Comunicação Coordenada

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
CC9.6 - Avaliação de Tecnologias em Saúde

49161 - CUSTOS DA RADIOTERAPIA ESTEREOTÁXICA ABLATIVA COMPARADA À RADIOTERAPIA CONVENCIONAL NO TRATAMENTO DE CÂNCER DE PULMÃO – UM ESTUDO DE MICROCUSTEIO
FERNANDO HENRIQUE DE ALBUQUERQUE MAIA - USP, KARINA GONDIM MOUTINHO DA CONCEIÇÃO VASCONCELOS - USP, HELOISA DE ANDRADE CARVALHO - USP, PATRÍCIA COELHO DE SOÁREZ - USP


Apresentação/Introdução
O câncer de pulmão representa uma das principais causas de morbidade e mortalidade no Brasil, com mais de 28 mil óbitos em 2020 e uma estimativa de 32 mil novos casos anuais no triênio 2023-2025. A taxa de sobrevida em 5 anos para pacientes brasileiros com câncer de pulmão é de apenas 18%. Estratégias de diagnóstico precoce e rastreamento populacional são fundamentais para aumentar a detecção em estágios iniciais, onde o tratamento padrão é a lobectomia. No entanto, cerca de 18% dos pacientes são inoperáveis ou optam por não operar, sendo a radioterapia a abordagem preferencial nesses casos.
Na radioterapia convencional (CRT), o tratamento envolve uma dose total de 60 a 66 Gy em 30 a 34 sessões com uma sobrevida de 54% em 2 anos e altas taxas de recidiva. A técnica de radioterapia estereotáxica ablativa (SABR), que aplica altas doses de radiação em menos sessões, mostra um controle tumoral de 97,3% em 3 anos.
Sociedades de oncologia recomendam a SABR para pacientes com câncer de pulmão não pequenas células (NSCLC) em estágios iniciais e inoperáveis. No Brasil, a SABR não é amplamente utilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que reembolsa a técnica no mesmo valor da CRT, desestimulando sua adoção.


Objetivos
O objetivo deste estudo é descrever o processo de radioterapia em uma instituição hospitalar, comparando as técnicas de radioterapia convencional e radioterapia estereotáxica ablativa. Além disso, este estudo busca identificar e comparar os custos relacionados a essas duas técnicas em cada etapa do tratamento do câncer de pulmão de células não-pequenas.

Metodologia
Este estudo é uma avaliação econômica parcial do tipo análise de custo, utilizando microcusteio e o método TDABC (time-driven activity-based costing). Realizado em um hospital público terciário em São Paulo-SP, seguiu a diretriz brasileira de microcusteio. O TDABC permite uma compreensão detalhada dos componentes de custo, facilitando melhorias e otimizações.
A metodologia foi aplicada em 8 passos:
Identificação da questão de pesquisa: Pacientes com NSCLC submetidos à SABR ou CRT.
Mapeamento do processo: Do encaminhamento para radioterapia até a alta.
Identificação dos recursos: Incluiu profissionais e tempo dispendido, recursos estruturais e de pessoal.
Estimativa do custo total: Custos obtidos do setor financeiro do hospital e bases públicas, incluindo custos gerenciais e administrativos.
Estimativa da capacidade e taxa de custo de capacidade: Capacidade calculada e taxa expressa em R$/hora.
Estimativas de tempo: Obtido por entrevistas com profissionais.
Cálculo do custo total: Somatória dos produtos entre a taxa de custo de capacidade e o tempo utilizado em cada atividade.
Análise dos dados de custo: Custos analisados por componentes e etapas, destacando as diferenças entre as técnicas.


Resultados e Discussão
Considerando as etapas assistenciais, foi proposta uma agregação das atividades em 7 macroprocessos. Estes macroprocessos foram posteriormente validados com os representantes de todas as categorias profissionais envolvidas. A pré-consulta corresponde ao momento anterior ao tratamento. A consulta ambulatorial corresponde à consulta com o médico especialista em radioterapia. A simulação consiste em um exame que permite planejar o melhor posicionamento do paciente para o tratamento. O planejamento radioterápico é o momento em que a equipe multidisciplinar elabora um plano individualizado de radioterapia para o paciente. O tratamento envolve a administração da radiação ionizante, realizada em várias sessões. O tratamento se divide entre o dia da primeira fração (D1) e os outros dias de frações. A alta é o momento em que o paciente conclui o tratamento e recebe orientações para os cuidados subsequentes. Após a alta, o paciente retorna para consultas periódicas de acompanhamento, denominadas de pós-alta.
Os principais recursos identificados foram os profissionais envolvidos no atendimento, como médicos, físicos médicos, técnicos de radioterapia e enfermeiros, e os equipamentos utilizados, como aceleradores lineares e tomógrafos. Os custos dos recursos foram obtidos a partir de dados financeiros da instituição e de bases de dados públicas. Considerou-se também a depreciação dos equipamentos e os custos de manutenção.
Os resultados mostraram que o tratamento com SABR tem um custo inferior ao da CRT. O custo do tratamento com SABR em 5 sessões foi de R$ 4.447,71, enquanto o tratamento com CRT em 30 sessões foi de R$ 7.517,31. Quando considerada a depreciação dos equipamentos, o custo da SABR em 5 sessões foi de R$ 5.933,49, enquanto o da CRT em 30 sessões foi de R$ 11.683,54.


Conclusões/Considerações finais
O estudo mostrou que o tratamento do câncer de pulmão com SABR é mais econômico que o com CRT. Os equipamentos necessários para a SABR são ligeiramente mais caros, mas o número reduzido de sessões compensa esse custo, resultando em uma economia geral. Além disso, o maior tempo de tratamento da CRT reduz a capacidade de atendimento dos equipamentos, aumentando ainda mais os custos.
No entanto, o financiamento atual do SUS é insuficiente para cobrir totalmente o custo da SABR. A análise indicou que o reembolso cobre apenas 62% do custo do tratamento com SABR em 8 sessões, que é o protocolo mais comum na instituição estudada.
A SABR apresenta um custo menor em comparação à CRT, sendo uma alternativa financeiramente mais viável. Esses resultados podem servir como base para a formulação de políticas públicas e revisão do financiamento do SUS para a radioterapia, beneficiando tanto os pacientes quanto o sistema de saúde como um todo.


Referências
ARAUJO, L. H. et al. Câncer de pulmão no Brasil. Jornal Brasileiro de Pneumologia. Brasília: Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. 44: 55-64 p. 2018.
BRASIL. Diretriz Metodológica: estudos de microcusteio aplicados a avaliações econômicas em saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2022a. ISBN 978-65-5993-199-6.
CARVALHO, H. D. A. Radioterapia no câncer de pulmão. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 28, n. 6, p. 345-350, 2002.
DA SILVA ETGES, A. P. B. et al. An 8-step framework for implementing time-driven activity-based costing in healthcare studies. European Journal of Health Economics, v. 20, n. 8, p. 1133-1145, 2019/11// 2019.
ETTINGER, D. S. et al. Continue NCCN Guidelines Panel Disclosures NCCN Guidelines Version 3.2020 Non-Small Cell Lung Cancer. National Comprehensive Cancer Network. 2020
INCA. Estimativa 2023 : incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro. 2022

Fonte(s) de financiamento: CNPQ


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