Comunicação Coordenada

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
CC4.8 - Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)

52398 - GRUPO TERAPÊUTICOS VOLTADOS A SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE – A EXPERIÊNCIA DO MUNICÍPIO DE ALEXÂNIA
DENIS AXELRUD SAFFER - SAÚDE E POLÍTICAS PÚBLICAS (SPP) CONSULTORIA, GISELE DE MENEZES ALVES - PREFEITURA DE ALEXÂNIA


Contextualização
Alexânia está localizada no estado de Goiás com população de 28.010 habitantes. O município vem fortalecendo sua Atenção Primária a Saúde (APS) na última década, reorganizando os serviços e melhorando os indicadores de saúde. Sua rede conta com dez unidades de APS, incluindo uma equipe NASF e um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). No começo da experiência o local convivia com filas de espera para especialistas em saúde mental, limitada oferta de atendimentos na APS e falta de articulação com o CAPS. Muitas das transformações efetivadas tiveram como base a Planificação da Atenção à Saúde (PAS), metodologia de reorganização da Rede de Atenção à Saúde (RAS) com base nas contribuições de Mendes (2015) quanto a construção social da APS e o modelo de atenção às condições crônicas. A PAS combina processos de educação permanente em saúde e consultoria em gestão para a reorganização da RAS e foi desenvolvida pelo Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde, levando a diversas experiências exitosas pelo país. (FSP/USP, 2023). No caso de Goiás, essa metodologia vem sendo implantada junto aos municípios pelo CONASS em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás desde 2017. A partir de 2022 somou-se a esses atores o apoio do projeto “Saúde Mental na APS” (PROADI-SUS), que utiliza a metodologia da planificação para a organização do cuidado nessa esfera.

Descrição da Experiência
Considerando a crescente demanda por atendimento em saúde mental no município optou-se por iniciar em todas as unidades de APS grupos terapêuticos, tendo como principais coordenadoras as enfermeiras. No âmbito do projeto foi incentivada a expansão das intervenções em saúde mental a partir das necessidades do território, prática estratégica para o fortalecimento da atenção psicossocial na APS (Lancetti e Amarante, 2006). Tomando como base o diagnóstico situacional da área e a identificação das pessoas com necessidade de cuidado em saúde mental foram definidos os perfis de cada grupo. Os públicos-alvos para cada território foram: mulheres, idosos, mulheres com ansiedade, hiperutilizadores, mulheres residentes em área rural, adolescentes e homens. Os grupos incluem um espaço de escuta, além de metodologias diversas como: caminhada, alongamentos, dinâmicas de grupo e psicoeducação. Para apoiar a realização dos grupos foi instituído um espaço de matriciamento junto ao CAPS do município, tendo como foco o aprimoramento das habilidades das enfermeiras para a escuta e coordenação de grupos. Além disso todos os profissionais de nível superior foram formados para o atendimento em saúde mental na APS por meio de oficinas para a utilização do “Manual de Intervenções para transtornos mentais, neurológicos e por uso de álcool e outras drogas na rede de atenção básica à saúde” (OMS, 2018).

Objetivo e período de Realização
O relato refere-se a processos realizados entre Maio de 2021 e Dezembro de 2022. Os objetivos da experiência relatada foram: facilitar o acesso ao cuidado em saúde mental; construção de solidariedade e soluções coletivas para as necessidades da população em saúde mental; fortalecer o papel da Equipe de Saúde da Família (EqSF) no cuidado em saúde mental; ofertar intervenções psicossociais baseadas nas necessidades de saúde da população.

Resultados
A implantação dos grupos foi bastante bem-sucedida. No começo o processo gerou insegurança nas equipes de APS, mas o CAPS passou a apoiar a EqSF a partir de ações de matriciamento, aproximando a rede. A coordenação dos grupos contou com o apoio de diversos profissionais da EqSF, o que permitiu uma maior responsabilização no cuidado em saúde mental. Os dez grupos implantados mobilizam em média 110 pessoas por semana. No período foi possível aumentar a identificação dos casos com necessidade de cuidado em saúde mental, partindo de 760 pessoas identificadas em (03/2022) para 3.841 pessoas identificadas (09/2023). Simultaneamente a lista de espera para atendimento psiquiátrico diminuiu de 291 pessoas para 19 pessoas. Outras ações também contribuíram para o melhor funcionamento da RAS, entre elas: reuniões regulares de apoio a gestão municipal; oferta de consultas individuais com escuta qualificada pela EqSF; o treinamento dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) para a identificação dos casos e o fortalecimento do matriciamento do NASF. Os participantes dos grupos relataram: melhora na qualidade de vida e autoestima; maior disposição para formação de vínculos sociais e com a equipe.

Aprendizado e Análise Crítica
Verifica-se um importante aumento dos casos com necessidade de cuidado em saúde mental nos últimos anos. (OMS, 2022) A APS de forma geral encontra-se pouco preparada para dar resposta a essa demanda, sendo necessária a construção de ações inovadoras. A experiência referida permitiu a expansão qualificada do acesso ao cuidado em saúde mental, utilizando de maneira estratégica os recursos. Foi decisivo o uso de estratégias de matriciamento, educação permanente em saúde, apoio institucional e ampliação das ofertas de cuidado, além do compromisso da gestão municipal para a implementação das ações. Para melhores resultados é necessário qualificar ainda mais as habilidades dos profissionais da APS na condução de grupos terapêuticos, além da formalização de fluxo da RAS municipal. Segundo o relato dos participantes, os grupos terapêuticos têm o potencial de: diminuir a procura pela demanda espontânea na APS, otimizar o uso do tempo da EqSF, qualificar o acompanhamento das condições crônicas, prevenir adoecimentos e aprimorar a execução dos planos de cuidado. Propiciam abordagens coletivas a questões coletivas, utilizando dos saberes da comunidade e fortalecendo sua capacidade no enfrentamento de problemas. A experiência relatada foi premiada como referência para a organização da RAS na Conferência Nacional de Planificação da Atenção à Saúde, promovida pelo CONASS em 2023.

Referências
Lancetti, A., & Amarante, P. (2006). Saúde Mental e Saúde Coletiva. In G. W. S. Campos,
M. C. S. Minayo, M. Akerman, et al. (Orgs.). Tratado de Saúde Coletiva (pp. 615-633). São Paulo, SP/Rio de Janeiro, RJ: Hucitec, Fiocruz.
Mendes,E. V. (2015). A construção social da atenção primária à saúde. Brasíila: Conselho Nacional de Secretários de Saúde - CONASS.
Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP/USP) (2013). Revista de Saúde Pública, Volume: 57 Suplemento 3. Planificação da Atenção à Saúde. São Paulo: FSP/USP.
Organização Mundial de Saúde (OMS) (2018). MI-mhgap: Manual de Intervenções para transtornos mentais, neurológicos e por uso de álcool e outras drogas na rede de atenção básica à saúde. Versão 2.0. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde.
OMS (2018). World health mental report: transforming mental health for all. Genebra: OMS.


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