Comunicação Coordenada

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
CC7.4 - Tecnologias digitais em saúde: diversidade de experiências

53725 - CRIAÇÃO DE FUNCIONALIDADE EM PRONTUÁRIO ELETRÔNICO VISANDO O CUIDADO INTEGRAL E APROXIMAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA COM A ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
SABRINA STEFANELLO - UFPR, PATRÍCIA OLIVEIRA DE MORAES HOCK - UFPR, SOLENA ZIEMER KUSMA FIDALSKI - UFPR


Introdução e Contextualização
Segundo a Organização Mundial da Saúde (2022), são as pessoas vulnerabilizadas que possuem maiores riscos de terem problemas mentais e são elas as que menos recebem cuidados e tratamentos adequados, indicando o importante papel do SUS no combate às iniquidades em saúde. Tem-se a Atenção Primária em Saúde (APS) como a base da oferta dos cuidados em saúde, que deveria garantir a continuidade, integralidade e coordenação deste cuidado, compondo a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Segundo Tanaka e Ribeiro (2009) a APS tem potencial para desenvolver ações de saúde mental e espera-se que seja capaz de lidar com boa parte desta demanda. Partindo-se do conceito de rede vivas, de Merhy et al. (2014), no qual a mobilidade, protagonismo do usuário e da desterritorialização na busca pelo cuidado em saúde precisa ser levada em consideração, é esperado e se sabe que as pessoas acessam as redes de modos variados. Deste modo, ainda que seja absolutamente relevante levar-se em consideração o saber experiencial e garantir o cuidado ampliado, as tecnologias da informação podem colaborar como fonte de informação, permitindo a identificação de pessoas que acessaram pontos da rede de atenção à saúde, propiciando uma aproximação atenciosa e respeitosa, mostrando que a Unidade Básica de Saúde (UBS) tem como contribuir nos cuidados psíquicos.

Objetivo para confecção do produto
Criação de ferramenta no prontuário eletrônico, que permita o fácil acesso às informações pelos profissionais da APS, especialmente da ESF, sobre os usuários em seus territórios que foram atendidos nos Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAS) com demandas de Saúde Mental.

Metodologia e processo de produção
Realizou-se pesquisa via PET-Saúde com usuários e familiares que frequentavam CAPS e UBS de Joinville, em 2023, percebeu-se que muitos não frequentam suas UBSs e, nos grupos focais parte não entendia que a UBS poderia ser um local para buscarem ajuda para problemas mentais. Neste município, os profissionais da APS não conseguem saber quais pessoas do seu território são atendidos nos CAPS, pois o acesso ao prontuário se dá pela matrícula do usuário no momento de sua consulta, então se o indivíduo não procura a UBS, não se tem como saber sobre seu percurso na RAPS. Com isso, se fez uma proposta de melhoria do prontuário eletrônico que é utilizado pela APS, CAPS e UPAs. A criação de um link com o nome Saúde Mental na aba RELATÓRIOS do prontuário eletrônico, com a opção para pesquisar por data, unidade, equipe, e até três opções dos CIDs. Após clicar em gerar relatório, aparecerá uma lista contendo o número da matrícula, microárea, o código da equipe de saúde, os locais do atendimento e a data de entrada e de alta de todos os pacientes do período selecionado que estiveram em algum dos pontos da Rede de Atenção à Saúde.

Resultados
A criação do link e sua implementação no prontuário eletrônico usado no município já foi organizada e construída junto aos profissionais da tecnologia da informação (TI), sendo algo factível e viável, sem gastos extras. O trâmite junto à gestão municipal está em andamento para que se compreenda a relevância desta ação e para que um pedido formal aconteça e coloque em prática essa adaptação no prontuário eletrônico. Espera-se que os profissionais da APS consigam identificar as pessoas de suas áreas de abrangência atendidas nos CAPS e UPAS por problemas mentais. Nem sempre a UBS é vista como local de atendimento para esse tipo de demanda pela sua população, especialmente em uma sociedade que valoriza o especialista, então se a APS se apresentar como local do cuidado integral, proporcionaria vinculação e equidade. Além disso, pode surgir maior articulação dos cuidados em saúde mental entre as equipes da atenção básica e demais pontos da rede. Especialmente entre ESF e CAPS, essa aproximação poderá produzir novos modos de cuidado que possam prescindir do tradicional atendimento hospitalar, segundo SILVEIRA VIEIRA (2009). Espera-se que o atendimento, cotidianamente, de pessoas com problemas mentais auxilie também na redução do estigma e preconceito vivenciado por elas (MORO 2022), e que infelizmente costuma ser reproduzido pelos profissionais de saúde.

Análise crítica e impactos sociais do produto
Para a implantação da melhoria do sistema de prontuário eletrônico, primeiramente, a gestão municipal precisa compreendê-la e aprová-la, de modo que, uma vez vigente, os profissionais terão acesso às informações. Contudo, esta nova funcionalidade precisará ser divulgada de modo que as equipes se apropriem do seu funcionamento. O ideal seria que além dos tradicionais informes/ofícios e grupos de trabalho, se partisse de casos reais, em momentos de compartilhamento e discussões, como por exemplo no matriciamento, para envolver os responsáveis pelo cuidado. Podendo-se utilizar a funcionalidade como um disparador para discussões e melhorias no processo de trabalho envolvendo a RAPS. Outro desafio é que o uso da funcionalidade pode não acontecer se os envolvidos no cuidado não estiverem comprometidos com o que se espera da APS. Somado a isso, mesmo quando se tem profissionais qualificados e preocupados com o seu território e comunidade, outros fatores como precarização dos vínculos trabalhistas, infraestrutura insuficiente, equipes incompletas ou insuficientes para atender a demanda, alta rotatividade de trabalhadores, pressão por atendimentos individuais, ausência de espaços de construção coletiva do cuidado, poucos momentos para a reflexão e aprendizado das equipes poderão interferir no quanto a nova funcionalidade poderá ser de fato incorporada na prática do cuidado.

Referências
Merhy EE, Gomes MPC, Santos MFL et al. Redes Vivas: multiplicidades girando as existências, sinais da rua. Implicações para a produção do cuidado e a produção do conhecimento em saúde. Rev. Divulgação em Saúde para Debate. 2014; 52:153-164.
MORO, L M; ROCHA K B, Estigma Associado à Saúde Mental Entre Profissionais da Atenção Básica à Saúde, Social Psychology, Paidéia (Ribeirão Preto) 32 , 2022.
OMS. Organização Mundial da Saúde. Mental health: strengthening our response. Fact sheet 220; 2022.
SILVEIRA. D. P.; VIEIRA, A. L. S. Saúde mental e atenção básica em saúde: análise de uma experiência no nível local. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 139-148, 2009.
TANAKA, Oswaldo Yoshimi; RIBEIRO, Edith Lauridsen. Ações de saúde mental na atenção básica: caminho para ampliação da integralidade da atenção. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 477-486, mar./abr. 2009.

Fonte(s) de financiamento: Nenhum


Realização:



Patrocínio:



Apoio: