53243 - A EXPERIÊNCA DA MULTISSETORIALIDADE NA CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA EM SAÚDE PARA PESSOAS VIVENDO EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA NO ESTADO DO CEARÁ MARTA MARIA CAETANO DE SOUZA - SESA, ISABELLA COSTA MARTINS - SESA, MARIA IVONE FERREIRA MELO DO NASCIMENTO - SESA, CLAUDIA MARIA ALVES ARAÚJO - SESA, LUCIENE ALICE DA SILVA - SESA
Contextualização A violência é um fenômeno mundial e crescente a cada ano. No Brasil essa realidade não é diferente, percebendo-se que a violência emerge de problemas diversos, envolvendo fatores de âmbito social, cultural, religioso, sócio- econômico, político, trazendo consequências impactantes e minando as relações na sociedade. A violência, segundo o Ministério da Saúde é definida como todo e qualquer ato ou ameaça, com emprego de força física e que causa sofrimento, morte ou dano psicológico. Acredita- que todas as pessoas que vivem em sociedade podemos sofrer ou praticar violência nas diferentes formas, assim é importante que cuidemos uns dos outros, pois a violência é um grave problema de saúde pública podendo causar distúrbios ao o corpo e à mente. Diante do panorama atual em que vivemos é imprescindível o conhecimento a respeito das práticas voltadas para atenção em saúde, em todos os seus níveis , observando o processo de construção multidisciplinar. A complexidade dos eventos que culminam com a violência demandam também respostas complexas, envolvendo conhecimento técnico e sensibilidade, experiências vivenciadas e um trabalho multidisciplinar com a participação de todos. Aliado a tudo isso traz- se a importância de se instituir a Política Pública em saúde, que além de instrumento de gestão, é também um norteador para ações de promoção, proteção e recuperação da saúde.
Descrição da Experiência A Coordenadoria de Gestão em Cuidado Integral à Saúde ( COGEC) da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará por meio do grupo de trabalho, conduziu o processo para a construção da Política Pública em Saúde para pessoas em situação de violência. No intuito de melhor construir a política, foram elaborados três eventos em 2023, com diversos profissionais da saúde e demais atores no atendimento às pessoas em situação de violência. Em cada evento foram convidados profissionais da saúde das Superintendências do estado, seus respectivos municípios e das unidades de atendimento em saúde. Em um dos eventos os participantes foram divididos nos seguintes eixos: eixo criança, adolescente e jovem, eixo mulheres e eixo da diversidade, compondo esse eixo o grupo LGBTQIA + e grupos específicos abrangendo população de rua, indígenas, quilombolas, ciganos. As perguntas foram elaboradas pelo grupo de trabalho da COGEC seguindo a metodologia da árvore de problemas e a discussão no evento foi direcionada aos participantes com ênfase em quatro perguntas, ressaltando os desafios enfrentados nos atendimentos às pessoas em situação de violência e as soluções propostas. As respostas obtidas por eixo foram analisadas verificando em percentual a representatividade de cada uma, sendo possível dessa forma identificar os desafios e pontuar as possíveis soluções para a melhoria dos atendimentos
Objetivo e período de Realização Proporcionar por meio da experiência multissetorial a troca de saberes e de vivências dos profissionais em saúde, que atendem e acompanham vítimas de violência para subsidar o processo de construção da Política Pública em Saúde para pessoas vivendo em situação de violência no estado do Ceará. Esse processo de experiências e troca de saberes foi realizado durante 3 diferentes eventos que ocorreram no ano de 2023.
Resultados No eixo de atendimento às crianças, adolescentes e jovens, os desafios mais frequentes foram: ausência de profissionais, ausência de fluxo de atendimento nas unidades, demora no atendimento e violência territorial. As soluções sugeridas foram: qualificação profissional, atendimento humanizado, definir protocolo unificado em toda rede assistencial e trabalho multiprofissional. No eixo mulher, o desafio mais relatado foi ausência de linha de cuidado em saúde mental para a mulher em situação de violência e violência sexual, fragilidade no acolhimento nas unidades, dificuldade no encaminhamento na rede de saúde e o medo em procurar a unidade, e a solução mais recomendada foi ampliação da rede de saúde mental e capacitação profissional. No eixo diversidade o maior desafio foi ausência da rede de atendimento aos grupos de pessoas LGBTQIA+ e a falta de comunicação entre as unidades de atendimento, associado à homofobia, transfobia, sexismo e racismo por parte dos profissionais de saúde e como solução a necessidade de formação para todos os profissionais voltada para a promoção da cultura de paz com criação de políticas de saúde com visão mais ampliada para as populações específicas.
Aprendizado e Análise Crítica Sabe-se que a violência é um fenômeno multifatorial de grande impacto para a sociedade, sequelando crianças, jovens e mulheres, gerando adultos com dificuldades nas relações sociais, na aceitação da individualidade, causando prejuízo nas suas potencialidades. Analisar a realidade em que vivemos atualmente é fundamental para compreensão das limitações e fragilidades no atendimento à essas pessoas. O trabalho multissetorial é imprescindível para conhecimento da realidade, e a participação dos profissionais que encontram-se no atendimento à essas pessoas traz uma abordagem realística dos desafios e de como superá-los, melhorando o acolhimento, encaminhamento e cuidado. Pessoas sob violência encontram-se fragilizadas e precisam não somente do atendimento das lesões no corpo mas principalmente do cuidado amplo e continuado em toda a rede de saúde. Concluiu-se que o trabalho multissetorial constitui-se em uma importante ferramenta na construção do processo de melhoria da saúde e da vida das pessoas que tem sua liberdade violada enquanto seres humanos. Comprovou-se que a partir desse processo multissetorial, envolvendo diferentes atores com suas potencialidades, que estamos no caminho certo para se construir uma Política Pública realmente voltada para o cuidado e atenção à saúde da população, uma vez que a política é feita por um grupo de pessoas, mas ela tem que servir à todos
Referências BRASIL, Ministério da Saúde. Portal Sinan. https://portalsinan.saude.gov.br/violencia-interpessoal-autoprovocada
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Encontro de Cuidados e Proteção às Pessoas em Situação de Violência,SESA. Ceará, 2023. https://www.saude.ce.gov.br/2023/10/05/
BRASIL, MS, Impacto da Violência na saúde dos brasileiros.Serie B Textos Básicos emSsaúde . Distrito Federal, Brasilia, 2005.
LIMA, M.A.D.S.et al . Atendimento aos usuários em situação de violência: concepções dos profissionais de unidades básicas de saúde. Revista Gaúcha em Enfermagem Rev. Gaúcha Enferm. 30 (4) • Dez 2009
Manual Para Atendimento Às Vítimas De Violência Na Rede De Saúde Pública Do DF. Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, 2009.
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