52683 - INCLUSÃO E APRENDIZADO INTERCULTURAL: A EXPERIÊNCIA DE UM MESTRADO PARA ESTUDANTES INDÍGENAS NO ALTO RIO SOLIMÕES MAYARA DOS SANTOS FERREIRA - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA, ANNY BEATRIZ COSTA ANTONY DE ANDRADE - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA, SULLY DE SOUZA SAMPAIO - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA, LUIZA GARNELO - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA
Contextualização Os povos indígenas no Brasil ao longo de sua trajetória têm enfrentado diferentes situações de iniquidades sociais expressas pelos precários indicadores de saúde e educação, o que inclui a presença de barreiras de acesso à escolaridade formal. As articulações sociopolíticas que têm se firmado entre os movimentos indígenas e aliados profissionais têm gradativamente estimulado mudanças nos cenários de acesso às políticas públicas. É o caso das ações afirmativas, dispositivo legal que visa promover a igualdade de oportunidades e têm funcionado como ferramenta de inclusão de pessoas indígenas no ensino superior. Neste cenário, o Programa de Pós Graduação em Condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia (PPGVIDA) fomentou a criação de uma turma exclusiva para estudantes indígenas da Região do Alto Rio Solimões, com concentração no município de Tabatinga, Amazonas. A iniciativa faz parte do projeto “Rede solidária de políticas de inclusão social para indígenas na Amazônia”, que pretende observar as trajetórias de vida de pessoas indígenas e sua insurgência nos meios modernos de comunicação, analisando as dificuldades e as estratégias de superação. A turma é composta por 15 discentes de quatro etnias (Marubo, Tikuna, Kokama e Kaixana), residentes em territórios indígenas nos municípios do Alto Solimões.
Descrição da Experiência Experiência de construção e condução do curso de mestrado etnicamente adaptado. A fase inicial contemplou oficina com docentes com experiência no desenvolvimento de políticas afirmativas para povos indígenas, possibilitando reflexões sobre as práticas educativas a serem ofertadas no curso. Realizou-se um diagnóstico situacional da expertise dos alunos na área de Saúde Coletiva e oferta de nivelamento, visando melhor aproveitamento. Disciplinas inicialmente ofertadas versaram sobre temas habituais no ensino da Saúde Coletiva, como Bioestatística, Epidemiologia e Metodologia do Trabalho Científico, todas com conteúdo adaptado à temática indígena. Também explorou-se abordagens específicas de situações amazônicas em disciplinas como Espaço, saúde e ambiente na Amazônia. A fase atual prioriza oficinas de Vigilância em Saúde nas fronteiras, Espacialização de Agravos em Territórios Indígenas, Política Indígena e Indigenista. As atividades priorizam a horizontalização dos processos de aprendizagem e adaptação das ferramentas didáticas adequadas às especificidades étnicas aproximando saberes comuns às etnias. Os conhecimentos científicos habitualmente abordados de maneira positivista e de difícil acesso, vêm sendo adaptados ao contexto indígena, possibilitando a criação de estratégias contra hegemônicas de aprendizado.
Objetivo e período de Realização O mestrado acadêmico iniciou em setembro de 2023 e tem previsão de término em agosto de 2025. O objetivo do curso é oferecer através do mestrado, capacitação profissional para atuação na saúde coletiva com ênfase em saúde das populações indígenas do Alto Rio Solimões.
Resultados A análise dos principais problemas e agravos encontrados na região possibilitou o desenvolvimento das disciplinas, tendo os discentes como participantes ativos na construção do conhecimento. Os materiais e elementos contextuais foram integrados ao arcabouço teórico e filosófico da saúde coletiva. Considerando que os discentes provêm de diversas áreas de conhecimento (antropologia, agroecologia, biologia, enfermagem, farmácia, letras, logística, odontologia, entre outras), buscou-se elucidar a importância das graduações prévias dos alunos e interfaces com saúde coletiva. Nas disciplinas e oficinas os problemas de saúde discutidos são abordados para além da prevenção e notificação de agravos, destacando-os como espaços de expressão cultural e étnica. Além das atividades prescritas discute-se também barreiras de acesso à educação e à saúde vivenciadas pelos povos indígenas e as consequências do racismo no trabalho e ambiente acadêmico, buscando oferecer um espaço de acolhimento, escuta e ressignificação da formação, como potencializadora da voz indígena no campo da saúde coletiva.
Aprendizado e Análise Crítica A problematização das adaptações pedagógicas no desenvolvimento das aulas, aponta a necessidade de reformular práticas de ensino em turmas com especificidades étnicas, considerando as particularidades dos estudantes que chegam a esses espaços com referências não-hegemônicas. O curso envolve também a discussão da construção interprofissional do sanitarismo, considerando o caráter multiprofissional da turma. Alinhar os conteúdos das disciplinas às realidades práticas, mostrou-se elemento essencial para a produção de conhecimento inovador, capaz de transitar entre os saberes acadêmicos e tradicionais. Isto tem possibilitado reflexões para melhoria dos processos previamente estabelecidos, que se reflete na efetividade das práticas educativas nestes contextos. O desenvolvimento da proposta permite sinalizar a relevância de dinamizar e ampliar atividades consolidadas nas práticas educativas, estimulando espaços de aprendizagem flexíveis e alinhados com as necessidades dos estudantes, colaborando com a qualificação de profissionais indígenas para enfrentar problemas de saúde apoiados na sustentabilidade sociocultural e ambiental da região.
Referências Souza Lima, A. C. Ações afirmativas no ensino superior e povos indígenas no Brasil: uma trajetória de trabalho. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, RS, ano 24, n. 50, p. 377-448, 2018. Venturini, A. C.; Feres Júnior, J. Política de Ação Afirmativa na Pós-Graduação: O Caso das Universidades Públicas. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, SP, v. 50, n. 177, p. 882-909, 2020.
Fonte(s) de financiamento: O presente trabalho foi desenvolvido sob o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES), código n° 001 e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, através do Programa de Apoio à Pós-Graduação Stricto Sensu - POSGRAD.
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