50840 - INSERÇÃO DO FARMACÊUTICO NAS REUNIÕES DO CONSELHO GESTOR INTERSETORIAL EM UNIDADE DE ATENÇÃO PRIMÁRIA: UMA ABORDAGEM DE GESTÃO PARTICIPATIVA EM SAÚDE ISABELLA CRISTINA LOPES DE SOUSA - CENTRO DE SAÚDE ESCOLA GERMANO SINVAL FARIA/ENSP/FIOCRUZ, ANA CAROLINE NUNES BASTOS - CENTRO DE SAÚDE ESCOLA GERMANO SINVAL FARIA/ENSP/FIOCRUZ, JANAINA RANGEL DE LIMA PORTO PINTO - CENTRO DE SAÚDE ESCOLA GERMANO SINVAL FARIA/ENSP/FIOCRUZ, JANINE NASCIMENTO DOS SANTOS - CENTRO DE SAÚDE ESCOLA GERMANO SINVAL FARIA/ENSP/FIOCRUZ
Contextualização O Sistema Único de Saúde (SUS) é amplamente considerado uma expressão da democracia, nascido de uma luta popular e de um movimento intelectual que unificou interesses sociais no campo da saúde. Embora a conquista da classe trabalhadora seja inegável, é essencial lembrar que essa vitória se deu em uma sociedade capitalista, o que torna impossível ignorar a luta de classes nesse contexto. As transformações na Assistência Farmacêutica refletem as contradições das políticas públicas nacionais, que, ao tentar avançar no direito universal, integral e equitativo à saúde, também precisam enfrentar os interesses privatistas para serem implementadas.
Segundo Marx e Engels (2007), “trabalho é a forma como o ser humano opera sobre a natureza, transforma-a para suprir suas necessidades e, nesse processo, também se modifica, transformando sua própria natureza”. Em vista disso, a inserção do Farmacêutico - que tradicionalmente desempenha um papel tecnicista nos serviços de saúde - no Conselho Gestor Intersetorial, é elementar para explorar as questões pertinentes aos determinantes sociais do território, ampliando as possibilidades de colaboração na qualidade de vida da população atendida na Atenção Primária à Saúde. Além disso, essa participação contribui para o Uso Racional de Medicamentos, e possibilita a construção de subsídios relevantes para caminhos emancipadores na saúde coletiva.
Descrição da Experiência Em uma unidade de Atenção Primária à Saúde, situada em um bairro periférico na zona norte de uma grande cidade, a Farmacêutica do serviço de Gestão da Qualidade começou a participar das reuniões do Conselho Gestor Intersetorial do território. Esses encontros, realizados mensalmente, são importantes, reunindo uma diversidade de profissionais de saúde, representantes da comunidade e gestores locais, promovendo um espaço de diálogo e colaboração.
Ao longo das reuniões do Conselho Gestor Intersetorial, tornou-se evidente a insatisfação dos usuários com o Serviço de Farmácia da instituição, devido às frequentes reclamações e notificações de incidentes relacionados ao setor. Reconhecendo a necessidade de aprimorar a qualidade dos serviços oferecidos e garantir o direito constitucional da população ao acesso aos medicamentos essenciais na atenção básica, a Farmacêutica decidiu adotar uma postura reflexiva sobre o estabelecimento de vínculos entre trabalhadores e usuários.
Para abordar essa questão, foi elaborado um relatório detalhado, fundamentado nas reivindicações dos conselheiros. Esse relatório foi apresentado à Coordenação do Cuidado e à gestora administrativa da unidade, com a exigência de implementação de medidas técnicas, operacionais e educativas imediatas no Serviço de Farmácia, configurando uma maneira plural e inclusiva para melhorar a qualidade das decisões.
Objetivo e período de Realização O objetivo desta experiência foi aprimorar a Gestão do Cuidado e da Assistência Farmacêutica no território, promovendo práticas de saúde integradas que visem à universalidade do cuidado, a gestão participativa e à equidade no sistema de saúde. A experiência foi conduzida ao longo de quatro meses, de outubro a fevereiro de 2024, permitindo uma análise abrangente dos impactos dessa participação.
Resultados A integração do Farmacêutico nas discussões e decisões do conselho promoveu uma gestão mais participativa e colaborativa. As recomendações do relatório apresentado à Coordenação do Cuidado e à Gestão Administrativa da unidade, resultaram na reestruturação do Serviço de Farmácia.
A voz dos usuários foi amplificada, garantindo que suas necessidades e preocupações fossem devidamente consideradas e atendidas na medida do possível. Houve uma redução significativa no número de reclamações e incidentes relacionados ao Serviço de Farmácia, assim como, melhoria na disponibilidade e no acesso aos medicamentos essenciais, assegurando o direito constitucional da população.
A relação entre o Farmacêutico e a comunidade foi fortalecida, resultando em uma maior confiança e cooperação, além de promover um ambiente de cuidado mais humanizado e inclusivo.
A participação do Farmacêutico nas reuniões do Conselho Gestor Intersetorial tornou-se regular e contribui significativamente para a transformação do Serviço de Farmácia, destacando a importância da gestão participativa e integrada na saúde coletiva.
Aprendizado e Análise Crítica A inserção do Farmacêutico no Conselho Gestor Intersetorial foi uma iniciativa pioneira na Gestão do Cuidado. A inclusão de novos atores nas tomadas de decisão não apenas democratizou o processo de Assistência Farmacêutica, como também promove uma nova forma de refletir sobre a saúde e aprimorar os mecanismos de uma tecnologia social a serviço do SUS.
Essa experiência demonstra como a gestão participativa desafia hierarquias estabelecidas e promove uma distribuição mais equitativa do poder dentro do sistema de saúde. Destaca a importância de políticas públicas que incentivem a participação ativa de todos os profissionais de saúde nos processos decisórios, promovendo a integralidade e a equidade na atenção à saúde. A relevância da gestão compartilhada é reafirmada como basilar para construir um SUS efetivo, que dialoga com um processo civilizatório, desafiando estruturas de poder centralizadas e opressoras.
Em uma sociedade dividida em classes, qual é o papel do farmacêutico? Ser um agente de transformação do cuidado ou do capital? Essa iniciativa explora as fronteiras e possibilidades de fortalecer as estruturas de governança territorial democrática em territórios vulneráveis, como estratégia para promover a saúde e combater as iniquidades no acesso, uso e oferta dos serviços na Atenção Primária à Saúde. Trata-se de uma tentativa de superar as contradições impostas pelo capital.
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BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 2017.
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