50347 - PREVALÊNCIA DO PARTO POR CESARIANA DE MULHERES NAS MACRORREGIÕES DO BRASIL SEGUNDO A FAIXA ETÁRIA VICTÓRYA SUÉLLEN MACIEL ABREU - UFC, PRISCILA DE SOUZA AQUINO - UFC, FRANCISCA MARIA DA SILVA FREITAS - UFMA, BRUNO LUCIANO CARNEIRO ALVES DE OLIVEIRA - UFMA, CÍCERO RICARTE BESERRA JÚNIOR - UNIFOR, ANA MARIA MARTINS PEREIRA - SESA-CE, MARIANNE MAIA DUTRA BALSELLS - UNILAB
Apresentação/Introdução A cesariana é um procedimento cirúrgico que salva vidas e pode prevenir a morbimortalidade materna e perinatal. No entanto, nas últimas décadas, seu uso como via de parto tem aumentado em todo o mundo para níveis sem precedentes. A recomendação da OMS é que as taxas de cirurgia cesariana cheguem a porcentagens entre 10-15%, pois valores superiores não contribuem para a diminuição dos piores desfechos.1
As tendências e projeções atuais da realização de cesariana ao redor do mundo apontam para a contínua medicalização do parto e elevação em suas taxas. Esse cenário complexo está associado a necessidades não satisfeitas, à prestação insegura de cesarianas e superutilização, que drena recursos e eleva os níveis de morbimortalidade evitáveis. Logo, para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável nessa década, esse assunto deve ser uma prioridade global.2
Objetivos O presente estudo tem como objetivo analisar a prevalência de partos cesarianas nas macrorregiões do Brasil.
Metodologia Trata-se de um estudo ecológico baseado em dados secundários de nascimentos registrados no Sistema Nacional de Nascidos Vivos (SINASC), vinculado ao Ministério da Saúde do Brasil.
Para essa pesquisa, foram avaliados dados de todos os nascimentos dos recém-nascidos de gestantes com partos realizados de 2011 a 2020 no território brasileiro. Foram excluídas da pesquisa mulheres cuja variável tipo de parto constava como ignorada e parto instrumental pelo uso de fórceps.
Foram analisadas a distribuição da prevalência de cesariana entre os grupos de idade e macrorregiões do Brasil ao longo dos anos avaliados, utilizando-se o software RStudio, versão 2022.2.3.492.
Os dados utilizados por este estudo são públicos e estão disponíveis no Open DataSUS, uma plataforma governamental oficial, que dispensa a obrigatoriedade e solicitação prévia aos órgãos governamentais para sua exploração e publicação. No banco de dados não constam dados de identificação pessoal nem do domicílio, o que endossa o respeito ao sigilo e privacidade sobre as identidades dos sujeitos da pesquisa, conforme a Resolução nº 510/2016, do Conselho Nacional de Saúde.
Resultados e Discussão No período avaliado, ocorreram 28.987.467 partos, sendo 16.222.292 (56%) por via cesárea. Estudo ecológico de tendências temporais realizou projeções que apontam para uma taxa de 57,4% dos nascimentos no Brasil por cesariana no ano de 2030, especialmente nas regiões Sudeste e Sul e com proporções 13% superiores à estimativa nacional.3
Em todas as regiões do país e independente do período, houve um aumento da prevalência com o aumento da idade e essas diferenças foram estatisticamente significantes (p<0,001). O padrão de distribuição etário e ao longo dos anos foi similar: menor nas regiões Norte e Nordeste e também menor que a prevalência nacional, porém, maior no Centro-Oeste e Sul do país. Ademais, aumentaram essas prevalências em todas as regiões no horizonte temporal, com redução da disjunção das linhas de distribuição entre as regiões nos anos mais recentes de avaliação.
Estudo realizado em quatro das cinco regiões brasileiras observou que 70,7% das participantes tiveram seus filhos por cesariana, com prevalência entre as mulheres com idade entre 18 e 30 anos (52%) no atendimento público e entre 31 e 40 anos (54,3%) na saúde suplementar.4
O fator econômico como influenciador na decisão pela cirurgia cesariana é comprovado em alguns estudos. Dados de inquérito populacional do Golfo Árabe com 60.728 nascidos vivos evidenciou associação desse parto com ensino superior e ocupação remunerada das mães.5 Na África, inquéritos nacionais da Tanzânia e Quênia indicaram maiores chances de cesárea entre mães de famílias mais ricas, aquelas seguradas, altamente escolarizadas e gestoras, em comparação com classe média, sem seguro, ensino primário e desempregados, respectivamente.6
Conclusões/Considerações finais Diante dos dados apresentados por meio da análise dos nascimentos no recorte temporal pelo SINASC, entende-se que há um aumento no número de cesarianas para além do que se é preconizado, principalmente em quatro das cinco regiões brasileiras.
É de suma importância, em estudos posteriores, analisar possíveis causas e o impacto de intervenções bem sucedidas para reduzir o número de partos cirúrgicos, ressaltando a importância das políticas de saúde de incentivo ao parto normal, bem como medidas de controle para avaliar a correta indicação das intervenções cirúrgicas.
Referências 1. OMS. Declaração da OMS sobre Taxas de Cesáreas. Available from: https://iris.who.int/bitstream/handle/10665/161442/WHO_RHR_15.02_por.pdf
2. Betran AP, et al. Trends and projections of caesarean section rates. BMJ Glob Heal 2021;6. doi: 10.1136/BMJGH-2021-005671.
3. Pires RCR, et al. Tendências temporais e projeções de cesariana no Brasil, macrorregiões administrativas e unidades federativas. Cien Saude Colet 2023;28. doi: 10.1590/1413-81232023287.14152022.
4. Silva TPR, et al. Influence of maternal age and hospital characteristics on the mode of delivery. Rev Bras Enf 2020;73. doi: 10.1590/0034-7167-2018-0955.
5. Sayed G, et al. Review of socioeconomic risk factors for cesarean births. Acta Bio Medica 2023;94. doi: 10.23750/ABM.V94I3.13907.
6. Arunda MO, et al. Cesarean delivery and associated socioeconomic factors and neonatal survival outcome in Kenya and Tanzania. Glob Hea Act 2020;13. doi: 10.1080/16549716.2020.1748403.
Fonte(s) de financiamento: Este trabalho foi realizado com o apoio do Edital nº 21/2018-Procad/ Amazônia.
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