52096 - EFICÁCIA DO TELEDIAGNÓSTICO NA REDUÇÃO DE INTERNAÇÕES POR DOENÇAS CARDIOVASCULARES: UM ESTUDO EM MUNICÍPIOS DA BAHIA THIAGO GONÇALVES DO NASCIMENTO PIRÔPO - UFPE, FRANCISCO DE SOUSA RAMOS - UFPE
Apresentação/Introdução Os altos custos do Sistema Único de Saúde (SUS) com internações por doenças do aparelho circulatório, que em 2019 ultrapassaram 153 milhões de reais apenas na Bahia, superando os custos com internações por câncer, que foram aproximadamente 120 milhões de reais (BRASIL, 2021). Isso é atribuído ao aumento da expectativa de vida no Brasil, que eleva a incidência de doenças cardiovasculares (DCV) e, consequentemente, os gastos públicos com saúde. Projeta-se que a expectativa de vida no Brasil aumentará 7,3 anos até 2060, o que elevará a prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), exigindo melhor organização da rede de atenção à saúde, medidas preventivas, diagnóstico precoce, acesso a tratamentos farmacológicos essenciais e reabilitação (BOCCOLINI; CAMARGO, 2016). O eletrocardiograma (ECG) é uma medida preventiva amplamente utilizada na cardiologia devido ao seu baixo custo, fácil execução e alta sensibilidade diagnóstica (REIS et al., 2013). Contudo, há uma disparidade no acesso ao ECG nos serviços de saúde públicos e privados, afetando principalmente pessoas pobres, de baixa escolaridade, pretas e residentes nas regiões Norte e Nordeste (IBGE, 2020). Essas iniquidades em saúde resultam em elevados índices de vulnerabilidade social, problemas de saúde e mortes evitáveis (FIORATI; ARCÊNCIO; DE SOUZA, 2016).
Objetivos O objetivo geral é analisar o impacto do telediagnóstico na redução das internações por doenças cardiovasculares em municípios da Bahia. Para alcançar esse objetivo, são definidos três objetivos específicos: avaliar a eficácia do telediagnóstico na detecção precoce de doenças cardiovasculares, investigar a relação entre o uso do telediagnóstico e a redução dos custos hospitalares, e identificar barreiras e facilitadores para a implementação do telediagnóstico em municípios baianos
Metodologia A pesquisa adotou um delineamento quase-experimental, não randomizado, de natureza descritiva e analítica, com abordagem quantitativa. Utilizou-se dados secundários para a análise pré e pós-intervenção, empregando o método de estimador de Diferenças-em-Diferenças para analisar a implementação da telecardiologia, controlando fatores externos que poderiam influenciar os resultados (BEATTY; SHIMSHACK, 2011).
O método de Diferenças-em-Diferenças, eficaz em estudos de intervenções em saúde pública, permite inferir efeitos causais e avaliar o impacto da telecardiologia nas internações por DCV, ajustando para tendências e variações, pois considera tanto a evolução temporal dos dados quanto as diferenças entre grupos de controle e de intervenção (FOGUEL et al., 2017)
Os dados foram coletados de registros hospitalares dos sistemas de saúde pública. Incluíram-se municípios baianos que implementaram a telecardiologia, comparados a municípios sem a tecnologia. Foram consideradas variáveis como número de internações, tempo e custos de internamento e taxas de mortalidade, permitindo uma visão abrangente do impacto da telecardiologia na qualidade dos serviços de saúde.
Resultados e Discussão A pesquisa analisou o impacto do telediagnóstico na redução das internações por doenças cardiovasculares em municípios baianos, destacando-se a redução significativa nas internações e nos custos hospitalares. Os resultados mostraram que o grupo tratado conseguiu reduzir em 6 internações anuais (P< 0,004), com destaque para a população preta, que apresentou uma redução de 4 internações (P< 0,007). Além disso, houve uma diminuição de 3 dias na média de internamento (P< 0,000), além de uma redução substancial na taxa de mortalidade, caindo 9,54% nos municípios tratados ao longo do período estudado.
Os dados sugerem que o telediagnóstico permite a identificação precoce de sinais de comprometimento do quadro clínico, possibilitando intervenções mais rápidas e eficazes, superando os métodos tradicionais de exames de ECG em termos de solicitações e diagnósticos realizados. Essa precocidade se reflete na redução do período de tratamento, dias de internamento e nos custos hospitalares. O estudo também evidencia uma maior eficácia na gestão de doenças cardiovasculares, especialmente entre a população de baixa renda e preta, frequentemente atendida pelo programa Bolsa Família, que se beneficiou substancialmente da tecnologia.
Os achados sublinham a importância de políticas públicas que incentivem a adoção de tecnologias de telemedicina, especialmente em regiões com altos índices de iniquidade em saúde. A redução nas taxas de internação e mortalidade demonstra não apenas benefícios clínicos, mas também econômicos, aliviando o sistema de saúde pública e melhorando a qualidade de vida das populações mais vulneráveis. O Bolsa Família aparece como um fator facilitador na adesão e na efetividade do telediagnóstico, mostrando-se essencial para a sustentabilidade das intervenções.
Conclusões/Considerações finais A pesquisa destacou que a implantação do telediagnóstico trouxe enormes benefícios ao sistema de saúde e às populações vulneráveis. Em áreas carentes de especialistas, a telecardiologia ampliou significativamente o acesso ao diagnóstico precoce, superando o ECG tradicional em eficiência. Esse avanço permitiu intervenções mais rápidas, prevenindo complicações graves e reduzindo a necessidade de internações prolongadas.
A telecardiologia teve um impacto significativo entre as populações de baixa renda e comunidades pretas. Essas comunidades puderam acessar cuidados especializados sem precisar se deslocar para centros urbanos distantes, resultando em diagnósticos mais rápidos e precisos.
Portanto, a implementação da telecardiologia é essencial para melhorar a saúde coletiva. Investir em tecnologia e treinamento garante que todos recebam cuidados de alta qualidade, além de salvar vidas, contribui para construção de um sistema de saúde mais justo e eficiente.
Referências BRASIL. Ministério da Saúde. DATASUS - Morbidade Hospitalar do SUS (SIH/SUS). 2021.
BOCCOLINI, C. S.; CAMARGO, A. T. DA S. P. Morbimortalidade por doenças crônicas no Brasil: Situação atual e futura. Textos para discussão, no 22. Rio de Janeiro, Fiocruz, 2016.
REIS, H. J. L. et al. ECG: Manual Prático de Eletrocardiograma. São Paulo: Atheneu, 2013. 138 p.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde 2019: percepção do estado de saúde, estilos de vida, doenças crônicas e saúde bucal. Ministério de Saúde, Rio de Janeiro, 2020, 117 p.
FIORATI, R. C.; ARCÊNCIO, R. A.; DE SOUZA, L. B. Social inequalities and access to health: Challenges for society and the nursing field. Rev. Latino-Am. Enfermagem. Ribeirão Preto, v. 24, n. 2687. 8 p. nov. 2016.
Fonte(s) de financiamento: Programa de Pós-Graduação em Gestão e Economia da Saúde (PPGGES) da Universidade Federal de Pernambuco, financiado pelo Departamento de Economia da Saúde, Investimentos e Desenvolvimento (CQIS/DESID) do Ministério da Saúde.
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