Comunicação Coordenada

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
CC4.4 - Rede de atenção à pessoas portadoras de Condições Crônicas

50387 - PROJETO SAÚDE EM REDE NO SUS-BH: AVALIAÇÃO-INTERVENÇÃO NAS PRÁTICAS DE GESTÃO E CUIDADO
SERAFIM B SANTOS FILHO - SMS-BH, UFMG, TACIANA MALHEIROS - SMS-BH, MACRO ANTÔNIO BRAGANÇA - SMS-BH, VANESSA VIDA - SMS-BH


Contextualização
O SUS-Belo Horizonte é um robusto sistema com cerca de 300 unidades assistenciais e 20 mil trabalhadores. Em seu reconhecido histórico de avanços, atualmente passa por dificuldades comuns a todo o SUS em limitações de recursos, precarização do trabalho e retrocessos na organização e gestão em rede. Diagnósticos institucionais sinalizaram importantes fragmentações e verticalização das relações, com desalinhamentos nas práticas de atenção e desarticulação de equipes/serviços. Para lidar com essas lacunas foi articulado o Projeto Saúde em Rede no SUS-BH, centrando-se em referenciais de análise-intervenção no trabalho, nele se cruzando conceitos já amplamente perspectivados na organização de serviços de saúde, como redes, cogestão, trabalho em equipe multiprofissional, apoio institucional, avaliação participativa e humanização. O processo cartográfico proposto com o Projeto se afirmou com o aporte desses conceitos-ferramentas mediadores de discussões da gestão e do cuidado. Nessa direção, o Projeto se instituiu como caminho para aproximações mais horizontalizadas com os territórios, fomentando protagonismo de dirigentes e trabalhadores em construções coletivas, superando a fragmentação das relações em rede e ampliando abordagens inclusivas para lidar com as iniquidades nas relações institucionais e no acesso de usuários.

Descrição da Experiência
O Projeto pôs em transversalidade os serviços e suas equipes, contemplando dirigentes e equipes de todos os níveis gestores e territórios sanitários. Para se fazer em movimento vivo e ampliado com os sujeitos-territórios, na lógica cartográfica, o projeto se desenvolveu com dispositivos sintetizados em 3 esferas conexas: a) oficinas com dirigentes dos diferentes níveis; b) oficinas com referências técnicas e apoiadores institucionais e c) oficinas territoriais com 100% dos trabalhadores agrupados em cerca de 450 turmas, mesclando-se os serviços. Essas oficinas tinham focos disparadores de conversa, pelos quais se podia trazer à tona os processos de trabalho e práticas de gestão e atenção, as vivências e percepções sobre o trabalho. Oficinas a, b e c foram realizadas simultaneamente em escalas mensais, concatenadas para serem momentos de formação-intervenções-(re)alinhamentos-(re)avaliações e garantindo protagonismo de todos nos ajustes permanentes de rumos. Duas dimensões de finalidades perpassavam todas as oficinas: de alinhamentos sobre os processos e práticas, sendo espaços de construções coletivas das mudanças desejadas; e momentos pedagógicos de aprendizagens de métodos de gestão compartilhada e de mobilização de sujeitos-equipes para aumentar suas capacidades de análise-intervenção no trabalho (finalidade maior do projeto).

Objetivo e período de Realização
O objetivo central do Projeto, e de sua pauta em um Congresso que tem o SUS em sua essência, é demarcar caminhos bem-sucedidos de mobilização de sujeitos-equipes para interferir no trabalho em saúde, de forma corresponsabilizada, crescendo na capacidade de análise-intervenção no próprio trabalho, dialogando com a macroesfera de gestão, assim protagonizando transformações nos processos de cuidar e de gerir. Foi realizado entre fev/23 e jun/24, com amplo alcance de resultados mostrados a seguir.

Resultados
Na perspectiva cartográfica instituiu-se um acompanhamento avaliativo conectando produtos-movimentos-efeitos em rede, a saber: Oficinas: ±1700(140/mês). Serviços e atores: 100% das unidades, abrangendo 15mil pessoas. Formação transversal: conceitos-ferramentas relacionados ao trabalho e gestão em saúde; análise de conjuntura; dispositivos de planejamento-monitoramento-avaliação; competências de gestão. Temas pautados: Gestão participativa, Trabalho em equipe, Território e Vigilância, Acesso, Apoio Matricial, Linhas de cuidado, Organização de ofertas e fluxos entre serviços. Dispositivos e ferramentas atualizados: protocolos clínicos e organizacionais e outros instrumentos associados à gestão e atenção. Efeitos nos sujeitos-processos-práticas: aumento da capacidade institucional de trabalhar em equipe, cooperação e corresponsabilização; reposicionamentos em atitudes na relação com o trabalho; satisfação com as participações, movimentos de integração e construções coletivas; reorganização de colegiados gestores, fóruns interserviços; adequações de RH e estrutura articulados às ações propostas; fluxos reorganizados coletivamente para ampliar e qualificar acesso e acolhimento aos usuários.

Aprendizado e Análise Crítica
Na ética de inclusão do Projeto, o principal vetor de efeito foi o melhor cuidado entre equipes repercutindo em melhor cuidado aos usuários. Para isso os investimentos-aprendizagens institucionais se ampliaram em um amplo espectro, com interferências nas lacunas de participação, de baixo grau de confiança intergestores/equipes, de desalinhamentos e não-pertencimento ao trabalho. Nos tempos atuais de dificuldades de sustentabilidade das políticas públicas no Brasil, o caminho eticometodológico do Projeto se fez potente para revitalizar rede. Tomando o trabalho em saúde como categoria central, foram articulados conceitos-ferramentas potentes para permear análises e fomentar protagonismo coletivo em intervenções para mudanças. Partindo do diagnóstico de desarticulações e outros problemas, o Projeto assumiu o compromisso de se fazer desde o seu início como um movimento de escuta dos diferentes atores espalhados na rede, ir-se fazendo em rede. Por isso se destaca a importância do processo de pesquisar-analisar-intervir com a rede, com ela se misturando, envolvendo usuários, trabalhadores e dirigentes de todos os níveis, transversalizando a relação que os sujeitos/equipes estabelecem com o mundo do trabalho em sua prática cotidiana e as questões que perpassam a macrogestão, buscando a corresponsabilização de todos no compromisso com as mudanças desejadas.

Referências
Brasil. MS. HumanizaSUS: documento base para gestores e trabalhadores do SUS. Brasília: Ministério da Saúde; 2008
Brasil. MS. Trabalho e redes de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009
Campos GWS. Um método para análise e cogestão de coletivos. São Paulo: Hucitec; 2000
Santos Filho SB. Avaliação e Humanização em Saúde: aproximações metodológicas. Ijuí: Ed. Unijuí, 2010
Santos Filho SB, Barros MEB. O trabalho em saúde e o desafio da humanização: algumas estratégias de análise-intervenção. Tempus Actas de Saúde Coletiva. 2012; 6(2);101-122
Santos Filho, SB. Apoio institucional e análise do trabalho em saúde: dimensões avaliativas e experiências no SUS. In: Interface, 2014, 18(1): 1013-1025)
Santos Filho SB. Metodologia para articular processos de formação-intervenção-avaliação em saúde. In: Souza KV, Santos Filho SB. Educação profissional em saúde: metodologia e experiências de formação-intervenção-avaliação. Porto Alegre: Moriá,2020


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