Comunicação Coordenada

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
CC7.4 - Tecnologias digitais em saúde: diversidade de experiências

52568 - MATERIAL EDUCATIVO ACESSÍVEL EM LIBRAS PARA MULHERES SURDAS: UMA NECESSIDADE DE SAÚDE PÚBLICA
SABRINA CRUZ DA SILVA - CENTRO UNIVERSITÁRIO CHRISTUS (UNICHRISTUS), ISADORA ARAUJO RODRIGUES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO (UFMA), ISABELE TAUMATURGO MORORÓ - CENTRO UNIVERSITÁRIO CHRISTUS (UNICHRISTUS), ALISSON SALATIEK FERREIRA DE FREITAS - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE), DEBORAH PEDROSA MOREIRA - CENTRO UNIVERSITÁRIO CHRISTUS (UNICHRISTUS)


Apresentação/Introdução
O câncer de colo do útero consiste em uma doença prevenível, onde a detecção precoce compreende a realização oportuna do exame Papanicolau, enfatizando sua importância devido a estimativa de incidência de novos casos para os próximos anos (INCA, 2023), ressaltando a importância da acessibilidade aos serviços de saúde.
No contexto da mulher surda, existe a fragilidade estrutural de organização dos serviços de saúde, devido sua singularidade relacionada à condição de perda auditiva, onde possuem uma comunicação não verbal baseado numa linguagem visual-gestual, conhecida como Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), gerando uma barreira de comunicação, impactando na detecção precoce da doença (Ferreira e Brayner, 2021).
Ao considerar a realização do Papanicolaou, estudos relatam que o submeter-se da mulher ao procedimento causa sentimentos como medo, vergonha e desconforto (Santos e Gomes, 2022), sendo possível afirmar o desconhecimento sobre o objetivo e relevância do procedimento, dificultando ainda mais o acesso aos serviços de saúde.
O cenário de desconforto relatado pelas mulheres ouvintes instiga a indagação sobre a compreensão dessa perspectiva pelas mulheres surdas, visto o fator contribuindo da barreira de comunicação. Ainda, evidencia a importância da disseminação de informações importantes e acessíveis pertinentes à temática.


Objetivos
O presente estudo tem como objetivo compreender a percepção de mulheres surdas a respeito de uma metodologia visual informativa sobre câncer do colo do útero e exame Papanicolaou.

Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, com abordagem qualitativa, realizado em uma clínica de atendimento a pessoas surdas em 2022, vinculada a uma Instituição de Ensino Superior, após aprovação pelo Comitê de Ética, com o parecer de Nº 61296522.1.0000.5049. Compôs-se uma amostra de quatro participantes, sendo abordadas na referida clínica, seguindo as etapas de aplicação de termo de consentimento, apresentação de vídeo educativo e entrevistas. Os resultados seguiram as etapas de transcrição por especialistas e posterior análise pelo pesquisador.
A metodologia visual consistiu em abordar as temáticas: conceito, fatores de risco e medidas de prevenção, roteiro de anamnese, apresentação dos materiais e simulação do exame, tendo auxílio de tablet e perguntas realizadas pelo pesquisador em LIBRAS e gravadas em vídeo. A entrevista seguiu modelo semiestruturado, relacionada a dados socioeconômicos, acesso aos serviços de saúde, realização do exame e percepção sobre o vídeo.
Por fim, a tradução foi realizada por uma enfermeira intérprete e uma intérprete com mestrado na área de tradução. A transcrição foi realizada com o auxílio do programa Word, tendo a análise dos dados segundo Bardin.


Resultados e Discussão
Participaram do estudo quatro mulheres, com idade mínima de 23 anos e máxima de 39 anos. Em relação ao nível de escolaridade, duas possuíam ensino médio completo e as outras duas ensino superior incompleto. O estado civil das entrevistadas, apontados pelas entrevistadas foram: solteira, separada e/ou divorciada, casada e união estável. Ao questionar sobre a realização do exame e a frequência, todas afirmaram que já tinham feito anteriormente, e três disseram que a periodicidade era anual. A partir das falas relatadas, foi possível destacar as seguintes apontamentos:
Temática compreendida através do vídeo
As entrevistadas informaram que a partir do vídeo aprenderam sobre o câncer do colo do útero, o risco do sexo desprotegido, além da importância do exame citopatológico e das medidas de prevenção para evitar a neoplasia. Ademais, foi relatado a oportunidade de conhecer os materiais usados no exame.
É importante ressaltar que o uso do vídeo educativo mostrou-se eficaz em estudos que retratam o ensino de temáticas em saúde para a comunidade surda (Galindo Neto et al., 2019). O uso dessa tecnologia permite às mulheres surdas, a autonomia sobre a sua saúde, devido o conhecimento sobre os métodos de prevenção e o rastreamento oportuno. Visto que, mulheres com deficiência integram com menor frequência e em menor quantidade serviços de rastreamento do câncer (Boer e Gozzo, 2020).
Aspectos positivos do uso do vídeo como recurso educativo
O uso de imagens dos materiais, da prótese do corpo feminino para a simulação do exame citopatológico, e a sinalização do conteúdo em LIBRAS foi descrito pelas participantes como um fator significativo. A integração de animação, imagens, simulação, e a LIBRAS tem se apresentado como significativo na educação de surdos em saúde (Galindo Neto, 2019).


Conclusões/Considerações finais
A partir do exposto, conclui-se que a elaboração e difusão de vídeos educativos em saúde é uma necessidade de saúde pública. Visto que, a comunidade surda, por não possuir acesso a informações em saúde, tem como mediador a pessoa ouvinte e/ou meios de comunicação não acessíveis em LIBRAS, podendo ocasionar um conhecimento fragmentado.
Tal situação corrobora para que essa população esteja propensa aos riscos de doenças preveníveis, como o câncer do colo do útero. O uso de materiais educativos acessíveis, permite à comunidade o conhecimento sobre o processo de saúde e doença e a oportunidade de independência sobre o autocuidado. Dessa forma, é evidente a necessidade de estruturar políticas públicas que visem a acessibilidade das informações em saúde, por meio da criação de materiais em vídeo para a comunidade surda.


Referências
BOER, R.; GOZZO, T.O. Rastreamento de câncer em mulheres deficientes: revisão integrativa. Acta fisiátrica, v.26, n.3, p.157-163, 2019.
FERREIRA, N.L.M.; BRAYNER, I.C.S. O acesso da comunidade surda aos serviços de saúde: mãos que falam. Temas em Educação e Saúde, p.e021016-e021016, 2021.
GALINDO-NETO, N.M. et al. Creation and validation of an educational video for deaf people about cardiopulmonary resuscitation. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v.27, p.e3130, 2019.
INSTITUTO NACIONAL DE C NCER. Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2022.
SANTOS, J.N.; GOMES, R.S. Sentidos e percepções das mulheres acerca das práticas preventivas do câncer do colo do útero: Revisão Integrativa da Literatura. Revista Brasileira de Cancerologia, v.68, n.2, 2022.
SANTOS, A.; PORTES, A.J.F. Percepções de sujeitos surdos sobre a comunicação na Atenção Básica à Saúde. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v.27, p.e3127, 2019.


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