Comunicação Coordenada

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
CC4.10 - Rede de Oncologia

52997 - ELABORAÇÃO DO PROTOCOLO DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCO PARA ATENDIMENTO À PESSOA COM DOENÇA FALCIFORME
MARIANE TEIXEIRA DANTAS FARIAS - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, NATÁLIA CARDOSO PORTELA - SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA, DANIELLE DE ANDRADE CANAVARRO - SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA, MARIA ALCINA ROMERO BOULLOSA - SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA, GISELLE ALVES DA SILVA TEIXEIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, EDILSON DA SILVA PEREIRA FILHO - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, SIMONE SANTOS SOUZA - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ, ALICE DE ANDRADE SANTOS - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, CARLA CATHARINE CHAVES NASCIMENTO - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE SALVADOR, DEYBSON BORBA DE ALMEIDA - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA


Introdução e Contextualização
A doença falciforme (DF) resulta de defeitos na estrutura da hemoglobina, em escala global, como consequência das migrações populacionais, sendo o Brasil, reconhecido pela alta prevalência1. O fenômeno de afoiçamento das hemácias torna-as mais rígidas, vulneráveis à destruição, acarretando anemia crônica intensa por viverem na circulação sanguínea em média 10 dias, muito menos que o normal (120 dias)2.
O estado da Bahia concentra parcela significativa da população acometida pela DF, com incidência de 1 em cada 650 nascidos vivos. Entre 2017 e 2023 foram notificados 3.730 casos e 17.598 internações entre 2015 e 2022. A taxa de mortalidade foi 0,59/100.000 habitantes, com maior mortalidade entre a população negra (58,2%), em 20223.
Atingindo parcela significativa da população baiana, a morbimortalidade elevada da DF se apresenta pela forma grave exacerbada por crises, que se não tratadas com brevidade, evoluem para complicações graves, levando à morte. A agudização envolve infecções, anemia hemolítica e infartos por vaso-oclusão difusa.
Os pacientes enfrentam dificuldades no atendimento de urgência evidenciados pela carência de diretrizes claras para a triagem dos casos aos profissionais ou pela abordagem generalista dos instrumentos de classificação de risco vigentes, acarretando atrasos no atendimento, subtratamento da dor e manejo inadequado das complicações agudas.


Objetivo para confecção do produto
Considerando a alta prevalência da DF na Bahia, o aumento de internações hospitalares e a complexidade da agudização da doença, demandou-se a criação de descritores de classificação de risco direcionados a esse público com o intuito de reduzir o tempo de espera para atendimento, minimizar as complicações associadas à doença e melhorar os desfechos clínicos. O objetivo deste estudo foi descrever a proposta de protocolo de acolhimento com classificação de risco (CR) às pessoas portadoras de DF.


Metodologia e processo de produção
Trata-se de uma produção técnica da Coordenação de Urgência da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, que contemplou a elaboração de descritores para serem aplicados durante o atendimento aos portadores de DF na CR, inicialmente em Unidades de Pronto Atendimento (UPA) em todo o Estado. Em fevereiro de 2024 foi realizado mapeamento com os gestores das UPA, através de questionário Google Forms, para coletar dados da CR nestas unidades. Das 57 UPA em funcionamento, obtivemos respostas de 46 unidades, sendo possível verificar os tipos de instrumentos utilizados, bem como, a disposição de prontuário ou sistema eletrônico. Em paralelo, a área técnica institucional elaborou quatro descritores, ancorados em evidências científicas nacional, internacional e na realidade epidemiológica da Bahia, a saber: (i) Crise álgica na DF, (ii) Dor torácica na DF, (iii) Dor em membros na DF e (iv) Queixas abdominais na DF, com grau de risco vermelho e amarelo. A proposta foi validada em Grupo Condutor Estadual de Urgência e na Comissão Intergestores Bipartite. Para sua implementação estabeleceu-se plano de ação com atividades a serem realizadas pelas UPA, área técnica da urgência e outras coordenações.


Resultados
A partir das respostas obtidas, verificou-se que o protocolo de acolhimento com CR ocorre na Rede de Urgência de maneira diversificada, sendo que, 50% das UPA 24h utilizam o Protocolo de Manchester Adaptado, 23,9% o Protocolo de Manchester, 19,6% o Protocolo de ACCR da SESAB, 6,5% adotam protocolo próprio. Quanto aos meios tecnológicos utilizados, verificou-se que 65,2% utilizam o prontuário eletrônico. As demais realizam a CR de forma manual (documental). Estes dados subsidiaram formas de intervenção adequadas para implementação dos descritores propostos.
Assim, os quatro descritores elaborados pela área técnica pautaram-se nos principais sinais e sintomas relacionados às complicações da doença, a serem acrescentados aos protocolos já existentes, a fim de que seja realizado atendimento com a prioridade requerida. Antes mesmo de ser acolhido, todos os profissionais envolvidos, desde a recepção ao atendimento médico, devem atentar-se a estes perfis.
Para tanto, a identificação do paciente na abertura de ficha se dará por meio de uma carteirinha, informando ser portador da doença, para posterior encaminhamento à sala de acolhimento, evitando, assim, tempos de espera prolongados. Os enfermeiros deverão, por meio dos descritores, classificá-los com grau de risco amarelo ou vermelho, priorizando, por conseguinte, realização do atendimento médico.


Análise crítica e impactos sociais do produto
O protocolo de acolhimento com CR para DF, adaptado ao contexto local e alinhado às diretrizes científicas, visa reduzir tempos de espera e otimizar o tratamento da doença nas emergências. Considerando a premissa da educação continuada e sensibilização dos profissionais, é indispensável atualização dos que realizam o acolhimento com CR nas unidades para estes novos descritores, com a devida adaptação conforme recursos tecnológicos adotados.
A qualificação do atendimento a pessoas com DF no âmbito da urgência e emergência destaca não somente a lacuna do conhecimento das equipes de saúde existente acerca do reconhecimento dos sinais e sintomas que indicam gravidade, bem como o manejo da doença e suas complicações. Ganha também notoriedade a necessidade de políticas de saúde voltadas à saúde da população negra, a fim de que seja ofertada assistência integral e equânime, visando mitigar as desigualdades de acesso aos serviços de saúde e racismo estrutural.
A aplicação do instrumento proposto viabiliza, do ponto de vista assistencial, um atendimento seguro, de qualidade e em tempo hábil, reduzindo complicações e mortalidade, por conseguinte, impactando no volume de internações hospitalares e em leitos de terapia intensiva. Por fim, a proposta em questão representa um avanço importante na assistência à DF e estabelece novo padrão de atendimento na rede de atenção.


Referências
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Governo Federal reforça necessidade do diagnóstico precoce da Doença Falciforme. Conscientização. 2022. Disponível em: . Acesso em: 05/02/2024.
2- BAHIA. Secretaria da Saúde do Estado. Superintendência de Vigilância e Proteção à Saúde. Boletim Epidemiológico da Doença Falciforme n. 01. Bahia: 2023. Disponível em: boletimEpidemiologicoDoencaFalciformeNo01_nov2023.pdf (saude.ba.gov.br). Acesso em 17/05/2024.
3- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Hospitalar e de Urgência. Doença Falciforme: diretrizes básicas da linha de cuidado. Departamento de Atenção Especializada e Temática. Brasília: 2015.


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