Comunicação Coordenada

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
CC4.9 - Rede de Atenção à Saúde Materno Infantil

53818 - ANÁLISE DA QUALIDADE DO PREENCHIMENTO DOS CARTÕES DE PRÉ-NATAL: ESTUDO DE CASO CONTROLE SOBRE MORTALIDADE FETAL, NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
OSMARA ALVES DOS SANTOS - DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA, FACULDADE DE MEDICINA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FMUSP), SÃO PAULO, BRASIL, ISABELLA NUNES OLIVEIRA - DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA, FACULDADE DE MEDICINA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FMUSP), SÃO PAULO, BRASIL, ROSSANA PULCINELI VIEIRA FRANCISCO - DEPARTAMENTO DE OBSTETRÍCIA E GINECOLOGIA, FACULDADE DE MEDICINA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FMUSP), SÃO PAULO, BRASIL, ZILDA PEREIRA DA SILVA - DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA, FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FSP-USP), SÃO PAULO, BRASIL, MARCIA FURQUIM DE ALMEIDA - DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA, FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FSP-USP), SÃO PAULO, BRASIL, GIZELTON PEREIRA ALENCAR - DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA, FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FSP-USP), SÃO PAULO, BRASIL, MARA SANDRA HOSHIDA - DEPARTAMENTO DE OBSTETRÍCIA E GINECOLOGIA, FACULDADE DE MEDICINA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FMUSP), SÃO PAULO, BRASIL, GERUSA MARIA FIGUEIREDO - DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA, FACULDADE DE MEDICINA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FMUSP), SÃO PAULO, BRASIL, NELSON GOUVEIA - DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA, FACULDADE DE MEDICINA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FMUSP), SÃO PAULO, BRASIL, HILLEGONDA MARIA DUTILH NOVAES - DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA, FACULDADE DE MEDICINA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FMUSP), SÃO PAULO, BRASIL


Apresentação/Introdução
O Cartão da Gestante constitui instrumento essencial na coleta e transmissão de dados sobre a saúde da gestante e do bebê, que visa garantir a circulação das informações entre os profissionais envolvidos, desde os cuidados hospitalares primários, até o obstetra e o pediatra que irá avaliar o recém-nascido. Essas informações são fundamentais para que os profissionais da saúde possam tomar as decisões adequadas no sentido de garantir o bem-estar da mãe e seu bebê durante a gestação e no período pós-parto.
Embora o cartão pré natal seja fundamental para a sistematização de atendimento, para viabilizar o sistema de referência e contrarreferência, e como ferramenta de avaliação dos serviços de saúde, ainda são poucos os estudos que avaliaram a qualidade do seu preenchimento. Estudos realizados em diferentes regiões do Brasil evidenciaram problemas na qualidade dos registros no cartão de gestante, desde problemas na completude até na legibilidade, assim como inadequação aos parâmetros preconizados pelo Ministério da Saúde.


Objetivos
Este estudo teve como objetivo analisar a qualidade do preenchimento dos cartões de pré-natal das gestantes de um estudo caso controle, no Município de São Paulo e analisar se há diferença na completude das informações do cartão da gestante para casos e controles.

Metodologia
O estudo faz parte da pesquisa FetRisks - Mortalidade Fetal: desafios do conhecimento e da intervenção, projeto temático FAPESP 2016/07765-0, estudo de caso-controle de base hospitalar com 412 óbitos fetais (casos) e 420 nascidos vivos (controles) em 14 hospitais SUS do município de São Paulo. Para esse estudo foram avaliados dados dos cartões/cadernetas da gestante 319 casos e 370 controles. Realizou-se a análise da qualidade do preenchimento dos cartões de pré-natal das gestantes, considerando o total e comparando os dados dos grupos de “casos” e "controles''. Os dados foram analisados no programa STATA versão 17.0. Alguns registros no cartão de pré-natal são exclusivamente realizados durante a primeira consulta, tais como os antecedentes obstétricos, enquanto outros são feitos em todas as consultas, como os dados do exame clínico, para esses últimos foram agregadas todas as consultas realizadas, considerando se havia pelo menos um registro. Para as variáveis altura uterina e batimentos cardíacos fetais, apenas foram incluídas aquelas com IG a partir da 12ª semana de gestação.

