50563 - USO DA MATRIZ GUT COMO FERRAMENTA PARA PRIORIZAÇÃO DE PROBLEMAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE: RELATO DE EXPERIÊNCIA ALESSANDRA RODRIGUES ARAÚJO - UFPI, ROBERTA DOS SANTOS AVELINO - UFPI, FERNANDO JOSÉ GUEDES DA SILVA JÚNIOR - UFPI, JAQUELINE CARVALHO E SILVA SALES - UFPI
Contextualização A Lei Orgânica nº. 8.080/90 destaca que saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantida a partir de um conjunto de ações planejadas e executadas objetivando bem-estar biopsicossocial da população (Brasil, 1990). Entretanto, quando algo intervém negativamente nas ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, individual ou coletivamente, constitui um problema de saúde pública.
De acordo com Costa e Victora (2006), para definir problema de saúde pública é preciso contextualizá-lo, considerando sua extensão, prevalência, severidade, significância e poder de controle.
Nesse cenário, diferentes problemas coexistem e há um desequilíbrio entre as necessidades de saúde e os recursos disponíveis, sendo imperativo decisões estratégicas de priorização e gestão na resolução de problemas (Preteleiro; Marques; Galhardo, 2004).
Dentre as ferramentas de priorização disponíveis, há a Matriz Gravidade, Urgência, Tendência (Matriz GUT), desenvolvida por Kepner e Tregoe, na década de 1980, a partir da necessidade de resolução de problemas, nas indústrias americanas e japonesas (Fáveri; Silva, 2016). Por meio da pontuação das variáveis Gravidade, Urgência e Tendência do evento relacionado, o gestor pode agir com escalonamento, identificando complicações que devem ser priorizadas (Meireles, 2001).
Descrição da Experiência Como atividade de dispersão proposta pela disciplina Seminário de Acompanhamento I, do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família, vinculado à Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família – FIOCRUZ, nucleadora Universidade Federal do Piauí (UFPI), nível Doutorado, os discentes foram orientados a realizar uma oficina utilizando a Matriz GUT para identificação, categorização, hierarquização e priorização dos problemas em saúde, na Unidade Básica de Saúde (UBS) de atuação.
A UBS Dr. Antônio Carlos Costa, em Teresina-PI, foi cenário para a oficina. Composta por cinco equipes de Saúde da Família e de Saúde Bucal que cobrem, aproximadamente, 12.228 pessoas cadastradas na área.
Inicialmente, foi enviado convite através da ferramenta WhatsApp® aos membros das equipes e representantes do Conselho Local em Saúde. Os usuários foram convidados durante atendimentos. Ao reunir diferentes atores, cria-se um ambiente de colaboração e diálogo na busca de soluções para os desafios enfrentados, enriquecendo o debate. Nesse momento, os convidados foram informados sobre a data que aconteceria a oficina e o local.
A partir da realidade do território, foram realizadas as etapas de listagem e identificação de problemas e evidências; hierarquização a partir do valor político, governabilidade, eficácia e custo do adiamento; listagem e agrupamento de causas e, por fim, a construção das Matriz GUT.
Objetivo e período de Realização Diante do exposto, este estudo objetivou relatar a experiência de discentes, em nível de doutorado, na utilização da Matriz GUT para priorização de problemas na Atenção Primária à Saúde, do município de Teresina-PI.
A referida oficina foi realizada em 23 de abril de 2024, sendo das 8h às 12h (manhã) e 14h as 16h (tarde), no Auditório da UBS Antônio Carlos Costa, situada na zona urbana, do município de Teresina-PI.
Resultados Durante a realização da oficina, foram elencados 5 problemas prioritários que foram considerados de maior relevância para o desenvolvimento das atividades na UBS. Foi atribuído a cada variável constituinte da Matriz GUT uma pontuação numa escala crescente de 1 a 5 a característica de cada problema, sendo 1 para menos importante e 5 para mais importante (Fáveri; Silva, 2016).
A partir da classificação das variáveis Gravidade, Urgência e Tendência, o grau de prioridade foi definido conforme a pontuação G x U x T. Os problemas que obtiveram os maiores resultados para cada núcleo temático, constituem-se nas principais dificuldades a serem enfrentadas.
Nesse contexto, foi obtida a seguinte ordem de prioridade dos problemas:
1) Desconhecimento das mulheres sobre a importância e a periodicidade da realização de citologias;
2) Aumento na prevalência de alterações psicomotoras no desenvolvimento infantil;
3) Dificuldade de conscientização das gestantes sobre a importância do pré-natal odontológico;
4) Insatisfação do usuário com o acolhimento inicial na UBS;
5) Descontinuação de ações de promoção e prevenção de saúde para Hipertensão Arterial, Diabetes Mellitus e Saúde Mental.
Aprendizado e Análise Crítica O estabelecimento de prioridades constitui etapa fundamental do planejamento e gestão em saúde, permitindo identificar problemas prioritários e intervir numa determinada comunidade, em determinado momento. Salienta-se que não existem fórmulas predeterminadas para seleção de problemas prioritários, cabe aos atores envolvidos a definição da melhor estratégia.
A participação ativa dos diversos atores que compõem o território enriquece o processo e aumenta a probabilidade de sucesso das estratégias definidas. Dessa forma, a Matriz GUT mostrou-se adequada nesse processo, pois seu manejo é simples e permite atribuição de valores concretos, de maneira objetiva para cada problema. Assim, a partir da priorização de problemas, soluções relevantes e efetivas podem ser traçadas.
Diante do exposto, é possível afirmar que a Matriz GUT é uma ferramenta de planejamento estratégico que auxilia o processo de tomada de decisão e tem compatibilidade com a área da saúde pública. As variáveis gravidade, urgência e tendência são aspectos relevantes a considerar quando se avaliam problemas relacionados a essa seara, de forma a melhorar o planejamento, intervenção e monitoramento das ações.
Com os resultados dos problemas prioritários as doutorandas terão um norte para a construção de suas teses, objetivando, pois, a intervenção nos aspectos de maior relevância e prioridade no território em que atuam.
Referências BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 8.080 de 19 de setembro de 1990. Brasília, v.128, n.182, 20 set 1990.
COSTA, J.S.D.; VICTORA, C.G.O que é um “problema de saúde pública”. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 144-151, 2006.
FÁVERI, R.; SILVA, A. Método GUT aplicado à gestão de risco de desastres: uma ferramenta de auxílio para hierarquização de riscos. Revista Ordem Pública, v.9, n.1, jan./jun., 2016.
MEIRELES, M. Ferramentas administrativas para identificar, observar e analisar problemas: organizações com foco no cliente. São Paulo: Arte & Ciência, 2001.
PRETELEIRO, M.; MARQUES, R.; GALHARDO, T. Uma análise crítica das orientações estratégicas: o plano nacional de saúde português. Lisboa: Observatório Português dos Sistemas de Saúde; 2004.
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