49799 - EXPERIÊNCIA SENTIDA E VIVIDA COM OS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE POR MEIO DOS CÍRCULOS DE PAZ, MEDIAÇÃO DE CONFLITOS E COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA RENATO ÂNGELO DE ALMEIDA MOREIRA - PPSAC/UECE; COVIO/UECE; LAPS/UECE; NÓS APS BRASIL., MARIA CRISTIANE LOPES DE SILVA - PPGS/UFC; COVIO/UECE; SEDUC/CE; NÓS APS BRASIL., GEOVANI JACÓ DE FREITAS - PPGS/UECE; COVIO/UECE, ANA PATRÍCIA PEREIRA MORAIS - PPSAC/UECE, RENASF, CMEPES-UECE; NÓS APS BRASIL., ANYA PIMENTEL GOMES FERNANDES VIEIRA MEYER - FIOCRUZ/CE, RENASF, NÓS APS BRASIL., MARIA DE FÁTIMA ANTERO SOUSA MACHADO - . RENASF/FIOCRUZ-CE; PROFSAUDE/FIOCRUZ-CE; NÓS APS BRASIL., CIBELLY MELO FERREIRA - PPGSF/RENASF/FIOCRUZ-CE; SMS; NÓS APS BRASIL., YARA MARQUES LIMA - PPGS/UFC; COVIO/UECE., CARLIANA ISABEL NASCIMENTO PEREIRA - PPGS/UFC; COVIO/UECE., MARIA DO SOCORRO DE SOUSA - PPGSF/RENASF/FIOCRUZ-CE.
Contextualização O presente trabalho trata de um relato de experiência desenvolvido no curso de formação, “Cuidando dos Conflitos e Prevenção da Violência nos Territórios”, dirigido para os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) de Fortaleza/CE. Essa experiência foi realizada durante os meses de abril a junho de 2023, com a facilitação dos pesquisadores associados, autores deste artigo, do Laboratório da Conflitualidade e da Violência da Universidade Estadual do Ceará (COVIO/UECE), em parceria com a equipe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/CE). A ideia surgiu da demanda oriunda de uma pesquisa realizada pela Fiocruz com os ACS, que perceberam a necessidade de favorecê-los ofertando um processo de formação voltado para metodologias que contribuíssem para lidar com os conflitos e com a prevenção às violências, como, também, para possibilitar o cuidado de cada um deles com sua saúde mental. Utilizamos, como aporte metodológico, as práticas dos Círculos de Construção de Paz (CCP), da Técnica da Mediação de Conflitos (TMC) e da Comunicação Não Violenta (CNV). Ainda contamos com os procedimentos de coletas de dados, formulários virtuais e impressos, observação participante, vídeo-entrevistas e diário de campo, contemplando a sistematização dos dados pela análise de conteúdo.
Descrição da Experiência O relato da nossa experiência se deu a partir do curso de formação de natureza teórico-vivencial, organizado em 3 (três) grandes módulos: I “Cuidando do Cuidador”; II Metodologias Dialógicas e III “Círculo Celebrativo”. Seu objetivo foi oportunizar e favorecer amplitude de escuta, diálogo e autoconhecimento nas vivências para o distensionamento das interações sociais no contexto da atividade laboral dos ACS. Foram feitas oficinas, técnicas de resolução de problemas, círculos de diálogo, mediação de conflitos e comunicação não violenta. Os encontros priorizam metodologias ativas, considerando os ACS como protagonistas ativos do processo com saberes e vivências de autocuidado, autoconhecimento e relatos de vida. A metodologia de diálogo utilizada predominou os CCP, que viabilizaram uma comunicação assertiva por meio dos elementos estruturantes, quais sejam, cerimônia de abertura e encerramento, check-in e check-out, construção dos valores, combinados e contação de histórias; TMC com a vivência de técnica de escuta ativa, rapport, caucus, brainstorming e parafraseamento; CNV com a experiência da observação sem julgamento, da nomeação e do reconhecimento dos sentimentos e das necessidades, e do aprendizado do pedido sem exigência. Diante dessas práticas, foram experenciadas oficinas com músicas, de escritas e relatos, como também de simulações e estudos de casos conflitivos.
Objetivo e período de Realização O curso teve como objetivo geral possibilitar aos ACS espaço de diálogo e escuta para a troca de saberes, histórias de vida e de cuidado, a fim de suscitar o cuidado dos conflitos e a prevenção da violência nos territórios de atuação. Ele foi realizado entre os dias 14 de abril e 07 de junho de 2023, com carga horária de 40 h/a, destinado a 20 (vinte) Agentes Comunitários de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), de Fortaleza- CE.
Resultados Obtivemos um resultado bastante significativo, tendo em vista as considerações apresentadas pelos ACS nos instrumentos de coleta. No decorrer das oficinas, dos CCP e dos demais recursos metodológicos utilizados, observamos que o espaço de conversa permeou toda a formação, deixando os participantes à vontade para interagir entre pares com suas histórias de vida e autocuidado mútuos. As práticas de lidar com conflitos e prevenção à violência, configurada no curso pelos CCP, TMC e CNV, viabilizou reflexões acerca da atuação dos ACS nos territórios e no universo de trabalho com outros agentes, atraindo a atenção para outros olhares e percepções sobre suas práticas profissionais e relações de convivência familiar e comunitária. Isso demonstra insights para mudanças significativas em suas atividades diante de conflitos e da ocorrência de variados tipos de violência. Por outro lado, os ACS perceberam que são capazes de atuar com outras estratégias diante de conflitos, sendo a escuta e o diálogo elementos essenciais para o cuidado de si e do outro, sem gerar desconforto para nenhum dos envolvidos.
Aprendizado e Análise Crítica Essa experiência piloto de formação para os ACS com as metodologias dialógicas (CCP, MC e CNV) são práticas diferenciadas e com potencial de ampliação na rede APS. A formação proporcionou vivências, técnicas e habilidades de possível aplicabilidade para lidar com situações problemas e interações sociais sem julgamentos e desgastes emocionais. Essa experiência comunga com o que diz a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS), que concebe a melhoria dos serviços do sistema de saúde não como uma questão apenas técnica, mas com mudanças nas relações, nos processos e, consequentemente, no cuidado dos profissionais. No olhar dos ACS, essa experiência corrobora com o PNEPS na medida que reconhecem o cotidiano como espaço de desafios, criatividades e que “práticas cooperativas, colaborativas, integradas e corajosas na arte de escutar a diversidade” são essenciais no trabalho, como afirma um ACS: “Não é fácil conviver com a violência diariamente. Isso nos faz adoecer e, muitas vezes, o ACS fica sem apoio para enfrentar tal situação, o que lhe ocasiona desmotivação”. “Este curso nos serviu para apoiar e nos trazer fortalecimento, possibilitando uma nova visão, um novo agir” (Formulário final, 06 de junho de 2023). Então, cabe uma ampliação dessa formação como uma experiência piloto neste momento? Convém, outros estudos e análises para resultados ainda mais conclusivos.
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ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. Trad. Mário Vilela. São Paulo: Ágora, 2006.
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VEZZULLA, Juan Carlos. Mediação: guia para usuários e profissionais. Florianópolis: Juan Carlos Vezzulla, Dominguez & Dominguez, 2001.
FREITAS, G.J. Ecos da violência: narrativas e relações de poder no Nordeste canavieiro. Rio de Janeiro: Relume Dumará: Núcleo de Antropologia da Política/UFRJ, 2003.
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