04/11/2024 - 13:30 - 15:00 CC8.1 - Educação Permanente: perspectivas, desafios e inovações |
54395 - GESTÃO AUTÔNOMA DA MEDICAÇÃO E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: EXPERIMENTAÇÕES EM UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DE FORTALEZA/CE ALEXANDRE MELO DINIZ - USP, LAURA CAMARGO MACRUZ FEUERWERKER - USP
Contextualização O fenômeno contemporâneo de medicalização da vida se remete à ideia de algo que “tornou-se médico”, vinculado ao exercício da medicina ou mesmo do cuidado por meio de medicamentos. No entanto, este termo se refere a um fenômeno social complexo e que não deve ser compreendido em sentido único e universal. Porém, de modo geral, se refere à apropriação dos modos de vida humana pela jurisdição médica. A aliança entre o saber-poder médicos e a indústria farmacêutica tornam ainda mais desigual e assimétrica a relação de forças com a luta antimanicomial e os direitos humanos de usuários de saúde mental. Buscamos lançar luz neste cenário e desnudar facetas e forças que tensionam este campo. Nesta perspectiva, lançamos mão da Gestão Autônoma da Medicação (GAM), que tem sua origem na província de Quebec no Canadá na década de 1990, fruto de mobilização de movimentos sociais que lutavam por tratamentos alternativos à lógica biomédica.
Descrição da Experiência O primeiro momento da experiência envolveu a apresentação da proposta à gestora e aos trabalhadores do Centro de Atenção Psicossocial, com um trabalho de sensibilização dos usuários do referido serviço substitutivo, oportunidade em que apresentamos um breve histórico da GAM, o guia, seus passos e metodologia. Nesta fase também foram pactuados os detalhes de como se processariam os encontros, definido então com frequência semanal, com duração média de 1h30min, no decorrer de um ano. Iniciamos o grupo efetivamente em setembro de 2023. Compõem o grupo GAM este autor, uma psicóloga e uma enfermeira da equipe de profissionais do serviço e dez usuários, sendo cinco do sexo masculino e cinco do sexo feminino com diagnósticos de depressão, transtorno afetivo bipolar e esquizofrenia. O grupo tem se mostrado como um espaço potente de fala, de escuta e de partilha. Que de certo modo, se mostra uma alternativa frente a realidade que se impunha de uma demanda bastante superior às ofertas de ações de cuidado e impregnada de uma lógica biomédica, individualista e medicalizante. Não tardou e logo os participantes se perceberam constituindo uma grupalidade com laços de confiança.
Objetivo e período de Realização Entendemos que cuidado e formação caminham juntos, deste modo, apostamos como objetivo investigar as práticas de cuidado e suas implicações nos processos de trabalho que se revelam na experiência de um grupo de Gestão Autônoma da Medicação (GAM) em um Centro de Atenção Psicossocial no município de Fortaleza/CE e sua interface com a Educação Permanente em Saúde. A experiência tem início em junho de 2023 e se estende até junho de 2024.
Resultados A experimentação com o grupo GAM tem trazido efeitos importantes não só aos usuários, mas também às profissionais participantes. Estas passam a revisitar suas verdades acadêmicas, muitas vezes prescritivas do que é melhor para o outro. A caminhada coletiva e partilhada no grupo GAM, tem disparado descolamentos importantes no caminhar a vida dos participantes e demonstra sinais que estão reverberando na gestão do cuidado pela equipe do serviço. Educação Permanente em Saúde que tensiona repensar a lógica de cuidado centrada na medicação, no atendimento individualizado em detrimento do coletivo, no reconhecimento do protagonismo dos usuários na gestão do cuidado. O compartilhamento de experiências com medicamentos psiquiátricos e outras ações, têm possibilitado deslocamentos e inventividades. O grupo GAM oportuniza maior acesso à informação por parte dos usuários sobre seus direitos, sobre a medicação e seus efeitos, ampliando a rede de apoio, ensejando mudanças nas relações de poder ao serem pautadas no diálogo, promove maior participação dos usuários na gestão do cuidado e na composição de territórios existenciais outros.
Aprendizado e Análise Crítica A experiência mobilizou incômodos e inquietações, ao perceber a falta de um projeto consistente e planejamento para sua implantação e efetivação na produção do cuidado no Centro de Atenção Psicossocial. Faz-se urgente abrir espaços para repansar os processos de educação e trabalho em saúde na micropolítica dos serviços do SUS.
Referências AMARANTE, P.; NUNES, M. O. A reforma psiquiátrica no SUS e a luta por uma sociedade sem manicômios. Ciência & Saúde Coletiva, 23(6), 2067–2074, 2018
BARRIO, L. R. DEL; CYR, C.; BENISTY, L.; RICHARD, P. Gestão Autônoma da Medicação (GAM): novas perspectivas sobre bem-estar, qualidade de vida e medicação psiquiátrica. Ciênc. saúde coletiva, 18(10), 2879–2887, 2013.
FEUERWERKER, L.C.M.; MERHY, E.E. Um (breve) debate sobre nosso(s) modo(s) de analisar políticas. In: BERTUSSI, D.C et al. (Org.). O CER que Precisa Ser: os desafios perante as vidas insurgentes. Porto Alegre: Editora Rede Unida, 2022, v. 2, p. 21-35.
ONOCKO-CAMPOS, R. T.; PASSOS, E.; PALOMBINI, A.L.; SANTOS, D. V. D.; STEFANELLO, S.; GONÇALVES, L. L. M.; BORGES, L. R. A Gestão Autônoma da Medicação: uma intervenção analisadora de serviços em saúde mental. Ciência & Saúde Coletiva, 18(10), 2889–1319, 2013.
Fonte(s) de financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
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