Comunicação Coordenada

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
CC4.3 - Atenção Primária à saúde (2)

53262 - PRÁTICAS POPULARES DE SAÚDE EM TERRITÓRIOS DO CAMPO: PERCEPÇÃO DE USUÁRIOS EM UMA COMUNIDADE RURAL NO INTERIOR DO CEARÁ
LUCIANA BATISTA LUCIANO - FIOCRUZ-CE, VANIRA MATOS PESSOA - FIOCRUZ-CE


Contextualização
No Sistema Único de Saúde (SUS) temos a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) que abrange recursos terapêuticos com abordagem mais natural, com ênfase na escuta acolhedora, na construção de vínculo e na interação entre homem, meio ambiente e sociedade (BRASIL, 2015). A população do campo reflete sua relação com a natureza incorporando saberes tradicionais como: o uso de plantas medicinais, rezas, benzimentos, parteiras e outras (RÜCKERT; CUNHA; MODENA, 2018).Além da PNPIC, temos a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo,da Floresta e das Águas (PNSIPCFA), garante acesso à saúde pelo SUS, considerando suas necessidades específicas. A PNSIPCFA foi elaborada num diálogo entre o governo e os movimentos sociais. Reconhece e valoriza as práticas populares de saúde e respeita a diversidade cultural e biológica, valorizando o conhecimento tradicional e promove a cidadania dessas populações (BRASIL, 2013). Entre outras iniquidades, a população do campo enfrenta dificuldades de acesso à saúde devido a distâncias geográficas, favorecendo o uso de terapias alternativas. Nestes territórios, é central a atuação dos profissionais aliando saber biológico e popular, valorizando a diversidade cultural e as práticas emancipatórias num cuidado em saúde, sensível à educação e aos movimentos sociais (ROCHA, AQUILANTE, 2020).

Descrição da Experiência
Foram convidados pela enfermeira da equipe representantes da comunidade que usam o serviço de saúde e desenvolvem práticas populares de saúde para uma roda de conversa sobre o tema. Realizamos a oficina no posto de saúde de Várzea Alegre, unidade de apoio rural de uma equipe de saúde da família, que atende população rural e urbana. A localidade fica a cerca de 10 km da sede do município, com o total de 130 famílias. Participaram oito pessoas: cinco usuários do SUS, um agente comunitário de saúde e um funcionário de nível médio da unidade (recepcionista) e a enfermeira. Iniciamos a roda de conversa com o tema “As práticas populares em saúde”, interagindo com os participantes, para identificar práticas mais conhecidas e praticadas e sua importância para a população. Nesse diálogo questionamos: “Quais os problemas/dificuldades encontrados no exercício das práticas populares de saúde?”. Os participantes citaram algumas situações consideradas, como dificuldades e as informações foram discutidas e consolidadas em quatro etapas, finalizando com a matriz GUT, ferramenta utilizada par priorizar problemas. Neste acrônimo o “G” representa Gravidade do problema, “U” é a urgência em resolver o problema e o “T” é a tendência, probabilidade de piorar. Juntas, ajudam a decidir a ordem de resolução.

Objetivo e período de Realização
Relatar a experiência vivenciada durante uma roda de conversa, com duração de 4 horas, realizada no dia 30 de abril de 2024 para: identificar, categorizar, hierarquizar e priorizar os problemas relacionados as práticas populares de saúde no território rural.

Resultados
Os problemas mencionados foram: falta de integração entre conhecimentos populares e científicos; população dando prioridade ao conhecimento médico (científico); pouca credibilidade dos profissionais nas práticas populares e pouco conhecimento sobre as práticas populares por parte da população. Entre os participante estava a filha de uma das rezadeiras da comunidade, figura bastante repeitada e algumas vezes solicitada por suas rezas. A busca pelas práticas da rezadeira ainda está presente na realidade desta comunidade, porém, de forma menos frequente ao longo dos anos. A hierarquização dos problemas foi realizada com base em critérios: políticos, de governabilidade, eficácia e custo do adiamento, que atribuíram valores (alto, médio, baixo) para cada categoria. A pouca credibilidade dos profissionais em relação às práticas populares de saúde foi identificada como o principal problema, seguido pela falta de integração de saberes. O grupo propôs que profissionais e serviços oferecessem mais opções não farmacológicas. Na análise da Matriz GUT, a falta de credibilidade dos profissionais foi classificada como o problema mais urgente e grave, seguido pela falta de integração de saberes.

Aprendizado e Análise Crítica
Entendemos que, entre outras situações de iniquidade, a população do campo sofre com dificuldade de acesso a bens e serviços de saúde, ocasionada por distâncias e barreiras geográficas existentes no território, podendo impedir ou adiar sua chegada ao serviço de saúde. Tais dificuldades podem promover o uso de terapias alternativas. Nesta experiência dialogamos, enquanto enfermeira com os usuários e ACS sobre as práticas populares de saúde dentro do território rural no interior de estado do Ceará. Identificamos que o a necessidade de reconhecermos o protagonismo do sujeito na melhoria da sua qualidade de vida, objetivando fomentar o diálogo entre os diversos saberes. Para promover a saúde integral da população do campo é importante que os profissionais de saúde reconheçam e valorizem o saber popular. A PNSIPCFA enfatiza essa necessidade, defendendo uma abordagem inclusiva e holística. O olhar do profissional deve ser ampliado para abraçar experiências das comunidades, fortalecendo o cuidado de forma mais eficaz e culturalmente sensível.

Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política nacional de práticas integrativas e complementares no SUS: atitude de ampliação de acesso/Ministério da Saúde. 2.ed.Brasília: Ministério da Saúde,2015.96p.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta/Ministério da Saúde. 1.Ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde,2013.48p.
ROCHA, L. S. R.; AQUILANTE, A. G. Práticas populares de saúde:prevalência de utilização em um distrito do interior do estado de São Paulo.Rev. Ed. Popular, Uberlândia,Edição Especial,p.29-47,jul.2020.
RÜCKERT, B.; CUNHA, D. M.; MODENA, C. M. Saberes e práticas de cuidado em saúde da população do campo:revisão integrativa da literatura.Interface comunicação, saúde e educação.2018;v.22, n.66,p.903-914.


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