Comunicação Coordenada

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
CC8.7 - Democratização da Saúde e Educação Popular

53915 - ENCONTROS DE SAÚDE, COMUNICAÇÃO E CIDADANIA EM TERRITÓRIOS PERIFÉRICOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE EM NOVA IGUAÇU
LUISA BIASOLI DE MELLO REZENDE - VICE-PRESIDÊNCIA DE AMBIENTE ATENÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE (VPAAPS) - FIOCRUZ, VINÍCIUS ANTONIO ALVES PEREIRA - VICE-PRESIDÊNCIA DE AMBIENTE ATENÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE (VPAAPS) - FIOCRUZ, ALINE LOPES BITTENCOURT - VICE-PRESIDÊNCIA DE AMBIENTE ATENÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE (VPAAPS) - FIOCRUZ, ADRIANA MIRANDA DE CASTRO - VICE-PRESIDÊNCIA DE AMBIENTE ATENÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE (VPAAPS) - FIOCRUZ, ANA PAULA DE ALENCAR MACÁRIO SILVA - VICE-PRESIDÊNCIA DE AMBIENTE ATENÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE (VPAAPS) - FIOCRUZ


Contextualização
Territórios periféricos enfrentam inúmeros desafios quanto à garantia de direitos e cidadania. Num cenário com dificuldades cotidianas e crise de credibilidade do poder público, a desinformação tem se propagado com grande facilidade. Os efeitos da infodemia (GARCIA; DUARTE, 2020) mostram a importância de investir em estratégias que ampliem o acesso a informações seguras e confiáveis, além de tecnologias de promoção da saúde que fortaleçam o protagonismo na sua produção e tradução em práticas efetivas, com base na literacia em saúde (PERES, 2023).
Dessa forma, em abril de 2024 aconteceram os “Encontros de Saúde, Cultura, Comunicação e Cidadania em territórios periféricos: Tinguá, Vila de Cava e Miguel Couto”, em Nova Iguaçu (RJ). As oficinas foram viabilizadas pela parceria entre a equipe de Promoção da Saúde da (VPAAPS) - Fiocruz, a ONG Narrativa Periférica e dispositivos culturais locais.
Nossa atuação visou territorializar as diretrizes e princípios do SUS, adaptando a linguagem para ser compreensível a todos. Embasados em Freire (1996), realizamos processos de formação-ação para a cidadania, onde diversas formas de conhecimento interagem, promovendo uma visão de mundo orientada para a ação. Por meio de metodologias ativas, as oficinas abordaram temas nos campos da educação em saúde e produção audiovisual, divididos em quatro módulos.


Descrição da Experiência
Os módulos aconteceram em quatro finais de semana. A divulgação dos Encontros envolveu atores-chave dos três bairros citados de Nova Iguaçu. Não foram exigidos pré-requisitos, somente interesse em compreender mais o SUS.
Participaram adolescentes, jovens adultos, agentes comunitários de saúde, profissionais da saúde, líderes comunitários e outros, enriquecendo a diversidade de compreensão sobre saúde.
A equipe da VPAAPS/FIOCRUZ participou ativamente dos dois primeiros finais de semana. No primeiro, abordamos o desenvolvimento do SUS, seus princípios e diretrizes, além de discutir como o processo de saúde-doença é influenciado por mudanças sociohistóricas (SILVA, BICUDO, 2022). Realizamos também um debate sobre Redes de Atenção à Saúde.
No segundo final de semana focalizamos a territorialização dos conhecimentos já discutidos, realizando uma cartografia social de Tinguá. Selecionamos alguns determinantes sociais para serem observados pelos diferentes grupos, de maneira a construir um diagnóstico situacional do bairro. Tais categorias serão utilizadas para a produção do material audiovisual final.
Nos dois finais de semana seguintes, a ONG Narrativa Periférica trabalhou com o grupo as habilidades para a produção audiovisual, entendida como ferramenta de intervenção dos participantes aos problemas identificados e enfrentamento da desinformação sobre políticas públicas.


Objetivo e período de Realização
Os Encontros aconteceram durante quatro finais de semana em abril, com quatro oficinas sobre temas relacionados à saúde e quatro sobre produção audiovisual. Nosso objetivo era a construção compartilhada de saberes com a comunidade local sobre os direitos de cidadania no campo da saúde e seus processos de determinação social, ampliando as possibilidades dos participantes serem agentes de enfrentamento da desinformação nos seus territórios de pertencimento.

Resultados
As atividades propostas tiveram êxito quanto ao engajamento dos participantes. A estratégia de subdividir os grupos por faixa etária facilitou que os adolescentes se apropriassem das discussões. A dinâmica realizada na criação de debate de tema, foi efetiva, uma vez que todos conseguiram se envolver na construção de sentidos a partir da análise dos mecanismos de implementação das políticas de saúde. As atividades de cartografia social se destacaram pelo entusiasmo dos participantes, especialmente quando articuladas aos temas (Clínica Ampliada, Determinantes Sociais e outros) trabalhados nos demais encontros. A sessão mais mobilizadora dos participantes envolveu a seleção dos problemas principais do território e, a partir deles, a criação de materiais de intervenção, culminando na produção audiovisual. Por intermédio dessa atividade, puderam visualizar as relações com o território na prática. No fim dos turnos, realizamos uma dinâmica na qual deveríamos resumir a experiência em uma palavra. A construção de uma grupalidade potente para a redução da desinformação e incidência política pode ser observada por termos como: empolgação, entusiasmo, satisfação, surpresa e outros.

Aprendizado e Análise Crítica
Durante os encontros pudemos notar a necessidade de adaptar as metodologias de ensino para englobarem as demandas do território. Muitos participantes, de todas as faixas etárias, tinham conhecimento limitado sobre o SUS. O compartilhamento de saberes entre profissionais de saúde e a população revelou lacunas e desafios. Lacunas que não refletem a limitações dos trabalhadores, mas sim uma formação biomédica que prioriza a medicalização da vida e da doença.
Ao abordarmos normas e fluxos do SUS e da APS, alguns participantes se indignaram com a disparidade em relação às suas experiências. Isso gerou críticas e frustrações, refletindo uma crença generalizada de que o sistema de saúde não opera adequadamente. Tal cenário indica a necessidade contínua de uma educação em saúde mais abrangente e crítica, capaz de empoderar a população para exigir o funcionamento adequado e a melhoria do SUS. Bem como o investimento em organizar e efetivar as políticas públicas de saúde com foco na territorialização e atendimento das necessidades experimentadas pela população.
A importância dessa atividade reside na construção do SUS, por meio da emancipação e do empoderamento dos usuários a partir da compreensão do que é, como funciona e quais os mecanismos que os usuários têm para participar ativamente de sua consolidação e melhoria.


Referências
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia - Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GARCIA, Leila Posenato; DUARTE, Elisete. Infodemia: excesso de quantidade em detrimento da qualidade das informações sobre a COVID-19. 2020.
PERES, F. Alfabetização, letramento ou literacia em saúde? Traduzindo e aplicando o conceito de health literacy no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 28(5):1563-1573, 2023 DOI:10.1590/1413-81232023285.14562022
SILVA, Letícia Batista; BICUDO, Valéria. Determinantes sociais e determinação social do processo saúde-doença: discutindo conceitos e perspectivas. In: SANTOS, Tatiane Valeria Cardoso dos; SILVA, Letícia Batista; MACHADO, Thiago de Oliveira (Orgs.). Trabalho e saúde: diálogos críticos sobre crises. Rio de Janeiro: Mórula, 2022. p. 115-131.


Realização:



Patrocínio:



Apoio: