50320 - DESAFIOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA CLÍNICA EPIDEMIOLÓGICA APLICADA EM POPULAÇÕES RURAIS SOCIOECONOMICAMENTE VULNERÁVEIS ANDRÉ INÁCIO DA SILVA - UFSC, LYRIEL DE OLIVEIRA SANTOS - UNINGÁ, THALITA FONTANA MANOCCHI - UEM, CLAYTON MENDONÇA FERREIRA - UEM, BEATRIS TRUZZI SILVA - UEM, ALINE AMENENCIA DE SOUZA - UEM, RAUL GOMES AGUERA - UEM, SIMONE APARECIDA GALERANI MOSSINI - UEM
Apresentação/Introdução Segundo a Organização Internacional do Trabalho, trabalhadores do setor agrícola enfrentam, apesar dos avanços econômicos e tecnológicos contemporâneos, um risco de mortalidade três vezes superior ao dos trabalhadores de outros setores. Isso evidencia a importância de pesquisas voltadas ao monitoramento da saúde e à redução dos riscos. No entanto, a realização de estudos com a população rural apresenta inúmeros desafios, incluindo dificuldades metodológicas e logísticas (Gonçalves et al., 2018).
A qualidade da produção científica depende de rigor metodológico, robustez estatística e um delineamento capaz de minimizar vieses. Considerando o contexto diversificado da atividade agrícola brasileira e a carência de informações, é essencial especificar conceitos utilizados a fim de melhorar a comparabilidade dos estudos (Faria, Meucci, Fassa, 2023).
Assim, considerando o exposto e reconhecendo que artigos metodológicos têm a capacidade de fornecer novas perspectivas e valor didático sobre a aplicação de métodos pouco difundidos ou empregados em determinadas áreas (Bispo, 2023), objetivou-se discutir os aspectos metodológicos experienciados na condução de uma pesquisa clínica epidemiológica aplicada em populações rurais socioeconomicamente vulneráveis.
Objetivos Descrever as dificuldades e as estratégias metodológicas experienciadas e implementadas por pesquisadores ao conduzirem uma pesquisa aplicada em saúde com populações rurais socioeconomicamente vulneráveis.
Metodologia Estudo metodológico com considerações fundamentadas na literatura e nas experiências vivenciadas por pesquisadores envolvidos no projeto “Exposição crônica a agrotóxicos e disfunções metabólicas e psicoemocionais: análise da microbiota fecal e perfil inflamatório como estratégia de investigação”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Maringá (UEM), sob o parecer nº 6.209.432, de 31 de julho de 2023.
Financiado pelo Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), o projeto foi de natureza aplicada e estratégica, tipo clínico epidemiológico observacional. A aplicação dos resultados foi direcionada ao setor de informação e comunicação em saúde. O objetivo foi avaliar a relação entre o perfil inflamatório crônico, a microbiota intestinal e a ocorrência de síndrome metabólica e disfunções psicoemocionais em trabalhadores da agricultura familiar expostos cronicamente a agrotóxicos, buscando ferramentas para acompanhamento da saúde do trabalhador, contribuindo para a prevenção de agravos decorrentes de intoxicações crônicas.
Resultados e Discussão Da concepção do estudo à sua condução no campo de pesquisa, emergiram desafios metodológicos; para mitigá-los, foram implementadas estratégias específicas: 1) Seleção da População, Desafios de Acesso e Comunicação: Definir a população e o local do estudo é essencial para a formulação de projetos de pesquisa. Para essa definição, é necessário estabelecer um referencial teórico. Considerar tanto o tema quanto as questões logísticas é crucial, especialmente para comunidades socioeconomicamente vulneráveis em regiões periféricas. Durante a pesquisa, enfrentaram-se dificuldades de acesso, criação de vínculos e comunicação eficaz. Estratégias como divulgação em rádios locais e mídias sociais, além de contatos com gestores públicos, foram adotadas. Parcerias com associações e sindicatos também se mostraram eficazes; 2) Recursos e Apoio: Editais de fomento à pesquisa frequentemente não cobrem todas as necessidades dos projetos. A falta de apoio para itens não financiados, como locomoção e alimentação para participantes, é uma limitação significativa. É crucial que os grupos de pesquisa avaliem os recursos disponíveis e proponham ações viáveis. A burocratização na compra de equipamentos e insumos deve ser considerada na elaboração do cronograma de pesquisa; 3) Parcerias e Confiança: A ausência de um meio de comunicação formal e exclusivo entre pesquisadores e a população em estudo complica a interação entre ambas as partes e dificulta a formação de vínculos. Nesse sentido, o desenvolvimento de um meio de comunicação eficaz revela-se essencial, não apenas para o contato inicial, mas também para promover uma interação contínua que favoreça a criação de vínculos e propicie o estabelecimento de relações de confiança.
Conclusões/Considerações finais A agricultura é um setor de extrema importância econômica e social, contudo, envolve práticas prejudiciais à saúde humana e ambiental, inerentes ao modelo agroindustrial. Pesquisas científicas nesse contexto são essenciais para superar adversidades. No entanto, estudos, especialmente os epidemiológicos aplicados, ainda são escassos nas populações rurais devido a desafios metodológicos. Contudo, com planejamento e estratégias de mitigação bem formuladas, é possível realizar pesquisas complexas e de alto nível científico com essas populações. Este estudo não esgota todos os desafios na condução de estudos epidemiológicos, especialmente em comunidades socioeconomicamente vulneráveis. Todavia, as reflexões e sugestões práticas aqui apresentadas, são subsídios relevantes para futuros estudos.
Referências BISPO, Marcelo de Souza. Contribuições teóricas, práticas, metodológicas e didáticas em artigos científicos. Revista de Administração Contemporânea, v. 27, p. e220256, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2023220256.por. Acesso em: 03 Jun. 2024.
FARIA, Neice Muller Xavier; MEUCCI, Rodrigo Dalke; FASSA, Anaclaudia Gastal. Estudos epidemiológicos ocupacionais em área rural: desafios metodológicos. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 48, p. edcinq7, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2317-6369/35922pt2023v48edcinq7. Acesso em: 03 jun. 2024.
GONÇALVES, Helen et al. Population-based study in a rural area: methodology and challenges. Revista de Saúde Pública, São Paulo, Brasil, v. 52, n. supl.1, p. 3s, 2018. DOI: 10.11606/S1518-8787.2018052000270. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rsp/article/view/150144.. Acesso em: 5 jun. 2024.
Fonte(s) de financiamento: Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS) (SUS2020131000115)
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