06/11/2024 - 13:30 - 15:00 CC8.12 - Gradução, Extensão Universitária e perspectivas da Saúde Coletiva |
53080 - FORMAÇÃO PARA A TRANSFORMAÇÃO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE NA GUATEMALA: APORTES DESDE A EXPERIÊNCIA DA GRADUAÇÃO DO INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA DA BAHIA CRISTIAN DAVID OSORIO FIGUEROA - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA DA UFBA E UNIVERSIDADE MAYA KAQCHIKEL, MATHEUS SILVA PEDREIRA - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA/UFBA, THAINÁ AFFONSO LAERT MIRANDA - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA/UFBA, ERNESTINA TECU - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA/UFBA
Contextualização Na formação de profissionais da saúde existe um predomínio dos conteúdos curriculares de caráter biomédico e que privilegiam o modelo médico-hegemônico. Além disso, os cursos de graduação na área da saúde privilegiam paradigmas de ensino, pesquisa e extensão seguindo lógicas eurocêntricas e deixando de lado a riqueza epistêmica nos territórios da América Latina. Como resultado os sistemas de saúde absorvem um contingente de profissionais voltados para o mercado e que, quando contratados pelos sistemas de saúde públicos, reproduzem as lógicas de subalternidade de outros paradigmas de saúde predominando a assistência médico hospitalaria.
Como contraproposta ao modelo tradicional de ensino surge no Brasil, o Curso de Graduação em Saúde Coletiva (GSC). O curso foi criado em 2009 no Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), graças ao Programa de Apoio à Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). Visa proporcionar formação crítica a agentes transformadores que possam intervir nas necessidades de saúde da população brasileira e reduzir iniquidades sociais e de saúde.
Na Guatemala, surge o curso de Medicina Geral Integral numa universidade indígena com o intuito de reivindicar a tecnologia e filosofia maia e transformar as práticas de saúde. Coexistindo com cursos tradicionais de medicina ocidental de universidades públicas e privadas.
Descrição da Experiência A experiência relatada se constrói a partir da reflexão de três narrativas que se misturam e entrecruzam em espaços diferenciados, entendendo a não linearidade do tempo-espaço. O ponto de encontro dessa polifonia é a (auto)formação de sujeitas/os no campo da saúde. A primeira, nasce da imersão de duas pessoas guatemaltecas no curso da saúde coletiva enquanto estudantes de pós-graduação. Neste processo, a exposição às leituras das áreas de concentração supõe uma ruptura com o conhecimento biomédico e a saúde pública, principalmente na busca de uma práxis ética e politicamente engajada sustentada no adensamento teórico-conceitual, que enriquece o conjunto de experiências de vida.
A segunda experiência nasce da prática tangível de graduandos da GSC compartilhada de forma escrita, em discussões nos corredores e na virtualidade. Além disso, o tirocínio docente constituiu-se como um espaço de escuta da experiência dos graduandos e o planejamento das aulas e dos processos avaliativos.
Por último, no trânsito de estudante a docente emerge a terceira experiência na construção de planos didáticos para os cursos de medicina de duas correntes antagônicas: a primeira, uma universidade de predomínio médico-hegemônico e a outra, uma universidade indígena construída sob outra lógica de pensamento. Neste processo se produz a confluência das experiências vividas e a confrontação com a realidade.
Objetivo e período de Realização Refletir sobre os aportes da experiência brasileira dos Cursos de Graduação e Pós-graduação em Saúde Coletiva oferecidos pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia para a formação docente e a construção de planos didáticos nos cursos de saúde coletiva e comunitária em duas universidades na Guatemala. As experiências se desenvolveram de 2020 a 2024.
Resultados A Graduação em Saúde Coletiva (GSC) é um projeto desenvolvido seguindo os princípios da Reforma Sanitária Brasileira (RSB) e do fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). A formação inclui experiência prática nos territórios e serviços de saúde, articulando habilidades práticas e conhecimentos teóricos.
A GSC estimula uma abordagem ética, política e emancipatória da educação que envolve movimentos sociais, territórios e serviços de saúde. Objetiva desenvolver sujeitos críticos comprometidos com a promoção da justiça social, a garantia do direito à saúde, o alcance da equidade de gênero e a adoção de uma postura antirracista. A formação proporcionada pela GSC contribui para a construção de sistemas de saúde justos, aborda as iniquidades sociais, desafia as práticas curriculares tradicionais e busca como meta o projeto de transformação social.
Na construção curricular foram considerados elementos das três áreas de concentração com metodologias baseadas na educação popular em saúde. Foram incluídos elementos curriculares sensíveis ao gênero, direitos da Mãe-Terra e o reconhecimento da pluralidade epistêmica.
Aprendizado e Análise Crítica A GSC promove os princípios fundamentais do SUS: universalidade, gratuidade e equidade. A diversidade de corpos e culturas, como estudantes trabalhadoras/es, mulheres, negras/os, quilombolas e indígenas de comunidades periféricas e pobres enriquece e democratiza o conhecimento.
No contexto guatemalteco, as instituições que não compartilham os valores da saúde coletiva nas atividades políticas, técnico-administrativas e técnico-operacionais (PAIM, 2002) dificultam a implementação dos planos de ensino. A universidade indígena mostrou-se receptiva aos conteúdos, contudo, são considerados distantes devido à baixa produção científica no país, a necessidade de tradução e adequação de textos ao contexto local.
Analisando as experiências, se destaca a importância do alinhamento estratégico dos programas formativos com os projetos políticos aos quais aspiram, especificamente a RSB e o SUS. Na Guatemala, a educação popular e a democratização da saúde ainda são tópicos contra hegemônicos. Por isso, a sua introdução nas grades curriculares é complexa, ainda quando os princípios ideológicos das universidades são igualmente contra hegemônicos.
Ressalta-se a importância do diálogo sul-sul sobre a maturidade teórico-metodológica, tecnológica e operativa dos cursos em saúde coletiva com vistas a emancipação de sujeitas/os comprometidas/os com a justiça social e a mudança das práticas de saúde.
Referências PAIM, J. Marco de referência para um programa de educação continuada em Saúde Coletiva. In: PAIM, J. (Ed.). Saúde, política e reforma sanitária. Salvador: Instituto de Saúde Coletiva, 2002. cap. 16, p. 215-230.
Fonte(s) de financiamento: O primeiro autor possui financiamento da Secretaria Nacional de Ciência e Tecnologia da Guatemala (SENACYT) e do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CONACYT), através do Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia (FONACYT) e do Fundo Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FINDECYT). FINDECYT/EducaCTi 13-2023.
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