I: da doença à cidadania. Curitiba: Editora Juruá, p. 9-22, 2012.
AYRES, J. R.; PAIVA, V.; FRANÇA, I. From Natural History of Disease to Vulnerability. In: PARKER, R. e SOMMER, M. (Ed.). Routledge Handbook of Global Public Health. 1 ed. London: Routledge, 2010.
CHILISA, B. Indigenous Research Methodologies. 2nd ed. Los Angeles: Sage, 2020. 368 p.
SMITH, L. T. A descolonizar las metodologías. Investigación y pueblos indígenas. Tradução LEHMAN, K. 1 ed. Santiago de Chile: Lom ediciones, 2016. 308 p. 978-956-00-0657-8.

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