Comunicação Coordenada

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
CC8.4 - Formação e Cuidado em Saúde Mental

50131 - PROMOÇÃO DO AUTOCUIDADO NA SAÚDE MENTAL DE ADOLESCENTES
RAFAELLE BARBOZA MARQUES - HGF, MARIA ELIANA PEIXOTO BESSA - UFC, THAYNAH BARROS DE ARAÚJO - PMSGA, ALISSON SALATIEK FERREIRA DE FREITAS - UFPI


Contextualização
A saúde mental, definida como um estado de bem-estar que permite ao indivíduo lidar com os estresses da vida (OMS, 2008), vai além da ausência de doenças mentais. Esse estado de equilíbrio emocional e psicológico engloba o autoconhecimento, a estabilidade emocional e a capacidade de manter relacionamentos saudáveis, dividindo-se em três aspectos principais: o pessoal, que inclui pensamentos positivos e autoestima; o interpessoal, que abrange o cuidado e a conexão com os outros; e o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos, que envolve a aprendizagem e a capacidade de tomar decisões (Ramires et al, 2020)
Durante a adolescência, um período de grandes mudanças (Madaloz et al., 2023), torna esse público vulnerável a problemas de saúde mental (OPAS, 2018). Apesar da política de saúde mental ter sido instituída no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2001 (Brasil, 2001), observa-se longo dos anos uma invisibilidade dos adolescentes nesta política (Cubas et al, 2024).
A escola, amparada pela LDB (Brasil, 1996), torna-se um local propício para o autocuidado em saúde mental entre adolescentes. Com o intuito de desenvolver ações intersetoriais por meio do Programa Saúde na Escola que residentes em Saúde Mental Coletiva da Escola de Saúde Pública do Ceará (RESMULTI/CE) desenvolveram atividades grupais com jovens do ensino médio, buscando emponderá-los para o cuidado com sua saúde mental.


Descrição da Experiência
As Residências Multiprofissionais em Saúde (RMS) são programas de pós-graduação lato sensu que formam profissionais de saúde para trabalharem de forma integrada e humanizada, com duração de dois anos. No primeiro ano da Residência em Saúde Mental Coletiva em São Gonçalo do Amarante (Ceará), os diretores escolares procuraram os Centros de Atenção Psicossocial devido ao aumento de demandas de saúde mental dos alunos, como transtornos ansiosos, depressivos e ideações suicidas.
Em resposta, residentes de Enfermagem, Assistência Social, Psicologia e Educação Física desenvolveram uma intervenção grupal para promover o autocuidado em saúde mental dos adolescentes. Participaram 20 alunos do Ensino Médio, de 15 a 17 anos, indicados pela direção.
A intervenção consistiu em seis encontros no ambiente escolar, estruturados em três momentos: uma dinâmica inicial para conhecer o estado dos participantes e introduzir a temática; atividades com metodologias ativas para um debate lúdico; e a elaboração de um produto para avaliar o processo grupal. Os temas abordados foram: conceito de saúde mental e autocuidado, formas e práticas de autocuidado, determinantes da saúde mental e a Rede de Atenção Psicossocial. Adotaram-se estratégias ativas para incentivar a participação crítica e reflexiva dos alunos, promovendo autonomia e comprometimento.


Objetivo e período de Realização
Objetivo: Descrever a experiencia de uma atividade de intervenção de promoção da saúde mental e autocuidado desenvolvida com adolescentes em uma escola pública de ensino médio do município de São Gonçalo do Amarante (CE).
Período de Realização: A atividade, realizada entre março e abril de 2023, consistiu em seis encontros semanais nas quartas-feiras à tarde, agendados em conjunto com alunos, direção da escola e residentes


Resultados
Os resultados foram compilados sob os seguintes aspectos: impacto da educação em saúde mental para adolescentes e a importância das estratégias grupais na formação dos residentes.
No primeiro encontro, constatou-se que um déficit de conhecimento sobre saúde mental e a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), sendo um dos principais desafios para a promoção do autocuidado entre os jovens. Ao longo dos encontros, observou-se uma melhora significativa no entendimento dos participantes sobre o tema, permitindo-lhes reconhecer os determinantes da saúde mental (fatores socioculturais, pobreza, lazer, conhecimento, rede de apoio). Percebeu-se que houve uma melhora da compreensão da importância do autocuidado, e os participantes relataram que começaram a praticar algumas atividades de autocuidado discutidas, como meditação e exercícios de relaxamento.
A educação em saúde por meio de grupos mostrou-se uma ferramenta eficaz para promover o autocuidado em adolescentes, evidenciando a necessidade de capacitar os profissionais de saúde para conduzir esses encontros. Este projeto de intervenção permitiu que os residentes adquirissem competências no desenvolvimento e implementação dessa estratégia.


Aprendizado e Análise Crítica
Ao refletir sobre os aprendizados obtidos, destaca-se a importância da conscientização e do engajamento ativo. A formação de ambientes seguros para discussões e exercícios de autocuidado emerge como um elemento vital, desafiando os tabus persistentes tanto na sociedade quanto no cenário educacional (Silva, Barros, 2021). A participação ativa dos adolescentes mostrou que, apesar da resistência inicial, eles podem superar o estigma e desenvolver uma compreensão mais profunda sobre saúde mental, reconhecendo seus determinantes e a importância do autocuidado.
A literatura reforça a escola como espaço estratégico para a educação em saúde, capaz de promover fatores de proteção e reduzir riscos ligados à saúde mental. A falta de programas específicos nas escolas dificulta essa tarefa, revelando a necessidade de capacitação de alunos, professores e profissionais da saúde por meio da educação permanente (Belaid et al, 2017).
O desconhecimento teórico e o tabu em torno da saúde mental são grandes obstáculos. A visão estigmatizante de que doenças mentais estão associadas à loucura impede os adolescentes de buscar apoio RAPS. A intervenção evidenciou uma melhora significativa no entendimento e prática do autocuidado entre os participantes, demostrando ser uma importante estratégia para efetivação das políticas de saúde mental, criança e adolescente e educação permanente no SUS.


Referências
Brasil. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial da União 2001; 9 abr.

MADALOZ, R. F.; SILVA, J. N. R.; ALVES, C. R. da S. T.; LAUXEN, S. de L. Análise sobre a saúde mental dos adolescentes do ensino médio integrado dos institutos federais. Cuadernos de Educación y Desarrollo, [S. l.], v. 15, n. 10, p. 10248–10267, 2023.
Ramírez, M. A., et al. (2020). Promoção da saúde mental na adolescência: uma revisão sistemática da literatura. Revista de Saúde Pública, 54(10), e10245., 2020
SILVA, M. M.; BARROS, L. da S. A contribuição da escola para a promoção da saúde mental de adolescentes no combate a depressão e ao suicídio. Brazilian Journal of Development, [S. l.], v. 7, n. 3, p. 21078–21095, 2021. DOI: 10.34117/bjdv7n3-017.

Fonte(s) de financiamento: Bolsa de Residência Multiprofissional em Saúde/Ministério da Saúde


Realização:



Patrocínio:



Apoio: