Comunicação Coordenada

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
CC5.1 - Olhares coletivos do Controle Social

51405 - DISPOSITIVOS DE PARTICIPAÇÃO DAS PARTES INTERESSADAS EM UMA PESQUISA DE ADAPTAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO SUPORTE DE PARES NA SAÚDE MENTAL DE CAMPINAS
MARIA FERNANDA LIRANI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, ANGELA PEREIRA FIGUEIREDO - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, MARIA GIOVANA BORGES SAIDEL - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, ROBERTO CORREA LEITE - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, BIANCA BRANDÃO - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, CARLOS ALBERTO DOS SANTOS TREICHEL - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, ROSANA TERESA ONOCKO CAMPOS - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS


Apresentação/Introdução
Este trabalho marca a fase inicial de uma Pesquisa de Implementação (PI) que envolve a adaptação e implementação de um treinamento de suporte de pares para pessoas com transtornos mentais graves em Campinas–SP.
A pesquisa investigou a adaptação cultural de um treinamento de suporte de pares em saúde mental e, para isso, a inclusão legítima das partes interessadas (Stakeholders) é essencial, assim, o Comitê Gestor de Pesquisa (CGP) foi criado como um mecanismo para fomentar a participação no desenvolvimento da intervenção proposta (Peters, 2013; Hawley; Rindal, 2019). As PIs visam diminuir o tempo entre o desenvolvimento de práticas baseadas em evidências e sua implementação. Essas pesquisas ainda levam em consideração fatores contextuais, tanto individuais quanto coletivos, destacando a importância de se trabalhar com as partes interessadas para promover o engajamento a partir de esforços colaborativos dos beneficiários, bem como o desfecho de sustentabilidade da implementação (Peters, 2013 e Treichel, 2019).
As abordagens colaborativas permitem o alinhamento das questões de pesquisa com as necessidades reais de contexto, pois ao mesmo tempo em que facilitam o envolvimento de várias partes interessadas, garantem também que as evidências do mundo real sejam norteadoras para informar a implementação (Peters, 2013).

Objetivos
O objetivo deste estudo foi identificar as barreiras e os facilitadores da implementação da adaptação de um treinamento sobre suporte de pares no município de Campinas, a partir de um dispositivo de participação (stakeholders) e o uso de um framework próprio das pesquisas de implementação, conhecido como Quadro Conceitual Consolidado para Pesquisa de Implementação (Consolidated Framework for Implementation Research - CFIR) (Damschroder, 2022).

Metodologia
Este é um estudo participativo de caráter qualitativo, financiado pelo National Institute of Mental Health (NIMH), em parceria entre uma universidade do Brasil e uma universidade dos EUA. A coleta de dados ocorreu entre outubro de 2023 e janeiro de 2024, com membros do CGP, composto por 10 profissionais de saúde mental de três CAPS III do município. Foram realizadas 05 encontros de oficinas para discussão das barreiras e facilitadores da implementação.
O roteiro de discussão foi elaborado a partir do CFIR, que apresenta uma estruturação de determinantes contextuais que podem influenciar o sucesso da implementação, apresentando 37 construtos divididos em 05 grandes domínios: características da intervenção; cenário externo; cenário interno; características dos envolvidos; e processo de implementação (Damschroder, 2022).
Os participantes do CGP foram convidados a discutir as barreiras e facilitadores da implementação da adaptação do treinamento do Suporte de Pares em Campinas, bem como refletir possíveis alternativas.
Como material, foram incorporadas as atas das oficinas, que foram categorizadas posteriormente dentro da metodologia do Quadro Conceitual (CFIR) para análise.

Resultados e Discussão
Utilizando o CFIR e a participação das partes interessadas, os profissionais do CGP foram convidados a discutir a partir de suas experiências no serviço, identificando facilitadores e barreiras iminentes no processo de implementação.
O CFIR apresenta uma taxonomia que auxilia a identificar e distinguir um amplo espectro de fatores relacionados à implementação, que auxililou na identificação de determinantes relacionados ao contexto (Damschroder, 2022). Dentre as principais barreiras para a implementação do Suporte de Pares, foram relatados os aspectos socioculturais associados ao estigma e preconceito, que desqualificam o usuário, dificultando a sua autonomia e participação nas políticas de saúde mental, bem como a lógica de trabalho focada na superproteção/tutela do usuário, que o incapacita e desconsidera suas reais necessidades e prioridades. As relações de poder entre trabalhadores de saúde e os usuários dos CAPS, fundamentadas na medicalização e no modelo biomédico que repercutem em relações assimétricas concebidas no âmbito dos serviços de saúde também foi considerada uma barreira. Por sua vez, os facilitadores foram representados pelo baixo custo para a implementação do projeto, a motivação e engajamento dos trabalhadores membros da CGP, a existência de ações informais de Suporte de Pares já conduzidas pelos usuários nos serviços, e sobretudo, a importância de se constituir em uma prática baseada em evidências científicas, conduzida por pesquisadores com experiência em PIs, associados a Universidades renomadas.
Ademais, também foram abordadas possíveis alternativas a serem incorporadas como estratégias para diminuir as barreiras e criar facilitadores no processo da implementação.

Conclusões/Considerações finais
Este estudo destacou a necessidade e importância dos dispositivos de participação social para informar políticas, serviços de saúde e práticas mais eficazes em saúde mental, havendo potencial para melhorar significativamente a valorização das experiências em saúde para além de espaços institucionalizados.
Os resultados destacaram desafios significativos, como estigma, medicalização e assimetria nas relações de poder em serviços de saúde. No entanto, identificaram-se também fatores facilitadores, como baixo custo, motivação dos profissionais e ações informais de suporte de pares já em curso. Essas descobertas contribuem não apenas para a compreensão dos desafios enfrentados na implementação, mas também para a identificação de estratégias potenciais para superá-los, além de refletir a potência das vivências em comitês como dispositivos de participação social na saúde.

Referências
Peters DH, Adam T, Alonge O, Agyepong IA, Tran N. Implementation research: what it is and how to do it. BMJ. 2013 Nov 20;347:f6753. doi: 10.1136/bmj.f6753. PMID: 24259324.
Frantsve-Hawley J, Rindal DB. Translational Research: Bringing Science to the Provider Through Guideline Implementation. Dent Clin North Am. 2019 Jan;63(1):129-144. doi: 10.1016/j.cden.2018.08.008. Epub 2018 Oct 29. PMID: 30447788.
Treichel, C. A. dos S., Silva, M. C., Presotto, R. F., & Onocko-Campos, R. T.. (2019). Comitê Gestor da Pesquisa como dispositivo estratégico para uma pesquisa de implementação em saúde mental. Saúde Em Debate, 43(spe2), 35–47. https://doi.org/10.1590/0103-11042019S203
Damschroder, LJ, Reardon, CM, Opra Widerquist, MA et al. Conceituando resultados para uso com a Estrutura Consolidada para Pesquisa de Implementação (CFIR): o Adendo de Resultados do CFIR. Implementação Sci 17 , 7 (2022). https://doi.org/10.1186/s13012-021-01181-5

Fonte(s) de financiamento: Suporte financeiro: Instituto Nacional de Saúde (National Institutes of Health - NIH)Bolsa CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.


Realização:



Patrocínio:



Apoio: