Comunicação Coordenada

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
CC8.13 - Perspectivas para o planejamento da Formação em Saúde nos diversos âmbitos

53906 - O ENCONTRO ENTRE PROFISSIONAIS DE SAÚDE E USUÁRIOS NA UBS: INTERSECCIONALIDADE, TECNOLOGIAS, POLÍTICA E GESTÃO NA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL SANITARISTA
MICHELLE GUIMARÃES DO CARMO - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), MARCIA THEREZA COUTO - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)


Contextualização
No início do segundo ano de formação do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva e Atenção Primária (APS) da Faculdade de Medicina da USP, nossa turma se divide em grupos para o primeiro estágio do ano - Gestão em APS, nos meses de fevereiro a maio de 2023 — tendo como principal atividade a observação do cotidiano de trabalho de uma gerência e de sua administração em uma Unidade Básica de Saúde (UBS). Após a aproximação com diferentes atividades, fluxos e processos tanto da gestão quanto da assistência de uma UBS integrada com serviço de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) no bairro Jardim São Jorge, periferia da zona oeste da cidade de São Paulo, percebi uma imensa receptividade com alunos de diferentes cursos e o grande impacto e atravessamento que esse tempo de aprendizado tem em suas formações. Considerando o lugar do encontro, os estímulos e construção de espaços para manutenção de diálogos, acolhimento de conflitos e formação de pensamento crítico que vivi e observei durante o estágio de gestão, me direciono na busca pela ampliação dessas experiências em uma completa imersão no cotidiano e na vida de trabalho da unidade. Sendo assim, a partir do vínculo construído com a gestora e sua equipe de profissionais, optei por dar continuidade à observação participante durante o período do Estágio Profissionalizante, nos meses de julho a dezembro de 2023.

Descrição da Experiência
Durante o tempo de estágio, foram percorridos dois caminhos: de um lado, o acompanhamento da rotina de trabalho da gestora em seus processos de tomada de decisão e condução da unidade durante um processo de acreditação; e de outro, a inserção no cotidiano do serviço, acompanhando uma equipe de saúde da família com suas práticas e processos de cuidado, considerando o contexto histórico, político e sociocultural de sua população e território adscrito. Em uma ponta, o acompanhamento e participação como aluna e profissional em atividades como reuniões internas e na rede de saúde, treinamentos de equipes, processos de construção compartilhada, gestão de recursos, planejamento de ações e aproximação com território e usuário, além de outras atribuições gerenciais. Na ponta assistencial, a observação e participação de atendimento médico e com a enfermagem, visitas domiciliares, ações no território, treinamentos, reuniões de equipe e com equipe multiprofissional. Destaco o lugar de privilégio e aprendizado muito particular que uma residência em saúde multiprofissional pode proporcionar: a atuação como profissional nutricionista do serviço e inserida em uma equipe de saúde, e também como aluna e sanitarista em formação. As observações foram registradas sistematicamente em diário de campo, com auxílio de fotografia documental e consulta a documentos políticos e históricos da unidade.

Objetivo e período de Realização
A experiência do estágio oferece uma imersão prática de 6 meses no campo da Saúde Coletiva a partir do contexto da APS e de seus profissionais e usuários. Através do acompanhamento de processos e participação de práticas de cuidado, buscou-se desenvolver competências profissionais, promovendo uma compreensão aprofundada das dinâmicas de trabalho, integralidade no cuidado e necessidades de saúde, considerando a interseccionalidade de marcadores sociais nas experiências de cuidado ofertadas.

Resultados
O acompanhamento da rotina da gestora permitiu o contato direto com políticas, programas, fluxos e protocolos da unidade e da rede; processos de construção compartilhada e gestão participativa; formação do profissional de saúde; gestão de recursos financeiros, humanos e materiais; gestão de qualidade; e gestão de pessoas, modos de comunicação, liderança e resolução de conflitos ou situações de crise. A imersão cotidiana permitiu contato com diversas situações inusitadas que demandaram respostas rápidas ou soluções criativas para algo que até então podia não ter solução, tanto por parte da equipe quanto de sua gestão.
Para a avaliação final da acreditação, foi feito levantamento do perfil sociodemográfico da população e perfil de atendimentos da unidade, além da revisão de políticas e fluxos internos e da rede, e treinamento de profissionais para novos protocolos de segurança e qualidade implantados.

Aprendizado e Análise Crítica
Tornam-se essenciais momentos de discussão e reflexão que costuram e relacionam diferentes atividades e observações, e construção de referencial teórico atrelado a prática atenta e voltada para as reais necessidades e demandas de saúde de uma população. Nas discussões do campo da interseccionalidade de marcadores sociais e da interdisciplinaridade de conhecimentos, experiências e práticas revelam-se fundamentais na busca de observar e entender complexidades que existam no cotidiano de trabalho e tomada de decisões e do papel importantíssimo do profissional como promotor de cuidado e saúde. As vivências e experiências do estágio reafirmam a importância de uma formação baseada em educação prática e espaços para construção de pensamento crítico na formação de profissionais comprometidos com a transformação social de suas populações. A prática supervisionada e imersão no cotidiano dos serviços oferecem um aprendizado significativo, permitindo desenvolvimento de competências essenciais para atuação efetiva e humanizada da prática e aberta a lidar com desafios. A formação que fomenta pensamento crítico voltado para emancipação e construção de saúde e liberdade, considerando marcadores sociais que interseccionam nossas estruturas pode ajudar a construir um SUS mais justo, equitativo e de qualidade com valorização da interprofissionalidade e da multidisciplinaridade.

Referências
BARATA, Rita Barradas. Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde. Editora Fiocruz, 2009.
COLLINS, Patricia Hill; BILGE, Sirma. Interseccionalidade. Boitempo Editorial, 2021.
COUTO, Marcia Thereza et al. Aspectos sociais e culturais da saúde e da doença. In: Martins, MA; Carrilho, FJ; Castilho, EA; Alves, VAF; Cerri, GG (Eds.).
HOOKS, Bell. . Ensinando pensamento crítico, sabedoria prática. São Paulo: Elefante, 2020.
MERHY, Emerson Elias; FRANCO, Túlio Batista. Por uma composição técnica do trabalho centrada no campo relacional e nas tecnologias leves. Saúde em debate, v. 27, n. 65, p. 316-323, 2003.
MINAYO, Maria Cecília de Souza; DESLANDES, Suely Ferreira; GOMES, Romeu. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Editora Vozes Limitada, 2011.
PEREIRA, Isabel Brasil; RAMOS, Marise Nogueira. Educação profissional em saúde. Editora Fiocruz, 2006.


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