Comunicação Coordenada

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
CC8.4 - Formação e Cuidado em Saúde Mental

49209 - VISITA DOMICILIAR DE LUTO: CUIDADO À FAMÍLIA ENLUTADA
LÍDIA STÉFANIE DANTAS SILVA - UERN, RODRIGO JÁCOB MOREIRA DE FREITAS - UERN, FERNANDO JEFERSON QUEIROZ DOS SANTOS - UERN, GISELLE PEREIRA DA SILVA - UERN, SÂMARA DANIELLY DE MEDEIROS ALVES - UERN, ALEXIA KARLA DA SILVA WANDERLEY - UFRN, BÁRBARA CRISTINA SOUSA DE ALENCAR - UFRN, BIANCA MILENA DANTAS - UFRN, GEILSON MEDEIROS DE ARAÚJO - UFRN, MARIA LUÍSA FARIA BARROSO - UFRN


Contextualização
No ciclo da vida, todo ser que vive um dia morrerá. Para cada cultura a morte é vislumbrada de maneira particular, com seus próprios ritos para a despedida do ente querido e forma de encarar o luto. O sentimento de perda gera uma desarmonia no núcleo familiar: o luto gera sentimentos conflitantes, incertezas, desencontro dos papéis desempenhados por cada membro familiar. Nesse processo, muitas famílias sentem o abandono por parte das equipes de saúde. A visita domiciliar é um dispositivo da Estratégia Saúde da Família sendo muito utilizada com foco na assistência integrada, sendo vista pelos os usuários como o meio de obter um atendimento humanizado, centrado no sujeito dentro do seu contexto familiar e social. Assim, a visita domiciliar no momento do luto se torna um dispositivo capaz de continuar o cuidado à família em seu momento de fragilidade.

Descrição da Experiência
A experiência foi vivenciada por profissionais de saúde residentes em Atenção Básica da Escola Multicampi de Ciências Médicas, durante o primeiro ano de residência na cidade de Caicó-RN. Durante a territorialização no bairro de atuação dos residentes, foi possível conhecer indivíduos que demandavam, com maior brevidade, da atuação da equipe multiprofissional. Iniciou-se o acompanhamento, através de visitas domiciliares para reconhecimento das necessidades em saúde, histórico clínico e intinerário terapêutico. Contudo, diante da severidade de algumas condições, o desfecho de alguns casos foi o óbito; a equipe multiprofissional percebeu que era necessário continuar o cuidado, tendo agora em foco a família. As visitas eram conduzidas de modo interprofissional com, pelo menos, três profissionais das categorias: enfermeira, dentista, psicóloga, assistente social, fisioterapeuta, nutricionista, farmacêutica e profissional de educação física. A visita acontecia em três partes: primeiro, após o contato inicial, bucava-se escutar como foram esses primeiros dias após a perda do familiar; os momentos que antecederam ao óbito; como a família está reagindo a essa nova realidade. O segundo momento era voltado para buscar as lembranças com o familiar e, por fim, a equipe explicava sobre as etapas do luto e os mecanismos para vivenciá-lo, enfatizando que a experiência é individual.

Objetivo e período de Realização
Proporcionar a escuta qualificada à familias vivenciando o processo de luto. As visitas ocorreram em tempos distintos no decorrer do primeiro ano de residência, período de março de 2022 a março de 2023.

Resultados
Foram realizadas três visitas domiciliares de luto. As visitas aconteciam até uma semana após a perda do familiar. O objetivo de tais visitas era acolher cada um dos familiares de maneira a: ouvir atenciosamente o relato sobre os sentimentos gerados pela perda; perceber o impacto no convívio familiar; identificar a forma de vivenciar o luto e apresentar estratégias que podiam ajudar durante este processo. O ponto principal das visitas era o respeito ao modo que cada familiar gostaria de se expressar da forma como podia e/ou queria, sem invadir a sua privacidade. Mesmo diante de um pequeno número de visitas, foi possível experenciar o poder da escuta empática e suporte oferecido àqueles que passavam por um momento de dor. Em cada visita os familiares eram convidados a expressarem tudo aquilo que pesava no decorrer dos dias e motivados, em um segundo momento, a rememorar as lembranças marcantes com o familiar, uma forma de enfatizar que os momentos vividos serão eternos.

Aprendizado e Análise Crítica
As visitas destacaram uma problemática no que se diz respeito ao cuidado continuado em uma situação de cuidados paliativos e/ou domiciliar: o esquecimento da família quando o parente, que anteriormente vinha sob os cuidados da equipe, vem a óbito, fato observável na surpresa das pessoas ao receber a equipe. Tal observação levanta uma importante discussão sobre a figura do(s) cuidador(es) que também tem as suas necessidades em saúde, seja durante o tempo prestanto os cuidados ou na fase do luto. É necessário que as equipes da Estratégia Saúde da Família sejam capacitadas para atuar com todos os indivíduos envolvividos na atenção domiciliar. Os grupos de promoção à saúde também são uma possibilidade para aproximação com as famílias e cuidadores que estão vivenciando um cenário parecido, sendo um espaço para compartilhar as experiências, tirar dúvidas, receber instruções e, dessa forma, construir e fortalecer o vínculo com a equipe. Diante da experiência é perceptível a aplicação da visita domiciliar de luto como uma tecnologia leve com grande representatividade no acompanhamento às famílias do território durante o luto; um intrumento potente diante de uma fragilidade das equipes de Estratégia Saúde da Família que é a qualificação do cuidado as famílias em seu território, além de promover uma relação de vínculo humanizado.

Referências
Gonzaga, R.M.C. Vivências de Luto em Famílias Acompanhadas por Equipes de Saúde na Atenção Primária. Dissertação (Mestrado em Saúde da Família) - Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, p. 75, 2019.
Albuquerque, A. B. B. DE .; Bosi, M. L. M.. Visita domiciliar no âmbito da Estratégia Saúde da Família: percepções de usuários no Município de Fortaleza, Ceará, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 25, n. 5, p. 1103–1112, maio 2009

Fonte(s) de financiamento: Não há


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