Comunicação Coordenada

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
CC10.1 - Reflexões e práticas inovadorase os desafios atuais da política, planejamento e gestão em saúde

52395 - VIGILÂNCIA POPULAR EM SAÚDE E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO COMPARTILHADO
FERNANDO FERREIRA CARNEIRO - FIOCRUZ, ANA CLÁUDIA DE ARAÚJO TEIXEIRA - FIOCRUZ, VERA LÚCIA DE AZEVEDO DANTAS - FIOCRUZ, JULIANA ACOSTA - MINISTÉRIO DA SAÚDE, SAULO DA SILVA DIÓGENES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, MICHELE MENESES - ANEPS/UFRGS/SMS - RIO GRANDE, ALEXANDRE PESSOA DIAS - ESCOLA POLITÉCNICA JOAQUIM VENÂNCIO - FIOCRU, GRACIELA STORNINI DE ALMEIDA - MOVIMENTO DE TRABALHADORES SEM TERRA - MST/RS, JOÃO PAULO ALVES DA SILVA - JUSTIÇA NOS TRILHOS - JNT/MARANHÃO, PAULO ANACE - POVO ANACE - CEARÁ


Apresentação/Introdução
No contexto da pandemia pelo Coronavírus ocorreu uma emergência de experiências de Vigilância Popular em Saúde (VPS) pelo Brasil. Gabinetes de crise, comitês populares, coletivos, articulações solidárias, plataformas, observatórios acadêmico-populares, barreiras sanitárias populares, portais de monitoramento participativo são formas que surgiram nas favelas e nos territórios de povos tradicionais para o enfrentamento da Covid-19, dada a ausência de políticas efetivas, principalmente no âmbito federal (Carneiro & Pessoa, 2020). A VPS é um conceito em construção, mas suas raízes têm profundas relações com a Educação Popular e o pensamento de Paulo Freire (Freire, 2001). Uma de suas características fundantes é o protagonismo popular na defesa da vida, por meio da geração de dados na perspectiva da produção compartilhada de conhecimentos, monitoramento participativo com uso de tecnologias acessíveis e comunicação popular. A VPS pode ser potencializada quando ocorre uma articulação entre os movimentos sociais, a academia e o SUS na reivindicação por direitos fundamentais. As populações do campo, da floresta, das águas e urbanas têm desenvolvido estratégias de VPS frente aos impactos de grandes empreendimentos, em meio a situações de injustiça, racismo e conflito ambiental, ao tempo em que possuem modos de vida determinantes para a sustentabilidade socioambiental do planeta.


Objetivos
Este trabalho objetiva discutir a contribuição da pesquisa-ação no que se refere à visibilização, análise e apoio às experiências de Vigilância Popular em Saúde desenvolvidas nas cinco regiões do país, assim como, descrever o processo de elaboração do Guia de Vigilância Popular em Saúde e a Websérie Vigia, Povo! como formas de tradução do conhecimento voltado para o fortalecimento de políticas públicas e da ação dos movimentos sociais.



Metodologia
A metodologia de pesquisa tem referência na educação popular e nos princípios da Investigação Ação Participativa (Fals Borda), Pesquisa Participante (Brandão, 2006) e Pesquisa-ação (Thiolent, 2008) e na Ecologia de Saberes (Santos, 2009). Foi iniciada na pandemia e envolveu 12 experiências emblemáticas de VPS das 5 regiões do Brasil, que se inscreveram através de um formulário online elaborado pelo Participatório em Saúde e Ecologia de Saberes composto por instituições de pesquisa, movimentos sociais, comunidades e setores do SUS, a partir do qual foram realizados cursos, lives, grupos de discussão e elaboração de artigos de revisão sobre o tema. No percurso, aconteceram oficinas territoriais presenciais articuladas inicialmente pela coordenação da pesquisa em diálogo com participantes das experiências de VPS. As oficinas territoriais tiveram como caminho metodológico, as referências da cartografia social para identificação dos sinais que ameaçam e protegem a vida nos territórios, os círculos de cultura para problematização da realidade e visibilização de possibilidades de produção de inéditos viáveis para superação das situações-limite destacadas expressas em um plano de ação.

Resultados e Discussão
O Guia de Vigilância Popular em Saúde resultante desse percurso, incluiu mais de 100 autores acadêmicos, de movimentos e organizações populares e trabalhadores do SUS (Fiocruz Ceará, 2023). A organização da produção teve como referência a educação popular e a ecologia de saberes e incorporou além da escrita coletiva, a produção de cordeis e conversas desenhadas que propiciam o diálogo entre o saber popular e acadêmico e a inclusão de outras linguagens. A definição dos conteúdos e formato foi pactuada em encontros virtuais com os protagonistas das experiências realizadas semanalmente durante um ano. O Guia traz o registro das experiências produzidas por seus protagonistas, não apenas como mera descrição, mas identificando os atributos e princípios da VPS, os indicadores de denúncia e anúncio produzidos frente às situações limites que revelavam iniquidades, colonialidades e os inéditos viáveis construídos na promoção do Bem Viver. Foram produzidas em em ato, sínteses sob a forma de conversas desenhadas e imagens e narrativas em vídeo com apoio de comunicadores populares. Como desdobramento das oficinas territoriais, também foi realizada a produção de uma websérie tendo protagonistas das experiências como narradores que expressam seus aprendizados e conhecimentos, os indicadores de denúncia e anúncio, mas também reflexões sobre o que se pode considerar VPS, seus atributos e princípios inspiradores, ideias sobre formas participativas de trabalho já vivenciadas nos territórios.


Conclusões/Considerações finais
A construção do Guia de VPS foi desafiadora no sentido de romper com a hierarquização dos saberes e com a ideia de Guias historicamente identificados com normas e condutas a serem seguidas, ao tempo em que possibilitou a construção compartilhada de conhecimentos, além de contribuir com a redução de históricas desigualdades e a invisibilização dos movimentos populares na produção do conhecimento. Tanto o Guia de VPS como a Websérie Vigia, Povo!, são estratégias de popularização da ciência na perspectiva da tradução intercultural do conhecimento produzido de forma compartilhada desde o seu nascedouro. Desse modo, vale ressaltar suas potencialidades de uso como inspiração para o desenvolvimento de ações de VPS pelas populações do campo, da floresta, das águas e das áreas urbanas vulnerabilizadas, bem como ser utilizados como instrumentos de luta por direitos e em iniciativas de formação no SUS alinhadas com a Política Nacional de Educação Popular em Saúde e de Vigilância em Saúde.



Referências
Carneiro FF, Pessoa VM. Iniciativas de organização comunitária e Covid-19: esboços para uma vigilância popular da saúde e do ambiente. Trabalho, Educação e Saúde, v. 18, n. 3, 2020.
Freire, P. Política e educação: ensaios. 5ª Edição. São Paulo: Cortez; 2001.
Brandão CR, Streck DR. (Orgs.). Pesquisa Participante: o saber da partilha. São Paulo: Ideias & Letras, 2006.
Fiocruz Ceará. Participatório em Saúde e Ecologia de Saberes. SITE. Disponível em https://ceara.fiocruz.br/participatorio/inicio/. Acesso em 14 de junho de 2023.
Thiollent M. Metodologia da pesquisa-ação. 16. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
Santos BS, Meneses MP. Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, 2009.

Fonte(s) de financiamento: Programa Inova Fiocruz, Fiocruz Ceará e Fundação Heinrich Boll


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