Resultados e Discussão
Cerca de 33% das gestantes fizeram 6 consultas ou menos, com média de 6,7 consultas para casos e 9,6 para controles. A maioria (63,1%) teve a primeira consulta no primeiro trimestre, sem diferença significativa entre casos e controles. Os dados sobre gestações, partos e abortos tiveram alto preenchimento, com 88,4% para casos e 91,1% para controles para gestações, 81,2% dos casos e 82,4% dos controles para partos, e 76,2% tanto para casos quanto para controles para abortos. Dados de exames clínicos foram registrados no cartão em pelo menos uma consulta de pré-natal na seguinte proporcão: 99,1% dos cartões registrando o peso, 99% a pressão arterial, 70,8% a altura uterina e 70,3% os batimentos cardíacos fetais. No entanto, o edema foi anotado em apenas 29,5% das vezes. Não houve diferenças na completude dos dados entre os grupos, exceto para o edema, mais comum nos controles (34,1%) do que nos casos (24,1%). Registros de ultrassonografias foram encontrados na maioria dos cartões, com 67,9% contendo até 3 registros e 63% das gestantes realizou pelo menos um ultrassom no primeiro trimestre. Não houve diferença entre casos e controles. Em relação aos exames anotados no cartão da gestante, a proporção de pelo menos 1 resultado anotado foi de 94,6% para o exame de HIV, com 60,1% tendo entre 1 e 2 exames, 76,2% para o exame de sífilis, com 56% tendo de 1 a 2 exames anotados e 83% para o exame de urina, com 64,4% tendo de 1 a 2 exames anotados. A completude de 3 ou mais exames foi maior para os controles nos três exames avaliados (para HIV: 46,5% dos controles e 21,6% dos casos; para sífilis: 46,8% dos controles e 25,7% dos casos; para urina: 31,6% dos controles e 10% dos casos). A vacina contra a Influenza foi registrada em apenas 33,1% dos cartões, sem variação entre os grupos.

Conclusões/Considerações finais
A completude dos dados do cartão/caderneta de pré-natal variou muito segundo as variáveis analisadas, nenhuma variável apresentou 100% de completude. Em relação a comparação entre a completude dos dados para caso e controle, não houve grandes diferenças entre os grupos. Os dados demonstram uma falha no registro das informações do pré-natal no cartão da gestante, o que evidencia uma possível desvalorização desse documento, despreparo por parte dos profissionais ou barreiras institucionais para o preenchimento. Deve-se pensar em políticas públicas para incentivar a valorização deste documento e a capacitação dos profissionais para um preenchimento adequado. No estudo foi evidenciado uma multiplicidade de cartões de pré-natal o que dificulta o estabelecimento de rotina de preenchimento, a análise comparativa dos dados e a implantação de um sistema adequado de referência e contrarreferência, indicando a necessidade de uniformização dos cartões de pré-natal e um sistema informatizado.

Referências
1. Rodrigues TA, Pinheiro AKB, Silva AA, Castro LRG, Silva MB, Fonseca LMB. Qualidade dos registros da assistência pré-natal na caderneta da gestante. Rev Baiana Enferm. 2020; 34:e35099. Disponível em: https://search.bvsalud.org/gim/resource/en/biblio-1115322.
2. Santos TMMG, Abreu APS, Campos TG. Avaliação dos registros no cartão de pré-natal da gestante. Rev Enferm UFPE Line. 2017;11(7):2939–45. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/viewFile/8458/19206.
3. Viellas EF, Domingues RMSM, Dias MAB, Gama SGN, Filha MMT, et al. Assistência pré-natal no Brasil. Cad. Saúde Pública 30 (Suppl 1), Ago 2014 Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-311X00126013.
4. Gonzales TN, Cesar JA. Posse e preenchimento da Caderneta da Gestante em quatro inquéritos de base populacional. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v.19, n.2, abr/jun, 2019.

Fonte(s) de financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Processos FAPESP: 2016/07765-0 e 2020/05458-9.


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