51883 - EDUCAÇÃO POPULAR E SAÚDE COLETIVA: O PEJA COMO INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO DE SAÚDE E EXERCÍCIO DE CIDADANIA RENATA DE OLIVEIRA SANTOS - FCL ASSIS - UNESP, ANNA LAURA COSTARD DE SCATIMBURGO - FCL ASSIS - UNESP
Contextualização O Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) é um programa institucional de extensão universitária presente em 7 campi da Unesp, que oferecem os cursos de Letras e/ou Pedagogia. Sob uma perspectiva freiriana, o PEJA objetiva a garantia de direitos e promoção do exercício da cidadania para sujeitos que, historicamente, não tiveram a possibilidade de aprender a ler e escrever durante a idade convencionada.
Por adotar uma postura baseada na teoria Freiriana, o PEJA defende a construção de um espaço crítico em sala de aula e, na Unesp Assis, por conta do perfil da população do município, tem como especificidade a aderência de mulheres idosas, em sua maioria não brancas. Atualmente, o PEJA-Assis está vinculado ao Projeto “Escrita e Tradição Discursiva no Ensino” (FAPESP - processo 2022/02850-0), sob a linha de fomento PI, e é coordenado pela Prof. Lúcia Regiane Lopes-Damasio.
O grupo de educadoras é composto por alunas da graduação e pós-graduação sendo bolsistas ou voluntárias e, além do trabalho realizado semanalmente com as educandas, o programa conta com reuniões para formação de educadoras e organização dos encontros. No momento, o PEJA-Assis atua em três diferentes núcleos, sendo um deles dentro da própria Unesp de Assis, outro na EMEIF. Prof.ª Professora Alides Celeste Razemboni Carpentieri, e o terceiro no Abrigo e Sociedade São Vicente de Paulo Lar dos Velhos de Assis.
Descrição da Experiência Nas salas de aula, as relações entre educadoras e educandas são horizontalizadas e todo o processo de ensino-aprendizagem tem como prioridade a contextualização da realidade em que os sujeitos estão inseridos. Por isso, em um dos encontros realizados com o núcleo da Unesp Assis, a partir do estudo do uso do ponto de interrogação, foi construído um questionário sobre saúde mental, em que as perguntas deveriam ser enquadradas pelo grupo como verdadeiras ou falsas. As perguntas dispararam diversas discussões acerca de estigmas e preconceitos enraizados na sociedade acerca da loucura e da saúde mental, de modo que muitas educandas trouxeram experiências pessoais para dentro das discussões, contribuindo para a conscientização das outras colegas acerca do tema e para a construção de uma consciência social emancipatória.
Além disso, o espaço de sala de aula também se tornou disparador de conversas acerca do acesso à saúde oferecido para a população do município. Assim, foi possível observar a construção como parte crucial do trabalho do PEJA, uma vez que a práxis educativa aplicada pelo programa busca proporcionar a emancipação e construção da autonomia das educandas.
Objetivo e período de Realização A atividade proposta, realizada em setembro de 2023, buscou introduzir o uso do ponto de interrogação a partir da formulação e resposta de algumas perguntas, e com a intenção de contextualizar a realidade das educandas no processo ensino-aprendizagem, o tema utilizado para guiar a construção das perguntas foi a saúde mental, os estigmas construídos acerca dela, os serviços de saúde mental oferecidos no município, como os CAPS, entre outros.
Resultados Ao longo do encontro houve a construção de um espaço de reflexão e discussão sobre saúde mental, onde foram pontuados os entraves no acesso aos serviços oferecidos no município e muitas vivências pessoais das educandas também foram expostas. As educadoras precisaram escutar e acolher muitos relatos carregados, majoritariamente, de muito sofrimento e dificuldade e, a partir disso, realizar uma análise crítica das situações expostas juntamente às educandas.
Após a discussão, houve um momento dedicado à produção textual, onde as educandas puderam transferir para o papel as histórias relatadas por elas, além de também poderem praticar o uso do ponto de interrogação produzindo mais perguntas umas para as outras. Estas produções também engendraram reflexões sobre algumas percepções negativas acerca do tema que as próprias educandas ainda carregavam consigo, e algumas considerações das educadoras acerca dos estigmas reproduzidos pelas idosas.
Aprendizado e Análise Crítica Ante do exposto no trabalho, é possível notar que a dinâmica plurisubjetiva e afetiva elaborada no PEJA fomenta a construção de ferramentas de manutenção da saúde dos educandos, uma vez que tal práxis educativa, advinda das relações sociais, é capaz de proporcionar uma consciência social emancipatória enquanto meio importante para a defesa da vida, da saúde e democracia.
Assim, também nota-se a importância do programa que, inserido na comunidade externa à faculdade, atua no território promovendo saúde e bem-estar adequando-se às demandas de cada grupo, que são atravessados por marcadores sociais, carregando diferentes experiências e proporcionando diversas dinâmicas nas salas de aula. Prezando por viabilizar a promoção de saúde fora de estabelecimentos e instituições tidos como espaços convencionais a esse cuidado.
Ademais, entende-se que as dinâmicas propostas pelo PEJA também podem ser espaços de produção de saúde coletiva, pois além de viabilizar o acesso destas educandas à educação que lhes foi negada, proporcionando espaços de escuta, valorização e acolhimento, também funciona como espaço de socialização e pretende construir criticamente o processo ensino-aprendizagem, analisando e denunciando estruturas sociais e relações de poder, assim como a saúde coletiva analisa o processo saúde-doença enquanto produto de estruturas e contextos sociais.
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Reis, Werickson Henrique Sousa, e Francinalda Maria Rodrigues da Rocha. “Os movimentos sociais e a educação popular: uma relação na construção do ser coletivo e emancipado.” Anais do IV Congresso Nacional de Educação. Realize, 19 de Abril de 2023.
Souza, Luis Eugenio Portela Fernandes de. “Saúde Pública ou Saúde Coletiva?” revista espaço para a saúde, outubro/dezembro 2014: 07-21.
Streck, Danilo R. “Entre emancipação e regulação: (des)encontros entre educação popular e movimentos sociais.” revista brasileira de educação, 2010: 300-310
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