49124 - PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SITUACIONAL EM UM CENTRO DE REFERÊNCIA AO IDOSO DURANTE A RESIDÊNCIA DE MEDICINA PREVENTIVA E SOCIAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA JÚLIA ZAPAROLLI - UNICAMP, GUSTAVO TENÓRIO CUNHA - UNICAMP, FÁBIO LUIZ ALVES - UNICAMP
Contextualização A proposta deste relato é apresentar parte do percurso de uma residente do Programa de Residência Médica em Medicina Preventiva e Social da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na participação em oficinas de planejamento de um Centro de Referência ao Idoso (CRI) na região metropolitana de Campinas.
Este Programa de Residência tem duração de dois anos ao longo dos quais o residente atua em diversos dispositivos da Rede de Atenção à Saúde e do Sistema Único de Saúde. O objetivo geral da residência é o desenvolvimento de habilidades para avaliação do sistema de saúde brasileiro, do perfil de saúde da população e da organização política e institucional do setor saúde no país.
Dentre essas competências inclui-se a prática do planejamento. Mas, embora o planejamento anual possa ser uma atividade exigida por normas institucionais, por vezes ele é realizado apenas em cumprimento às regras, sem que, de fato, se produza uma análise da situação ou proposição de ações. Portanto, a busca por uma instituição que estivesse verdadeiramente disposta a planejar ocorreu de forma ativa pelo Departamento de Saúde Coletiva (DSC) da Unicamp, firmando parceria com um CRI da região metropolitana de Campinas para a construção do planejamento anual deste serviço de saúde. Os dados expressos são oriundos da experiência de participação como residente apoiadora e registros em diário de campo.
Descrição da Experiência Foram realizadas quatro oficinas de planejamento e um encontro de avaliação. Participaram dos encontros os membros da equipe do CRI e três apoiadores, sendo dois profissionais do DSC da Unicamp e uma residente de medicina preventiva e social.
Foi utilizado como referencial teórico o Planejamento Estratégico Situacional (Matus, 1993) e o Método de Apoio à Cogestão em Saúde (Campos, 2000), sendo a presença do DSC um método de apoio institucional.
Foi adotada a roda de conversa com o uso de tarjetas para elaboração de painéis ilustrativos e discussão dos temas elencados. A intervenção dos apoiadores ocorreu principalmente nos primeiros encontros através da proposição do método e direcionamento dos grupos.
Inicialmente os apoiadores buscaram ofertar uma metodologia para levantamento das demandas e construção do diagnóstico situacional. Em seguida os participantes foram convidados a refletir sobre os problemas e soluções apresentadas e delimitar os objetivos gerais do serviço.
Houve dificuldade na delimitação dos objetivos, fazendo com que um encontro fosse dirigido ao esclarecimento de dúvidas e redirecionamento do grupo. Por fim, ocorreu a construção do plano operacional, que foi elaborado somente entre os trabalhadores e posteriormente apresentado, discutido e finalizado com todo o grupo. O quinto encontro ocorreu após seis meses com a finalidade de avaliação e revisão do plano.
Objetivo e período de Realização As oficinas ocorreram entre março e abril de 2023, e uma oficina em dezembro de 2023, com o objetivo de contribuir para o planejamento do serviço, além de proporcionar um cenário prático de aprendizado em planejamento em saúde para a residência em medicina preventiva social. A proposta deste relato é apresentar o percurso de construção coletiva do planejamento anual de um CRI da região metropolitana de Campinas e de que forma essa experiência contribui para a formação de Sanitarista.
Resultados O grupo deliberou pela aproximação do serviço com a gestão municipal de saúde; pelo fortalecimento do controle social; pela ampliação dos espaços de convivência, dos atendimentos em grupo e das abordagens em sala de espera; pela participação colaborativa em eventos de idosos; pelo oferecimento de educação em saúde do idoso na rede; pelo fortalecimento do vínculo com a APS, da estrutura de apoio matricial e da articulação da rede assistencial.
Até o encontro de avaliação houve progressão em alguns planos. Em relação ao controle social, a equipe aplicou um questionário de satisfação e realizou uma assembleia com os usuários, levando as demandas ao conselho municipal do idoso. Na assistência houve fortalecimento e reestruturação dos grupos terapêuticos, criação de um grupo para cuidadores e continuidade do atendimento multidisciplinar e ampliado ao idoso. No que tange o trabalho em rede, mapearam as equipes de estratégia de saúde da família (ESF) mais faltosas nas reuniões de matriciamento e realizaram reuniões com os gestores locais apresentando o trabalho do CRI, também criaram “mini” equipes de referência para as equipes da ESF, mantendo as visitas domiciliares em conjunto.
Aprendizado e Análise Crítica A experiência contribuiu para a formação da residente, disponibilizando um rico cenário prático ao pautar discussões sobre o funcionamento e articulação da rede de serviços de saúde, em especial entre a APS e o serviço secundário; sobre o progressivo desfinanciamento do SUS, com a crescente sobrecarga da equipe e problemas de infraestrutura; sobre as possibilidades de articulação política entre usuários e trabalhadores para garantia de seus direitos.
As técnicas do PES adaptadas ao nível local proporcionaram ferramentas poderosas de análise e intervenção da realidade concreta, possibilitando a solução de problemas e a melhoria de processos organizacionais. Assim, ficou evidente a importância de retomar este conhecimento para a gestão dos serviços.
Mas, além da experiência de planejar, houve a experiência de apostar no potencial da organização coletiva, de presenciar a cooperação entre profissionais motivados, engajados em torno de objetivos comuns, em última instância, visando melhorar o atendimento ao usuário.
Os apoiadores direcionaram, provocaram e explicaram conceitos ao grupo, mas, em grande parte, o sucesso desse planejamento ocorreu devido a boa relação entre os trabalhadores, a sua coesão em prol do serviço e o seu engajamento em torno dos princípios do SUS, fazendo com que o cenário de planejamento também se tornasse pedagógico no contexto de ensino da residência.
Referências ARTMANN, E.. O planejamento estratégico situacional no nível local:
um instrumento a favor da visão multissetorial. Cadernos da Oficina Social, v.
3, n. 1, p. 98–119, 2000.
BRASIL. Leis, decretos, etc. Lei n.o 6.932/81 de 7 de julho de 1981. Diário Oficial ,
Brasília, 9 jul. 1981. Seção 1, p. 12789-90. Dispõe sobre as atividades do médico
residente e dá outras providências.
BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Superior. Resolução CNRM
nª 23, de 6 de julho de 2021. Diário Oficial da União
CAMPOS, G.W.S. Um método para análise e co-gestão de coletivos: a constituição do
sujeito, a produção de valor de uso e a democracia em instituições: o Método da Roda.
São Paulo: Hucitec; 2000.
MATUS, C. Política, Planejamento e Governo. Tomo I. Brasília: IPEA, 1993.
Fonte(s) de financiamento: Não houve financiamento.
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