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50176 - GRUPO DE DANÇA COMO ESPAÇO DE EMPODERAMENTO NA ATENÇÃO BÁSICA: PROMOÇÃO DA SAÚDE NA PERSPECTIVA FEMINISTA RAFAELA MARIA RODRIGUES - PREFEITURA MUNICIPAL DE GUARULHOS, MÔNICA MARTINS DE OLIVEIRA VIANA - INSTITUTO DE SAÚDE DE SÃO PAULO, MARIA IZABEL SANCHES COSTA - INSTITUTO DE SAÚDE DE SÃO PAULO
Apresentação/Introdução O grupo de dança “Cumbica Dance” foi criado em 2016 por profissionais do SUS do município de Guarulhos – SP, com o objetivo de estimular a prática de atividade física por meio de uma atividade prazerosa e divertida. Em quase oito anos, foram mais de 7 mil participações em 251 encontros. Além das aulas semanais, as coordenadoras do grupo desenvolveram atividades como rodas de conversa, bailes, aulas temáticas, excursões, ações de busca ativa do câncer de mama, infecções sexualmente transmissíveis e avaliação odontológica, além de apresentações em alguns eventos. O grupo é aberto para toda comunidade do território, mas é majoritariamente formado por mulheres. Ao longo dos anos, as coordenadoras do grupo observaram mudanças físicas e comportamentais destas participantes. As mulheres criaram fortes vínculos de amizades, começaram a se preocupar mais com a saúde e o autocuidado conforme participavam das atividades oferecidas pelo grupo. Além disso, outras questões foram surgindo durante os encontros, como relatos de violência doméstica, abusos e sofrimentos, suscitando novas reflexões e necessidade de se avançar em outras dimensões do cuidado, ampliando o olhar para o sofrimento feminino e para o empoderamento coletivo como prática da promoção da saúde.
Objetivos Conhecer os relatos sobre as vivências ao longo da trajetória de vida das participantes e identificar pontos estratégicos para o cuidado ampliado e empoderamento dessas mulheres.
Metodologia A pesquisa foi realizada com mulheres acima de 18 anos, participantes do grupo de dança “Cumbica Dance”, no período de novembro de 2022 a abril de 2023. A pesquisa exploratória de natureza qualitativa foi desenvolvida em duas fases. Na primeira fase, 29 mulheres responderam a questionários estruturados com questões objetivas de múltipla escolha e uma questão aberta, que abordaram perguntas com temas socioeconômicos, sobre saúde pessoal e o grupo de dança. Na segunda fase, 6 mulheres foram selecionadas para participar da entrevista individual semiestruturada, momento em que puderam compartilhar as suas experiências na vida. As respostas dos questionários foram tabuladas para análise descritiva dos dados. Já as entrevistas foram transcritas integralmente, e, através da técnica de análise de conteúdo, quatro categorias foram criadas para análise dos relatos: identidade, trajetória de vida, relação com a atenção básica e o grupo de dança. Os dados encontrados foram analisados em discussão com a literatura. A pesquisa foi aprovada pelo CEPIS – SP através do parecer 5.752.044 de 10/11/2022.
Resultados e Discussão A média da idade encontrada das participantes foi de 50,96 anos, 60% se declararam pardas ou negras, 48,29% não concluíram o ensino médio, 33% possuem uma renda familiar de até 01 salário, 24,13% trabalham fora de casa, 93,10% são SUS dependentes e 44,82% referiram tratar de alguma doença. Os relatos das participantes revelaram semelhanças significativas, como a condição de serem mulheres emigrantes, mães e avós. Muitas expressaram a necessidade de agradar ao outro, de ajudar o próximo, de ter que ser forte para a família, o que gerou sofrimentos durante toda a vida e frustrações, como a de não ter estudado, não ser independente financeiramente, de não ter aprendido a dirigir. Relataram também situações de vulnerabilização como fome, violência, racismo e outros preconceitos, e o convívio com parceiros alcoolistas. Nessas circunstâncias, as mulheres assumiram os papeis de cuidadora e mãe, gerando solidão e sobrecarga. O grupo de dança foi avaliado positivamente por todas as participantes, ressaltado como ambiente de apoio emocional, carinho e valorização. As entrevistas evidenciaram que o grupo de dança, além de constituir um espaço para a prática de atividade física, também serviu como um momento de espairecer, de conversar, de aprender e ser feliz, podendo avançar para debates sobre opressão e empoderamento. Tais aspectos parecem fazer sentido considerando o relato de vida das entrevistadas, porém não foram mencionados diretamente por elas e precisaria ser ainda problematizado.
Conclusões/Considerações finais Foi possível delinear o perfil do público e identificar aspectos psicossociais das participantes, o que favorece o direcionamento para as futuras atividades para que estas atendam às necessidades ampliadas de promoção da saúde. Identificou-se um padrão de pressão pelo machismo e sofrimento psíquico decorrente dessa estrutura patriarcal como pontos em comum no relato das participantes, e assim sinaliza a necessidade de se alterar a forma de conduzir os grupos de promoção da saúde para as mulheres. Aqueles que se propõem a dialogar com o público feminino devem desenvolver um olhar ampliado para as suas necessidades/singularidades, estimulando a problematização de temas como a dupla jornada de trabalho, carga mental e possíveis abusos físicos ou psicológicos, ou mesmo a dependência financeira. O enfrentamento coletivo dessas questões é responsabilidade de todos os profissionais da saúde e da comunidade, visando romper os ciclos de opressão da sociedade patriarcal.
Referências Rodrigues RM. O papel do grupo de dança no cuidado ampliado às mulheres: experiência na atenção básica de Guarulhos – SP. Dissertação (Mestrado) – Programa de Mestrado Profissional em Saúde Coletiva da Coordenadoria de Recursos Humanos da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/ses/resource/pt/biblio-1538014.
Dias TM, Oliveira CF, Terra LSV. Experimentações para a construção de novas abordagens de saúde da mulher na Atenção Primária à Saúde In: Nas entranhas da atenção primária à saúde. São Paulo: Editora Hucitec; 2021. 213-233.
Carvalho FFB, Nogueira JAD. Práticas corporais e atividades físicas na perspectiva da promoção da saúde na Atenção Básica. Ciência & Saúde Coletiva. 2016; 21(6):1829-1838.
Fonte(s) de financiamento: Recursos próprios.
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