04/11/2024 - 13:30 - 15:00 CC9.1 - Planejamento, monitoramento e avaliação de políticas: o aprimoramento com base em evidências |
49335 - AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO IMEDIATO DO HIV/AIDS EM TRÊS MUNICÍPIOS BRASILEIROS MARLY MARQUES DA CRUZ - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA (ENSP/FIOCRUZ), CLAUDIA VALERIA FONSECA DA COSTA SANTAMARINA - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA (ENSP/FIOCRUZ), RAQUEL BARBOSA MIRANDA - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA (ENSP/FIOCRUZ), MARCELA ALVES ABREU - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA (ENSP/FIOCRUZ), LIZA REGINA BUENO ROSSO - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE CURITIBA, ANDRÉIA SILVA - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE CAMPO GRANDE, RONALDO ZONTA - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE FLORIANÓPOLIS, EQUIPE QUALITATIVA DA PESQUISA* - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA (ENSP/FIOCRUZ), EQUIPE QUANTITATIVA DA PESQUISA** - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA (ENSP/FIOCRUZ), VANDA LÚCIA COTA - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA (ENSP/FIOCRUZ)
Apresentação/Introdução As últimas três décadas foram marcadas por esforços globais para prevenir, detectar e tratar precocemente a infecção pelo HIV, resultando em avanços técnico-científicos e na formulação de políticas públicas mais efetivas no enfrentamento do HIV/Aids. Apesar da redução da incidência do HIV, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS)1 destaca que a prevalência do HIV permanece alta, especialmente entre homens que fazem sexo com homens (HSH).
Resultados do Ministério da Saúde (MS) mostraram prevalência de HIV de 19,8% entre HSH com 25 anos ou mais, 9,4% entre HSH de 18 a 24 anos, e 5,3% para HIV e 8,4% para sífilis entre mulheres profissionais do sexo. No entanto, as altas prevalências indicam que a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) pode não estar acessível para grupos mais vulnerabilizados, visto que a maioria em PrEP é branca, tem alto nível de escolaridade e está na faixa de 30 a 39 anos, majoritariamente gays e outros HSH2.
O projeto A Hora é Agora3 (PAHA) apoia unidades do SUS nos municípios de Campo Grande, Curitiba e Florianópolis, fortalecendo estratégias de prevenção, expandindo testes rápidos de HIV para populações-chave, garantindo tratamento imediato conectando usuários(as) à rede de atenção, expandindo a notificação de parceiros com HIV, resgatando os que interromperam o tratamento e prestam serviços livres de estigma e discriminação.
Objetivos Avaliar os resultados das estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento do HIV/AIDS implementadas nas unidades apoiadas pelo Projeto "A Hora é Agora" nos municípios de Campo Grande, Curitiba e Florianópolis, de 2019 a 2022, enfatizando as dimensões de acesso e aceitabilidade e identificando as lições aprendidas e mudanças necessárias para aprimoramento contínuo.
Metodologia A pesquisa foi conduzida por meio de um estudo de caso múltiplo imbricado utilizando métodos mistos que complementam abordagens quantitativas e qualitativas. A análise quantitativa retrospectiva de indicadores de processo e resultado foi realizada com dados dos sistemas REDCap, Siclom e Si-CTA. Frequências absolutas e relativas foram calculadas para grupos de idade, raça/cor, escolaridade, gênero e populações-chave ao longo dos anos estudados entre usuários(as) testados(as) para HIV e aqueles com resultado positivo. Na abordagem qualitativa, foram utilizadas três técnicas: análise dos documentos relacionados ao PAHA; observação direta das estruturas e atividades dos serviços; e entrevistas com gestores, profissionais de saúde e usuários(as). No total, 89 entrevistas foram realizadas, abrangendo esses diferentes atores. A coleta de dados ocorreu de fevereiro a junho de 2023, e a integração qualitativa-quantitativa foi realizada de junho a agosto de 2023. A análise combinou, considerando as dimensões de acesso e aceitabilidade, procedimentos e resultados quantitativos e qualitativos, visando a convergência das fontes de evidência e a complementaridade dos dados.
Resultados e Discussão Para o período analisado, houve aumento na testagem de HIV nos três municípios, refletindo o sucesso das estratégias de TR, autotestagem e Index Testing. No entanto, o diagnóstico tardio ainda é um desafio, especialmente entre populações vulnerabilizadas, como HSH e pessoas que usam drogas injetáveis4.
A interrupção do tratamento foi outro desafio, particularmente entre usuários(as) de drogas e pessoas com comorbidades de saúde mental. A busca ativa para resgatar usuários(as) enfrentou obstáculos como dados de contato desatualizadas e rejeição de chamadas. Além disso, alguns profissionais atribuíram a responsabilidade da continuidade do tratamento aos usuários(as), destacando que os profissionais precisam melhor compreender as barreiras de acesso aos serviços de saúde5.
O acesso aos serviços por pessoas transgêneras, trabalhadores(as) do sexo e usuários(as) de álcool e outras drogas é limitado devido à estigma e discriminação, dificultando a testagem e o tratamento6. Em Curitiba, a testagem entre mulheres trans e trabalhadores do sexo aumentou, mas ainda é insuficiente. Em Florianópolis, a testagem para esses grupos foi mais restrita, destacando a necessidade de estratégias mais inclusivas.
O PAHA proporcionou maior suporte para as equipes, facilitando o cuidado com melhorias tecnológicas (CD4, carga viral e creatinina rápida, autoteste, telePREP). A aceitação das estratégias do PAHA foi positiva entre gestores, profissionais e usuários(as), reconhecendo os benefícios das ações implementadas, apesar das preocupações com a sobrecarga de trabalho e a sustentabilidade das ações. Importante destacar que a aceitação e a efetividade do Index Testing melhoraram ao longo dos anos e que essa estratégia é fundamental na identificação de novos casos de HIV.
Conclusões/Considerações finais Os resultados das estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento do HIV/AIDS implementadas pelo PAHA em Campo Grande, Curitiba e Florianópolis foram positivos durante o período analisado. Houve um aumento progressivo na testagem, na oferta de PrEP e na identificação de novos casos de HIV, além de melhorias na vinculação e retenção à terapia antirretroviral (TARV). No entanto, desafios permanecem, especialmente na notificação de parceiros e na busca ativa por faltosos. É necessário aprimorar a aceitação dos parceiros notificados para testagem e dos pacientes contatados para retorno ao tratamento. Além disso, é crucial expandir o acesso a serviços de saúde para pessoas trans, trabalhadores(as) do sexo e usuários(as) de álcool e outras drogas. Reforçar a provisão de Profilaxia Pós Exposição (PEP), PrEP e TARV para essas e outras populações-chave também é essencial para alcançar uma resposta mais abrangente e eficaz ao HIV/AIDS.
Referências 1. UNAIDS. Relatório Global do UNAIDS 2023. Geneva: Joint United Nations Programme on HIV/AIDS; 2023.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Prevenção combinada do HIV: bases conceituais para profissionais, trabalhadores(as) e gestores(as) de saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2017. 123 p.
3. da Cruz MM, et al. Comprehensive approach to HIV/AIDS testing and linkage to treatment among MSM in Curitiba, Brazil. PLoS One. 2021;16(5).
4. Farhadian N et al. The prevalence of PWID among those with HIV late presentation: a meta-analysis. Subst Abuse Treat Prev Policy. 2022;17(1):11.
5. Vega-Ramirez H et al. Awareness, knowledge, and attitudes related to HIV PrEP and other prevention strategies among physicians from Brazil and Mexico: cross-sectional survey. BMC Health Serv Res. 2022 Apr 22;22(1):532.
6. Rocon PC et al. Dificuldades vividas por pessoas trans no acesso ao SUS. Ciênc Saúde Colet. 2016 Aug;21(8):2517-26.
Fonte(s) de financiamento: Este estudo é uma colaboração entre a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), as Secretarias Municipais de Saúde de Campo Grande, Curitiba e Florianópolis, e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), financiado pelo Plano de Emergência do Presidente dos EUA para Alívio da AIDS (PEPFAR).
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