Comunicação Coordenada

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
CC4.8 - Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)

52348 - PERCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE SOBRE AS PRÁTICAS DE CUIDADOS EM SAÚDE MENTAL NA REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
MARIANA ISABEL E SILVA - UFC, MARCELA RAMOS DE SOUSA - UFC, NICOLAS GUSTAVO SOUZA COSTA - UFC, LUIS LOPES SOMBRA NETO - UFC, CARMEM EMMANUELY LEITÃO ARAÚJO - UFC, RICARDO JOSÉ SOARES PONTES - UFC, EUGÊNIO DE MOURA CAMPOS - UFC


Apresentação/Introdução
A atenção primária à saúde (APS) é um componente estratégico e fundamental da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), desempenhando um papel crucial ao sincronizar tecnologias e responder às necessidades psicossociais da população de forma integral e intersetorial, imersa no território. Como porta de entrada para todo o sistema de saúde, a APS tem um papel vital no acolhimento e cuidado em saúde mental, possibilitando o acesso inicial e contínuo aos demais serviços da rede de saúde (BRASIL, 2013),
A APS vem enfrentando desafios consideráveis devido à falta de recursos tanto materiais como de profissionais capacitados. Há também déficit na comunicação e articulação das APS com os demais serviços da rede, outro fator crítico dessas dificuldades está na lacuna na formação dos profissionais que atuam nela. Isso tudo fragiliza o cuidado em saúde mental no território (ROTOLLI et al., 2019).
Dessa forma, tornam-se essenciais estudos que visam compreender os desafios e as oportunidades enfrentados pelos profissionais da APS nos cuidados da saúde mental e as estratégias de fortalecimento da integração na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).


Objetivos
Compreender as percepções dos profissionais de saúde sobre os cuidados em saúde mental na Rede de Atenção Psicossocial

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória e crítica, que visa entender as percepções que permeiam as práticas e os significados da atenção ao sofrimento mental na APS de Fortaleza-CE. Dois grupos focais foram realizados, ambos com 10 profissionais de saúde de diferentes categorias, atuantes na APS ou atenção especializada em saúde mental. As seguintes temáticas nortearam a discussão: a) práticas de cuidado em saúde mental na APS; b) potencialidades e fragilidades do cuidado em saúde mental na APS; c) experiência de matriciamento em saúde mental. Para compreensão dos achados, foi realizada análise temática (BRAUN; CLARKE, 2006), com vista para categorias emergentes no discurso que se interconectam com as unidades de análise e os pressupostos teóricos já postos. Foram elaborados os eixos de significação da análise, somado aos esforços de identificar as interconexões dos temas e dimensões, para construção de rede de significados (POPE, ZIEBLAND, MAYS, 2009). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa nº 6.222.170.

Resultados e Discussão
Duas categorias emergiram do processo de análise: “Concepções e práticas de cuidado em saúde mental na APS” e “Integralidade e interprofissionalidade na RAPS”.

Concepções e práticas de cuidado em saúde mental na APS
Os participantes convergem na percepção da complexidade do sofrimento mental, implicado pelos determinantes sociais de saúde. Apontam as vulnerabilidades psicossociais dos sujeitos como potencializador do adoecimento. Assim, os discursos privilegiam a necessidade de interseccionar diferentes tecnologias de cuidados. No entanto, verificou-se um distanciamento entre os significados atribuídos e as práticas nas unidades. As experiências assistenciais, por vezes, têm sido reduzidas a ações individuais, a renovação de prescrições e a limitação do tempo de consulta. Quando presentes, as atividades de grupos operativos são vistas como potentes, embora fragilizadas pela falta de apoio da gestão.

Integralidade e interprofissionalidade na RAPS
Os sujeitos destacam a importância de interseccionar núcleos de saberes, mobilizados por categorias profissionais distintas, na composição de um campo comum de cuidado em saúde mental. Diante de demandas interprofissionais, há unanimidade sobre a fragmentação da RAPS, com barreiras de acesso ao serviço especializado e assimetrias no diálogo entre os Centros de Atenção Psicossocial e a APS. O apoio matricial é pontuado como dispositivo que tende a fortalecer os intercâmbios profissionais, embora seja restrito a algumas unidades. Nesse contexto, as políticas e estratégias de gestão do cuidado são percebidas como descontínuas, pontuais e insuficientes, com destaque para a carência na atenção multiprofissional após o fim do financiamento federal discricionário das equipes Núcleo de Apoio à Saúde da Família.



Conclusões/Considerações finais
A Rede de Atenção Psicossocial, como caracterizada pelos profissionais de saúde deste estudo, apresenta alguns desafios para consolidar cuidados integrais e interprofissionais em saúde mental. Esses desafios perpassam a corresponsabilização entre usuários, profissionais e gestões a serem desenvolvidas de acordo com as particularidades do território. Dessa forma, é importante desenvolver e implementar políticas de educação permanente com os profissionais e estratégias de cogestão que promovam a construção de práticas multiprofissionais, como no matriciamento, na qualificação dos cuidados em saúde mental aos usuários.

Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica. Saúde Mental. Número 34. Brasília: Ministério da Saúde. 2013.

BRAUN, V., CLARKE, V. Using thematic analysis in psychology. Qualitative research in psychology, v. 3, n. 2, p. 77-101, 2006.

POPE, C.; ZIEBLAND, S.; MAYS, N. Analisando dados qualitativos. Pesquisa qualitativa na atenção à saúde, v. 2, p. 87-99, 2009.

ROCHA, M.N.T..; CALHEIROS, D.S.; WYSZOMIRSKA, R.M.A.F.. Formação inicial do médico que atua na atenção primária à saúde mental. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 47, n. 1, p. e001, 2023.

ROTOLI, A. et al. Saúde mental na atenção primária: desafios para a resolutividade das ações. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, Rio de Janeiro, v. 23, n. 2, 2019.

YASUI, S.; LUZIO, C.A.; AMARANTE, P. Atenção psicossocial e atenção básica: a vida como ela é no território. Rev. Polis Psique, Porto Alegre , v. 8, n. 1, p. 173-190, 2018.

Fonte(s) de financiamento: Bolsas da Pró-Reitoria de Extensão (PREX) da Universidade Federal do Ceará (UFC)


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