Comunicação Coordenada

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
CC9.8 - Avaliação do Programa Nacional de Imunização (PNI): heterogeneidades e desafios

49650 - HESITAÇÃO VACINAL E DETERMINANTES ESTRUTURAIS DE GÊNERO, RAÇA E ETNIA
FLÁVIA MARIA MARTINS VIEIRA - UFPE, CELITA ALMEIDA ROSÁRIO - NIESP/FIOCRUZ, ESTER SOUTO PAIVA - NIESP/FIOCRUZ, GUSTAVO CORRÊA MATTA - NIESP/FIOCRUZ, PRISCILA CARDIA PETRA - NIESP/FIOCRUZ


Contextualização
O Brasil, assim como outros países, vem apresentando uma queda na taxa de cobertura vacinal desde 2016 e o fenômeno da hesitação vacinal se apresenta como um dos importantes motivos (SATO, 2018). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a hesitação vacinal pode ser compreendida como “um estado motivacional de conflito ou oposição à vacinação; isso inclui intenções e vontade”(WHO, 2022, p. VII). Uma gama de estudos, modelos e ferramentas vêm sendo construídos na tentativa de compreender e definir melhor o que representa a hesitação vacinal e os fatores que a determinam ou que contribuem para o seu avanço. Estudos no campo da Saúde Coletiva também vem demonstrando a imprescindibilidade de considerarmos os Determinantes Estruturais/Sociais da Saúde em nossas pesquisas e na formulação de políticas de saúde de modo a promover a saúde com equidade. Neste trabalho, através de uma revisão de literatura, objetivamos analisar como a literatura científica sobre hesitação vacinal incorpora os determinantes estruturais de gênero e raça/cor/etnia em seus estudos. Para isso, realizamos uma revisão de literatura baseada na análise de estudos publicados entre os anos 2016 e março de 2024.

Descrição da Experiência
Analisar como a literatura científica sobre hesitação vacinal incorpora os determinantes estruturais de gênero e raça/cor/etnia em seus estudos.

Objetivo e período de Realização
Para esta pesquisa, foram realizadas buscas nas bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scopus, PubMed e Web of Science. Foram incluídos estudos publicados em inglês, português, espanhol e francês considerando o período de 2016 a 2024. Esse recorte temporal justificou-se pelo início da discussão da queda de cobertura vacinal no Brasil e em diferentes países a partir do ano de 2016 (SATO,2018). Foram utilizados os seguintes descritores: hesitação vacinal; interseccionalidade; raça; gênero; identidade de gênero; etnia; etnicidade. Os resultados das buscas foram exportados para softwares gerenciadores de referências (Rayyan e Zotero). Realizou-se a exclusão dos duplicados. Foram lidos todos os títulos e resumos para a exclusão dos que não atendiam aos critérios de elegibilidade. Foram incluídos estudos completos de caráter qualitativos, quantitativos e métodos mistos que abordassem a hesitação vacinal e que utilizassem as categorias raça, e/ou gênero e/ou etnia em suas análises. A partir da leitura dos artigos selecionados foi realizada uma análise temática a fim de reconhecer tendências, identificar padrões e/ou categorias.

Resultados
O debate em torno do conceito de hesitação vacinal tem demonstrado o quão complexo e dinâmico tem sido a compreensão sobre o fenômeno, principalmente a partir da vacinação contra a COVID-19 em todo o mundo. A literatura científica aponta, por exemplo, para a existência de especificidades políticas e socioculturais associadas à hesitação vacinal (GONÇALVES et al, 2023). Nesta revisão de literatura identificamos um incremento significativo no número de estudos publicados sobre a temática da hesitação vacinal a partir do ano de 2020, como reflexo da discussão em torno da aceitabilidade e equidade no acesso à vacina contra a COVID-19. Na produção científica encontrada e analisada, identificamos que a maioria dos artigos foram escritos e publicados em língua inglesa. Dentre os artigos que utilizam em suas análises as categorias de gênero e raça e, por vezes, raça/etnia, poucos citam ou referenciam um debate acerca do conceito de interseccionalidade, não aprofundando a discussão nas causas das iniquidades estruturais como racismo e desigualdade de gênero que influenciam na hesitação vacinal. No conjunto de estudos analisados, identificamos que a determinação socioeconômica ainda aparece como predominante em detrimento de categorias como raça e gênero, as quais sabemos que são igualmente eixos estruturantes que organizam a vida social, reforçam iniquidades e condicionam padrões de adoecimento e acesso aos serviços de saúde, devendo ser analisadas em uma perspectiva interseccional (REIS et al, 2020).

Aprendizado e Análise Crítica
Esta pesquisa teve como objetivo identificar, mapear e sistematizar como a literatura científica vem compreendendo a hesitação vacinal no Brasil e em diferentes países e de que modo vem incorporando em suas análises as categorias de gênero, raça e etnia. Buscamos identificar as possíveis lacunas para a compreensão do tema e também as implicações dos achados dos estudos para as políticas sobre vacinas.

Referências
Sato, A. P. S.. (2018). What is the importance of vaccine hesitancy in the drop of vaccination coverage in Brazil?. Revista De Saúde Pública, 52, 96. https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2018052001199.

World Health Organization. Behavioural and social drivers of vaccination: tools and practical guidance for achieving high uptake. Geneva: World Health Organization; 2022.

Gonçalves, B. A. et al. Hesitação vacinal contra a COVID-19 na América Latina e África: uma revisão de escopo. Cadernos de Saúde Pública [online]. v. 39, n. 8 [Acessado 26 Setembro 2023] , e00041423. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-311XPT041423

Reis AP dos, Góes EF, Pilecco FB, Almeida M da CC de, Diele-Viegas LM, Menezes GM de S, et al.. Desigualdades de gênero e raça na pandemia de Covid-19: implicações para o controle no Brasil. Saúde debate [Internet]. 2020;44(spe4):324–40.

Fonte(s) de financiamento: Pesquisa financiada pelo Cnpq.


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