Comunicação Coordenada

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
CC9.6 - Avaliação de Tecnologias em Saúde

51542 - ANÁLISE DE CUSTO-EFETIVIDADE DOS IMUNOSSUPRESSORES EM RECEPTORES DE TRANSPLANTE RENAL: AVALIAÇÃO FARMACOECONÔMICA
FLÁVIA LÍCIA RODRIGUES MAGACHO - UFJF, ALFREDO CHAOUBAH - UFJF, GUSTAVO FERNANDES FERREIRA - UFJF, JULIANA BASTOS CAMPOS TASSI - UFJF, VINÍCIUS SARDÃO COLARES - UFJF, GUILHERME CÔRTES FERNANDES - UFJF, JULIANA TAVARES DE LIMA - UFJF, ANDRESSA DAIANA NASCIMENTO DO CARMO - UFJF, VANESSA FERNANDES FERREIRA - UFJF


Apresentação/Introdução
Um fator que tem contribuído para que o transplante renal seja considerado a melhor opção para o portador de doença renal crônica nos estágios terminais é o avanço tecnológico no que diz respeito à terapia de imunossupressão. O principal objetivo dessa terapia é aumentar a sobrevida do enxerto, evitando as rejeições agudas e crônicas do órgão transplantado (Guerra Junior et al., 2010).
Um regime contendo Tacrolimo e Micofenolato de sódio é considerado o padrão-ouro na terapia de manutenção do transplante renal (Lim et al., 2017). Outra opção de terapia é a combinação de Tacrolimo a um inibidor da via de sinalização mTOR; Sirolimo ou Everolimo. Evidências demonstram que essa associação é eficaz na prevenção de rejeição aguda e na maior redução da incidência de eventos por citomegalovírus (CMV) (Brasil, 2021).
A partir do ano de 2015, a Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora passou a implementar a substituição da terapia padrão-ouro para o transplante renal pelo uso de Tacrolimo e Everolimo.
Tendo em vista a importância das avaliações de custo-efetividade em tratamentos farmacológicos que compartilham os mesmos objetivos farmacoterapêuticos, mas com níveis de efetividade distintos, o presente estudo avaliou a relação de custo-efetividade dos regimes imunossupressores em pacientes receptores de transplante renal.


Objetivos
Avaliar a relação de custo-efetividade dos regimes imunossupressores utilizados em pacientes receptores de transplante renal, na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, MG, Tacrolimo + Micofenolato de sódio (Grupo 1 = 93 pacientes), comparado com a associação de Tacrolimo + Everolimo (Grupo 2 = 91 pacientes).

Metodologia
A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora e foi aprovada por ele, apresentando Parecer Consubstanciado nº 2.011.836, de 11 de abril de 2017. Trata-se de um estudo observacional do tipo coorte não concorrente, com coleta de dados retrospectiva, envolvendo uma população com idade igual ou acima de 18 anos, de ambos os sexos, que tenham realizado transplante renal.
Foi considerada uma coorte real de 184 pacientes, entre janeiro de 2013 e março de 2017. Os pacientes foram acompanhados por um período de um ano, o qual se constitui como o período mais crítico após o transplante renal. Nesse período foram mensurados os benefícios clínicos, bem como os custos associados, na perspectiva do SUS.
As comparações entre as duas alternativas de tratamento foram medidas pela razão de custo-efetividade incremental (RCEI). Neste estudo, optou-se por adotar a comparação das RCEI com dois Limiares de custo-efetividade (LCE), equivalente a 1 PIB per capita e 1 a 3 PIB per capita, ambos considerando o ano de 2017, correspondentes ao valores de R$ 31.587,00 e R$ 31.587,00 a R$ 94.761,00, respectivamente (IBGE, 2018).



Resultados e Discussão
No que diz respeito à sobrevida dos pacientes ao término de um ano tem-se o percentual 87% dos pacientes no Grupo 1. Já no Grupo 2, temos a taxa de 91% dos pacientes. O Grupo 2 teve uma efetividade incremental de 4% em relação ao Grupo 1 e um custo incremental de R$ 8.780,27; ao dividir esse custo pela efetividade incremental, tem-se a RCEI no valor de R$ 214.234,12 para 1 ano de vida ganho após o transplante renal. Dessa forma, pode-se dizer que, em relação à sobrevida, o regime imunossupressor do Grupo 2 não é considerado custo-efetivo em relação ao Grupo 1, já que a RCEI ultrapassou os dois LCE adotados.
Em relação aos desfechos de incidência de eventos adversos, cerca de 64,51% dos pacientes do Grupo 1 e de 84,61% dos pacientes do Grupo 2 não apresentaram nenhum efeito adverso ao término de um ano. O incremento de efetividade do Grupo 2 em relação ao Grupo 1 foi cerca de 20%. Ao dividirmos o valor de R$ 8.780,27, correspondente ao custo incremental, pela efetividade incremental de 20%, encontramos uma RCEI em cerca de R$ 43.682,98 para um ano sem incidência de eventos adversos após o transplante renal.
Ao considerarmos o LCE equivalente a 1 PIB per capita, em cerca de R$ 31.587,00, o Grupo 2 não pode ser considerado custo-efetivo em relação ao Grupo 1, pois ultrapassa o limiar. Em contrapartida, ao adotar o LCE referente ao valor de até 3 PIB per capita, o Grupo 2 pode ser considerado custo-efetivo em relação ao Grupo 1, ultrapassando cerca de 38% 1 PIB per capita.


Conclusões/Considerações finais
Conclui-se que, ao avaliar a sobrevida e a incidência de eventos adversos em pacientes transplantados renais, o regime imunossupressor contendo Tacrolimo e Everolimo não é considerado custo-efetivo, em relação ao esquema Tacrolimo e Micofenolato de sódio, diante do LCE até 1 PIB per capita. No entanto, ao adotarmos o LCE até 3 PIB per capita, o regime contendo Tacrolimo e Everolimo é considerado custo-efetivo, ultrapassando cerca de 38% 1 PIB per capita.
O presente estudo diferencia-se especialmente de outras análises farmacoeconômicas devido ao fato de trabalharmos com a abordagem de custos bottom up, a qual é considerada como padrão-ouro nos estudos de avaliações econômicas, uma vez que permite o custo individual dos recursos por paciente ou doença. Espera-se, com a realização do presente estudo, o subsídio de evidências concretas para posteriores decisões nos esquemas imunossupressores dos diversos centros de transplantes renais.


Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Portaria Conjunta da SAS/MS nº 1, de 5 de janeiro de 2021a. Aprova o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Imunossupressão em Transplante Renal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 janeiro 2021.
Guerra Junior AA, Acúrcio FA, Andrade EIG, Cherchiglia ML, Cesar CC, Queiroz OV, et al. Ciclosporina versus tacrolimus no transplante renal no Brasil: uma comparação de custos. Cad Saúde Pública. 2010;26(1):163-74.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. PIB avança 1,0% em 2017 e fecha ano em R$ 6,6 trilhões. 2018. Available from: https://agenciade¬noticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noti-cias/releases/20166-pib-avanca-1-0-em-2017-e-fecha-ano-em-r-6-6-tri¬lhoes. Accessed on: May 15, 2018.
Lim MA, Kohli J, Bloom RD. Immunosuppression for kidney transplantation: Where are we now and where are we going? Transplant Rev. 2017; 31(1):10-7.

Fonte(s) de financiamento: Este estudo foi uma dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Juiz de Fora, desenvolvida por Flávia Lícia Rodrigues Magacho, a qual foi bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).


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