Comunicação Coordenada

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
CC8.4 - Formação e Cuidado em Saúde Mental

52403 - DESAFIOS E POTENCIALIDADES DA PRÁTICA DE CUIDADO À SAÚDE MENTAL IMPLICADA NO TERRITÓRIO
MARIA BEATRIZ GONÇALVES LEITE - UFC, MARIANA TAVARES CAVALCANTI LIBERATO - UFC, THAYANE BANDEIRA GIRÃO - UFC, LAÍS QUEIROZ SANTANA - UFC, CAMILLA SOUSA DOS SANTOS - UFC, ARTHUR FÉLIX OLIVEIRA COELHO - UFC, EVELLYN GISELY DE CASTRO - UFC, . - .


Contextualização
O presente trabalho trata de um relato de experiência de uma visita a uma Unidade Básica de Saúde (UBS), realizada como avaliação da disciplina de Psicologia e Saúde Coletiva I, do curso de psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), sendo realizado por um grupo de 5 estudantes.
A UBS caracteriza-se como a ‘porta de entrada’ do Sistema Único de Saúde (SUS), pois não apenas se pode acessar outros serviços de saúde mais complexos a partir deste, mas. também, por serem esses os locais que a população possui acesso aos Serviços Primários em Saúde (SECRETARIA DA COMUNICAÇÃO, 2024). Estes caracterizam-se como procedimentos de saúde que não necessitam de aparelhos com alta tecnologia ou atendimento específico, objetivando acompanhar e prevenir a população local de enfermidades através de diversos serviços.
Além disso, observa-se uma maior quantidade desses equipamentos em relação aos hospitais. Nesses locais, é fornecido um serviço multidisciplinar, com diversos profissionais da saúde, e territorializado, com trabalhadores conhecedores das especificidades do território para garantir um serviço que esteja de acordo com as necessidades dos moradores da região. Assim, atesta-se a importância da assistência em saúde ser implicada com as lutas de cada território e com os saberes da comunidade como uma forma de aumentar o acesso às políticas públicas, sobretudo às de saúde mental.


Descrição da Experiência
O presente relato tem como base a visita a uma UBS de um bairro periférico do município de Fortaleza, onde foi possível dialogar com três profissionais de diferentes categorias, a saber: profissional de Psicologia, Agente Comunitário de Saúde (ACS) e auxiliar administrativo. Para a escolha da UBS a ser visitada, considerou a relação com o território, o qual 2 alunas já o habitavam por meio de projetos da faculdade, e o contato com a equipe, visto que um dos membros da equipe conhecia uma enfermeira do posto.
O bairro no qual se situa UBS é periférico e marginalizado, marcado por lutas de territórios e por grande mobilização política por parte da população, possuindo um dos IDHs mais baixos de Fortaleza.
Os diálogos com os profissionais buscaram mapear os principais desafios e potencialidades da unidade visitada, assim como sua relação e suas movimentações dentro do território.
Destaca-se a importância dessa visita como forma de iniciação da aproximação de alunos universitários com o campo e das confluências que ocorrem entre a teoria acadêmica e a prática. Dessa forma, pôde-se aprender as diferentes formas como a psicologia se faz presente em meio a populações vulnerabilizadas e os modos de reinvenção da práxis para se adequar aos diversos contextos sociais; reiterando, assim, como a psicologia deve recriar suas teorias conforme as transformações sociais, não o contrário.


Objetivo e período de Realização
A visita foi realizada durante um turno, no mês de abril de 2024, levando cerca de 4 horas para conhecer o lugar e conversar com os profissionais que se disponibilizaram a acompanhar a equipe. O objetivo foi refletir acerca dos principais desafios para o cuidado em saúde mental na Atenção Primária à Saúde, implicado com as lutas do território, assim como as potencialidades desse engajamento na saúde coletiva.

Resultados
Durante a conversa com o profissional de Psicologia, foram relatadas diversas dificuldades acerca das brigas pelo território relacionadas às disputas de facções e à vulnerabilidade da população, o que se apresenta como um empecilho no engajamento da comunidade. Para as atividades de Psicologia, de acordo com o que nos foi explanado, é recomendada a priorização de sessões grupais para trabalharem em conjunto problemas comuns, como ansiedade, realizando triagens para definir quem possui perfil para os grupos. Porém, devido a conflitos dentro do território, pode haver desacordos entre participantes do grupo, preferindo que as questões levadas às sessões coletivas sejam genéricas.
Outro desafio às atividades grupais é a falta de engajamento da população quando estas são realizadas no equipamento, ganhando maior adesão quando passaram a ser exercidas em conjunto com coletivos do próprio território. Dessa forma, percebe-se a importância dos serviços de saúde irem ao encontro da população.
Destaca-se a necessidade de maior valorização dos funcionários das UBSs, os quais, sem qualquer orientação prévia,precisam buscar novas formações e recriar sua atuação para melhor atender a população.


Aprendizado e Análise Crítica
Pensar em saúde de qualidade não é apenas relacionar ao acesso a exames e a profissionais de saúde, mas também pensar em uma atuação implicada com as necessidades e os saberes de cada território com suas perspectivas comunitárias, assim como considerar os conflitos e as dificuldades da região, quando for realizado o planejamento das ações (MONKEN, 2005, p. 899).
Ao visitar a UBS do relato em tela, situada em uma região marcada por conflitos de território entre as facções e com uma população que sofre com a marginalização da sua própria vida, percebe-se a importância de um cuidado, sobretudo relacionado à saúde mental, o qual não ignora a vulnerabilização que é imposta a essa comunidade, nem os conflitos de territórios que impedem a livre circulação da população.
Em contrapartida, esse mesmo cuidado também deve considerar, para além dos desafios, as potencialidades existentes na comunidade, as movimentações políticas e sociais e as vivências no território, como uma forma, para além de aumentar o acesso aos dispositivos de saúde, de resistir e de combate às violências no cotidiano. Insistimos aqui na importância da implicação do cuidado, sobretudo o referente à saúde mental, o qual não pode ocorrer sem ouvir as pessoas, sem entender as lutas da população, sem aprender seus costumes, sem reconhecer a potencialidade própria do território e, também, sem se unir a essa reivindicação.


Referências
MONKEN, Maurício; BARCELLOS, Christovam. Vigilância em saúde e território utilizado: possibilidades teóricas e metodológicas. Cadernos de Saúde Pública, v. 21, p. 898-906, 2005.
SECRETARIA DA COMUNICAÇÃO, gov.br, 2024. Unidades Básicas de Saúde. Disponível em: . Acesso em: 05 de jun de 2024.


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