Comunicação Coordenada

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
CC8.10 - Formação e Trabalho Médico

51678 - POLÍTICAS DE SAÚDE, REDES DE ATENÇÃO E LINHAS DE CUIDADO: TECENDO UMA NOVA MATRIZ PARA A FORMAÇÃO MÉDICA VOLTADA PARA O SUS.
LOURRANY BORGES COSTA - 1 UNIFOR, 2 UFC, CARINA BANDEIRA BEZERRA - 1 UNIFOR, MARIA VERÔNICA COSTA FREIRE DE CARVALHO - 1 UNIFOR, REJANE BRASIL SÁ - 1 UNIFOR


Contextualização
O século XX testemunhou 3 fases distintas de reformas curriculares na Educação Médica. A 1a fase defendia um currículo fundamentado nas ciências, também conhecido como ensino tradicional. A 2a fase trouxe inovações significativas, incluindo currículos baseados em competências, metodologias ativas de ensino-aprendizagem e a aprendizagem baseada em problemas (ABP). A 3a fase é marcada por currículos centrados nos sistemas de saúde, para aprimorar o desempenho desses sistemas e alinhar a formação profissional às necessidades locais (Frenk et al. 2010). O currículo do curso de Medicina da Universidade aqui relatado, iniciado em 2006, foi estruturado em módulos temáticos, com ênfase na ABP. Em 2017, após um processo de avaliação interna, o núcleo gestor do curso iniciou uma reforma. Isso resultou na criação e implementação de uma nova matriz curricular. A estrutura anteriormente baseada em ciclos de vida e síndromes foi substituída por um modelo fundamentado nas Redes de atenção à saúde e Linhas de cuidado do Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, com um foco especial na atenção primária à saúde (APS). Além disso, houve um maior enfoque na aquisição de competências atitudinais, no desenvolvimento pessoal e humanização dos estudantes e na formação de sua identidade profissional.

Descrição da Experiência
A nova matriz curricular, com implantação iniciada em 2021, mantém a carga horária total do curso, porém com aumento de atividades práticas. A estrutura com módulos integrados e baseada em problemas, foi substituída por uma estrutura contínua e linear baseada em sistemas (tanto biológicos, quanto de saúde) e linhas de cuidado, acompanhando o desenho proposto para o SUS. Com o objetivo de aumentar o vínculo do estudante com a comunidade e rede de serviços de saúde, foi planejado aumento do tempo de atividades em serviços de saúde, com práticas semanais em unidades básicas (UBS). A participação de professores médicos de família e comunidade na construção dos problemas aumentou a conexão com a rotina da APS. Nos módulos "Ações e práticas integradas em saúde" (APIS), há o desenvolvimento do vínculo do estudante com os serviços de saúde e a comunidade. Dentre as atividades realizadas estão a atenção à saúde, de forma individual e coletiva, incluindo ações com famílias e comunidades com a avaliação de necessidades de grupos de pessoas e suas condições de vida, a partir de dados demográficos, epidemiológicos, sanitários e ambientais, considerando dimensões de risco, vulnerabilidade e as condições de saúde. A abordagem metodológica integra reflexão-ação e articula competências com os demais eixos e módulos ao longo do semestre.

Objetivo e período de Realização
Relatar a experiência no planejamento de construção dos últimos anos da nova matriz curricular antes do internato médico, no curso de Medicina de uma Universidade do Nordeste brasileiro, na visão dos professores e baseado em reflexões dos alunos envolvidos. A experiência ocorreu de 2022 ao primeiro semestre de 2024.

Resultados
No primeiro ano, o foco é o estudo dos sistemas orgânicos, habilidades básicas de semiologia, organização do SUS, processo saúde-doença, ética, trabalho multiprofissional, cuidado centrado na pessoa, promoção da saúde e prevenção, práticas integrativas, além de reflexão sobre diversidade étnico-racial e de gênero e populações vulneráveis. No segundo ano, o enfoque é na saúde da mulher, criança e adolescente, cuidados com doenças crônicas não transmissíveis, saúde do idoso e pessoas com deficiência, saúde do homem, trabalhador e paciente oncológico, com treinamento em ambientes simulados e na comunidade. No terceiro ano, começam as atividades assistenciais ambulatoriais especializadas e hospitalares, com ênfase na rede de urgências e emergências e de atenção psicossocial. O oitavo semestre, antes dos dois anos de estágio obrigatório, é um semestre integrador dos conhecimentos prévios, com foco em gestão de saúde e resolução de casos complexos. Em 2024.1, este semestre foi planejado com a contribuição de professores de diversas especialidades, visando assegurar que os conteúdos curriculares desenvolvam as competências necessárias para o futuro médico generalista no SUS.

Aprendizado e Análise Crítica
A estrutura da matriz curricular demonstra a importância da integração entre ensino, serviço e comunidade, com práticas realizadas em cenários de trabalho reais, no desenvolvimento das competências profissionais dos futuros graduados (Zarpelon, Terencio, Batista, 2018). A matriz também promove a curricularização da extensão universitária, institucionalizando o potencial transformador do Ensino Superior (Almeida, Barbosa, 2019). Inclui novos temas essenciais para a formação médica, em conformidade com as Diretrizes Curriculares Nacionais. A reforma é marca do compromisso com a constante evolução da educação médica e com as necessidades do SUS.

Referências
ALMEIDA, S. M. V. DE; BARBOSA, L. M. V. Curricularização da Extensão Universitária no Ensino Médico: o Encontro das Gerações para Humanização da Formação. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 43, n. 1 suppl 1, p. 672–680, 2019.
FRENK, J. et al. Health professionals for a new century: transforming education to strengthen health systems in an interdependent world. The Lancet, v. 376, n. 9756, p. 1923–1958, dez. 2010.
ZARPELON, L. F. B.; TERENCIO, M. L.; BATISTA, N. A. Integração ensino-serviço no contexto das escolas médicas brasileiras: revisão integrativa. Ciência & Saúde Coletiva, v. 23, n. 12, p. 4241–4248, dez. 2018.


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